Análise: O que sobrará do PSDB?
Afastamento de Tasso Jereissati é lance mais agressivo da guerra interna que rachou o partido
Paulo Celso Pereira - O Globo
A decisão do senador Aécio Neves de afastar Tasso Jereissati da presidência do PSDB
foi o mais agressivo lance da guerra interna que rachou o partido desde
que vieram à tona as gravações da JBS. A revelação dos áudios de
Joesley Batista dividiu tucanos em dois campos definidos: de um lado, os
que defendiam a manutenção do alinhamento ao governo e o suporte a
Aécio, do outro, os que votavam pela investigação do presidente da
República e que tentavam isolar-se ao máximo do senador.
Nos
últimos cinco meses, Tasso Jereissati tentou recolocar a legenda em
contato com os anseios das ruas — após observar o enorme desgaste da
imagem da sigla.
Ironicamente, ele foi escolhido pelo próprio Aécio para
assumir interinamente a presidência após o caso JBS tornar inviável a
continuidade do mineiro à frente da legenda. O ponto de inflexão da
gestão Tasso foi o mea-culpa que fez em agosto, nos dez minutos do
programa partidário de televisão, uma inovação entre as legendas
brasileiras atingidas pela Lava-jato.
Desde então, no entanto, sua retirada do cargo começou a ser traçada.
Alvo do Supremo e do Conselho de Ética do Senado, Aécio evitou por
meses fazer o movimento brusco e desgastante. Tasso, sabedor do capital
político externo que angariava, cansou de provocar, dizendo que seu
cargo estava à disposição caso o ex-presidenciável quisesse retomar o
comando da sigla.
Hoje,
já aliviado do risco de o Supremo afastá-lo do mandato e sem a pressão
do Conselho de Ética por trás, Aécio desferiu o ataque que há muito era
desenhado entre os governistas tucanos. No lugar de Tasso, colocou o
ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, ligadíssimo ao senador José
Serra, ex-ministro de Temer e um dos principais defensores da manutenção
da aliança com o PMDB.
Os chamados "cabeças pretas", que lideram a ala independente da
legenda, dizem que o afastamento de Tasso foi uma articulação direta
entre Aécio, o presidente Michel Temer e os ministros tucanos. A ala
aecista, por sua vez, justifica a decisão, destacando que não fazia
sentido Tasso seguir no comando da legenda após ser lançado, ontem,
simultaneamente às presidências do partido e da República.
À distância, o governador Geraldo Alckmin apenas observa o incêndio
de Brasília consumir adversários recentes e antigos. Se é verdade que
Goldman sempre foi mais próximo de Serra do que do governador paulista, é
igualmente verdade que o novo presidente tucano tem como inimigo
figadal hoje o prefeito João Doria — até o momento, único adversário de
peso contra Alckmin na disputa pela candidatura presidencial tucana.
A retirada de Tasso da presidência do partido também pode interromper o momentum do
cearense dentro da legenda, que levou o senador Cássio Cunha Lima (PB) a
lançá-lo à Presidência da República nesta quarta-feira.
Faltam exatos 30 dias para a eleição do novo presidente do PSDB.
Trata-se de um período decisivo para o futuro da legenda. Hoje, apenas
Alckmin parece, em alguma medida, ser um ponto de convergência da
maioria dos tucanos. Resta saber se ele finalmente decidirá entrar em
campo na construção da unidade da legenda ou se permanecerá à distância
para ver quem irá assomar dos escombros da guerra interna. Isso, é
claro, se ao final sobrar algo daquele partido que polarizou com o PT a
disputa pelo comando do país no último quarto de século.
Nenhum comentário:
Postar um comentário