Estava escrevendo no meu escritório e vi a menina rodeando com algo nas mãos. Não disse nada, mas ela passa várias vezes na frente da porta, que está aberta. Até o momento que eu a chamei e perguntei o que ela queria. Ela é uma criança educada, que vive aqui e é bem retraída (talvez seja por isso que nós nos identificamos). Perguntei:
- O que foi menina?
Ela disse:
- Olha o que fizeram para o escritor do seu país.
Estendeu-me um exemplar do jornal La Repubblica que contava sobre a construção de um jardim-labirinto feito em Veneza (La Sereníssima) em homenagem à Jorge Luís Borges, o maior escritor latino americano do século passado.
O problema é que ele é argentino.
Eles confundem Brasil e Argentina (acham que tudo é a mesma coisa).
Deu-me o jornal e saiu correndo (típico de uma criança de dez anos).
Já que tinha sido interrompido, resolvi ler o jornal e ele reportava sobre a contrução de um jardim de dois quilômetros, em plena cidade de Marco Polo, na ilha de San Giogio Maggiore. Leio que o jardim foi feito pelo arquiteto inglês Randole Coate e foi financiado pela Fundação Cini. Foi feito em memória de um homem admirável, que morreu vinte e cinco anos atrás. Se recusou a continuar a morar na Argentina e era mais europeu do que latino. Lembro-me que quando eu tive idade e condições financeiras de visitá-lo, ele não morava mais na pátria onde ele nasceu e que amava tanto.
Leio também que o jardim se assemelha a um labirinto, fazendo referência a um conto do mestre chamado "El Jardin de los Senderos que se Bifurcan ( O jardim das veredas que se bifurcam), que consta no livro Ficções (1944).
Nessa época ele já tinha a visão bem afetada pelo problema que o tornou cego em 1955 aos 55 anos.
A sua companheira foi o seu braço direito (era a sua secretária) e trancrevia tudo para o papel aquilo que ele ditava;
Nesse Jardim há um corrimão de madeira que acompanha o trajeto de todos que visitamos seus três mil e duzentos arbustos que o formam. Nesse corrimão, está gravado em braile o conto que dá o nome do jardim.
Quando nós chegaremos a fazer algo semelhante no Brasil?
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