sábado, 19 de setembro de 2015

Barack Obama considera a Síria um atoleiro que desafia soluções americanas
Peter Baker - NYT
Pablo Martinez Monsivais/AP
Barack Obama há muito considera a Síria um atoleiro que desafia soluções americanas
Barack Obama há muito considera a Síria um atoleiro que desafia soluções americanas
Segundo qualquer medida, o esforço do presidente Barack Obama para treinar um exército de oposição sírio para combater o Estado Islâmico em solo tem sido um imenso fracasso. Os militares reconheceram nesta semana que apenas quatro ou cinco combatentes treinados pelos Estados Unidos estão de fato lutando.
Mas a Casa Branca diz que não é sua culpa. Segundo ela, o dedo deve ser apontado não para Obama, mas para aqueles que tentaram pressioná-lo a tentar treinar os rebeldes sírios –-um grupo que, além dos republicanos no Congresso, inclui por acaso a ex-secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton.
Em comunicados nesta semana, após a revelação dos resultados medíocres, Josh Earnest, o secretário de imprensa da Casa Branca, notou repetidamente que Obama sempre foi cético a respeito do treinamento dos rebeldes sírios. Os militares estavam corretos ao concluírem que "foi uma tarefa mais difícil do que presumíamos e precisamos promover mudanças nesse programa", disse Earnest. "Mas acho que também é hora de nossos críticos confessarem. Eles estavam errados."
Na prática, Obama está argumentando que agiu de modo relutante segundo a vontade daqueles que diziam que essa era a forma de combater o Estado Islâmico, mas que nunca quis fazê-lo e que agora sua posição original foi justificada. O argumento "eu não disse?", é claro, presume que a ideia de treinar os rebeldes era falha e não que foi iniciada tarde demais e executada de forma ineficaz, como mantêm os críticos.
De qualquer forma, ele ressalta a sensibilidade da Casa Branca diante da ampliação da catástrofe síria. Com mais de 200 mil mortos na guerra civil, uma onda de refugiados tomando a Europa e a Rússia agora enviando armas e tropas, o presidente se vê diante de um problema geopolítico e humanitário que provavelmente não será resolvido antes que ele deixe o cargo, em 16 meses.
Obama há muito considera a Síria um atoleiro que desafia soluções americanas, e assessores esperam impedir que ele seja responsabilizado por algo que, segundo argumentam, ele nunca teve o poder de consertar. Mas com as imagens de crianças afogadas e tanques russos, o presidente se vê sob crescente ataque por múltiplas direções.
Os russos o acusam de ter agravado a crise, ao se opor ao governo autocrático do presidente Bashar Assad e sua luta contra terroristas como o Estado Islâmico, ou EI. Os republicanos o acusam de passividade e irresponsabilidade, de ficar sentado enquanto o conflito se espalha por toda a região.
Mas não há consenso entre os críticos sobre o que deve ser feito. Durante os debates presidenciais da noite de quarta-feira, os candidatos republicanos estavam divididos entre aqueles que defendem um maior envolvimento dos Estados Unidos e aqueles que sugerem um recuo e deixar que os sírios lutem entre si.
"Eu alertei de modo aberto repetidas vezes que se não encontrássemos elementos moderados em solo que pudéssemos equipar e armar, esse vácuo seria preenchido por jihadistas radicais", disse o senador Marco Rubio, da Flórida. "Bem, o presidente não deu ouvidos, o governo não agiu e foi exatamente isso o que aconteceu. Foi por isso que o EI cresceu."
O empresário Donald J. Trump e o senador Rand Paul de Kentucky foram na outra direção, abraçando o não envolvimento. "A Síria é uma confusão", disse Trump. "Por que combateríamos o EI na Síria? Vamos deixar que lutem entre si e pegar o que restar."
Paul acrescentou: "Às vezes ambos os lados de uma guerra civil são maus, às vezes a intervenção nos deixa menos seguros".
A ideia de reforçar os rebeldes sírios foi debatida nos primórdios da guerra civil, que teve início em 2011. Clinton, juntamente com David H. Petraeus, o então diretor da CIA, e Leon E. Panetta, o então secretário de Defesa, apoiavam armar as forças de oposição, mas o presidente temia um envolvimento profundo na guerra de outros, após a experiência sangrenta no Iraque.
Mas em 2014, após o Estado Islâmico tomar vastas áreas da Síria e do Iraque, Obama mudou de ideia e deu início a um programa de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2 bilhões) para treinar e armar rebeldes selecionados para combater o Estado Islâmico, não o governo Assad.
O programa foi financiado em dezembro e teve início em maio, com a meta de treinar 5.400 no primeiro ano, mas os oficiais militares disseram que apenas 100 a 120 foram de fato treinados. Os primeiros 54 a se formarem sofreram um ataque devastador por uma afiliada da Al Qaeda em julho, forçando o Pentágono a elaborar planos para reformar o programa, posicionando um número maior de combatentes em partes mais seguras da Síria.
Falando em uma audiência no Senado na quarta-feira, o general Lloyd J. Austin 3º, chefe do Comando Central dos Estados Unidos, reconheceu que apenas quatro ou cinco rebeldes treinados estão combatendo no momento.
"Temos que reconhecer que isso foi um fracasso total", disse o senador Jeff Sessions, republicano do Alabama, em resposta. "É um fracasso. Gostaria que não tivesse sido, mas isso é fato. É hora... na verdade, já passou da hora de reagir diante desse fracasso."
Os oficiais militares disseram que os poucos rebeldes treinados ainda podem ser úteis em papéis específicos, como requisitar ataques aéreos americanos. Mas os militares tiveram melhores resultados trabalhando com as forças curdas, que preencheram o espaço dos sírios treinados pelos americanos em solo, primeiro em Sinjar, depois em Kobani e, mais recentemente, em um trecho da Síria ao sul da fronteira turca, do Rio Eufrates até a fronteira iraquiana.
A Casa Branca praticamente lavou as mãos em relação ao programa de treinamento após o depoimento de Austin.
"É verdade que considerávamos este um desafio difícil", disse Earnest. "Mas também é verdade que muitos de nossos críticos tinham proposto essa opção específica como sendo basicamente a cura para todos os desafios políticos que estamos enfrentando na Síria no momento. Isso é algo em que este governo nunca acreditou, mas é algo pelo qual nossos críticos terão que responder."
Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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