País se nega a acolher muçulmanos sob justificativa de diferenças religiosas e dificuldades para integração
Recente apelo feito pelo papa Francisco em favor dos imigrantes não parece ter tido efeito no Leste Europeu
LEANDRO COLON - FSP
LEANDRO COLON - FSP
A resistência do governo polonês ao plano de cotas da União Europeia
para abrigar refugiados vai além da questão política e expõe uma
controvérsia religiosa que contribui para a crise migratória no
continente.
Apesar da ação de grupos de extrema direita, é a força da Igreja
Católica que influencia e sustenta a posição das autoridades do país.
O recente apelo do papa Francisco para que as paróquias da Europa abram suas portas aos refugiados, em sua maioria muçulmanos, parece distante de ter efeito na Polônia, uma das maiores comunidades católicas do mundo (quase 90% de fiéis), e também em outros países do Leste Europeu, como a Eslováquia, com 70% de católicos.
Em entrevista à Folha, Pawel Keska, porta-voz da ONG Cáritas no país, organismo internacional da igreja, admite a dificuldade em atender ao pedido papal.
"O apelo do papa é uma chamada de consciência, não pode ser tratado como ordem. O povo polonês nunca teve muito contato com os muçulmanos, não os conhece. Há um temor à reação deles, já que muitos não gostam de católicos", diz Keska.
A Cáritas é quem cuidaria de uma eventual ação social para abrigar os refugiados em 5.000 paróquias na Polônia.
"As paróquias estão abertas se o governo pedir, mas não estamos certos de que os refugiados devem viver juntos à comunidade católica. Tememos a reação dos muçulmanos. Por exemplo, nossas camas têm uma cruz. Eles vão aceitar viver com cruzes por todos os lugares?", diz.
Ele argumenta que o fato de a maioria dos refugiados sírios buscar a Alemanha como destino deve ser levado em conta no debate: "Eles não estão interessados na Polônia. Forçá-los a virem para cá é também violar sua liberdade", ressalta.
PLANO ALEMÃO
O governo alemão, que prevê receber 1 milhão de pedidos de asilo neste ano, é o principal fiador do plano de cotas para dividir 160 mil refugiados pela UE. Inicialmente, o bloco previa acolher apenas um quarto deste total.
A chanceler alemã, Angela Merkel, argumenta que todos os membros do bloco precisam colaborar para solucionar a crise. Pelo plano, a Polônia receberia até 12 mil, menos de 10% do total.
A última proposta da UE, que considera apenas 120 mil refugiados, previa cerca de 9.300. A premiê polonesa, Ewa Kopacz, porém, diz que só aceita 2.000 e de preferência cristãos, minoria no contingente que chega à Europa.
O discurso oficial do primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, por exemplo, é que prefere receber cristãos porque seu país não tem uma mesquita para ajudar na integração dessas pessoas.
"A retórica dos principais políticos contra aceitar refugiados no plano de realocação tem sido perturbadora e com uma linguagem de intolerância", lamenta Andrew Stroehlein, diretor da Human Rights Watch na Europa.
"Há uma necessidade de solidariedade por parte da UE que infelizmente está fazendo falta", acrescenta ele.
Um grupo de extrema direita, "Não Queremos Muçulmanos na República Tcheca", ganha notoriedade naquele país, cujo governo também é contrário às cotas. No dia 12, cerca de 10 mil pessoas foram às ruas de Varsóvia, na Polônia, ligadas a um movimento semelhante.
A postura de Eslováquia, Polônia e República Tcheca se soma ao comportamento agressivo do governo húngaro, liderado pelo premiê conservador Viktor Orban, de repelir a chegada de refugiados, com cenas de violência na fronteira com a Sérvia.
Pesquisas apontam que dois terços dos húngaros são contrários à política de acolher essas pessoas.
Sem consenso, os países da UE patinam para chegar a um acordo, enquanto a crise se agrava a cada dia. Uma nova reunião de líderes foi marcada para 8 de outubro.
A ONU estima que pelo menos 442 mil pessoas tenham cruzado o Mediterrâneo somente neste ano –dessas, 2.900 teriam morrido, no que já é considerado o maior fluxo de refugiados desde a Segunda Guerra (1939-1945).
O recente apelo do papa Francisco para que as paróquias da Europa abram suas portas aos refugiados, em sua maioria muçulmanos, parece distante de ter efeito na Polônia, uma das maiores comunidades católicas do mundo (quase 90% de fiéis), e também em outros países do Leste Europeu, como a Eslováquia, com 70% de católicos.
Em entrevista à Folha, Pawel Keska, porta-voz da ONG Cáritas no país, organismo internacional da igreja, admite a dificuldade em atender ao pedido papal.
"O apelo do papa é uma chamada de consciência, não pode ser tratado como ordem. O povo polonês nunca teve muito contato com os muçulmanos, não os conhece. Há um temor à reação deles, já que muitos não gostam de católicos", diz Keska.
A Cáritas é quem cuidaria de uma eventual ação social para abrigar os refugiados em 5.000 paróquias na Polônia.
"As paróquias estão abertas se o governo pedir, mas não estamos certos de que os refugiados devem viver juntos à comunidade católica. Tememos a reação dos muçulmanos. Por exemplo, nossas camas têm uma cruz. Eles vão aceitar viver com cruzes por todos os lugares?", diz.
Ele argumenta que o fato de a maioria dos refugiados sírios buscar a Alemanha como destino deve ser levado em conta no debate: "Eles não estão interessados na Polônia. Forçá-los a virem para cá é também violar sua liberdade", ressalta.
PLANO ALEMÃO
O governo alemão, que prevê receber 1 milhão de pedidos de asilo neste ano, é o principal fiador do plano de cotas para dividir 160 mil refugiados pela UE. Inicialmente, o bloco previa acolher apenas um quarto deste total.
A chanceler alemã, Angela Merkel, argumenta que todos os membros do bloco precisam colaborar para solucionar a crise. Pelo plano, a Polônia receberia até 12 mil, menos de 10% do total.
A última proposta da UE, que considera apenas 120 mil refugiados, previa cerca de 9.300. A premiê polonesa, Ewa Kopacz, porém, diz que só aceita 2.000 e de preferência cristãos, minoria no contingente que chega à Europa.
O discurso oficial do primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, por exemplo, é que prefere receber cristãos porque seu país não tem uma mesquita para ajudar na integração dessas pessoas.
"A retórica dos principais políticos contra aceitar refugiados no plano de realocação tem sido perturbadora e com uma linguagem de intolerância", lamenta Andrew Stroehlein, diretor da Human Rights Watch na Europa.
"Há uma necessidade de solidariedade por parte da UE que infelizmente está fazendo falta", acrescenta ele.
Um grupo de extrema direita, "Não Queremos Muçulmanos na República Tcheca", ganha notoriedade naquele país, cujo governo também é contrário às cotas. No dia 12, cerca de 10 mil pessoas foram às ruas de Varsóvia, na Polônia, ligadas a um movimento semelhante.
A postura de Eslováquia, Polônia e República Tcheca se soma ao comportamento agressivo do governo húngaro, liderado pelo premiê conservador Viktor Orban, de repelir a chegada de refugiados, com cenas de violência na fronteira com a Sérvia.
Pesquisas apontam que dois terços dos húngaros são contrários à política de acolher essas pessoas.
Sem consenso, os países da UE patinam para chegar a um acordo, enquanto a crise se agrava a cada dia. Uma nova reunião de líderes foi marcada para 8 de outubro.
A ONU estima que pelo menos 442 mil pessoas tenham cruzado o Mediterrâneo somente neste ano –dessas, 2.900 teriam morrido, no que já é considerado o maior fluxo de refugiados desde a Segunda Guerra (1939-1945).
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