O dia seguinte
Igor Gielow - FSP
BRASÍLIA - Como todo rito fúnebre, o enterro do governo Dilma-2
se dá com alguma consternação e muita fofoca. A maior das últimas diz
respeito ao que fazer com a figura da presidente reeleita montada numa
cornucópia de marquetagens.
A mentira em si não é suficiente para derrubá-la –mesmo em países mais
sérios não o é, vide o caso Bush. Mas há motivos sólidos para questionar
a permanência de Dilma, e o primeiro deles é político. Exceto que um
"deus ex machina" a salve, o desgoverno está a matar o país.
A cada passo, a mandatária se afunda na própria sombra. O pacote da
segunda passada, até aqui virtual, é eloquente: um conjunto de medidas
tímidas e inexequíveis.
Recurso último, Lula interveio para buscar salvar a criatura que carrega
seu legado. Parece tarde, ao que tudo indica, e a presença dele na área
insinua mais perspectiva de transição do que qualquer outra coisa.
Enquanto isso, a engrenagem do impeachment foi colocada para rodar pelos
suspeitos de sempre na Câmara. O PMDB apenas aguarda uma formalidade,
seja via TCU ou TSE, para embarcar. A oposição, a reboque, espera sem
ter muito o que fazer.
A Dilma, resta espernear. "Golpe!", grita, embora as emas do Alvorada
saibam que nos dias de hoje um governo cai por seus próprios deméritos.
Não estamos em 1964. O que se pode discutir é o futuro: como criar um
arcabouço para evitar que o Brasil seja tragado pela inépcia de seus
governantes?
Soluções simples e erradas abundam. Parlamentarismo é algo lógico, sim,
mas com a representação que está aí? Ah, para isso precisamos de
"reforma política".
Verdade, mas sempre que isso é evocado, temos espertezas como a decisão
do STF sobre financiamento de campanhas, motivada por populismo míope e
preconceituoso: sociedades mais avançadas respeitam seus atores
econômicos e os regulam. Bem, não vivemos numa.
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