Pauta do Congresso anula cortes propostos por Dilma
Projetos aprovados em 2015 elevam gastos em R$ 22 bilhões no próximo ano
Vetos da presidente a reajuste salarial de servidores e benefícios para aposentadorias serão analisados terça
RANIER BRAGON/MARIANA HAUBERT - FSP
Apesar de cobrar reduções maiores nas despesas do governo, o Congresso
aprovou em 2015 projetos que, se entrarem em vigor, levarão a um gasto
extra anual de R$ 22 bilhões, que praticamente anula o corte proposto
pelo governo Dilma Rousseff para tentar equilibrar o Orçamento em 2016,
que é de R$ 26 bilhões.
Sob a liderança dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os congressistas abriram os cofres
públicos principalmente para os funcionários públicos e os aposentados.
Três dos projetos aprovados foram barrados pela caneta presidencial, mas
poderão entrar em vigor na próxima terça-feira (22), quando o Congresso
tem sessão marcada para analisar os vetos impostos por Dilma.
O Palácio do Planalto e congressistas consideram grandes as chances de a
presidente ser derrotada nessas votações, o que contribuiria para
aumentar as desconfianças sobre sua capacidade de reequilibrar as contas
públicas.
Um dos grandes temores do Executivo é o projeto que dá reajuste salarial
médio de 59,5% aos servidores do Judiciário nos próximos quatro anos. O
impacto previsto pelo Planalto é de R$ 25,7 bilhões até 2018 e de R$ 10
bilhões por ano daí em diante.
Os servidores fizeram protestos barulhentos no Congresso nos últimos
meses e prometem voltar na terça. Para que um veto de Dilma seja
derrubado é preciso o voto de, pelo menos, 257 dos 513 deputados e 41
dos 81 senadores.
Os partidos que dão sustentação a Dilma no Congresso têm no papel número
suficiente para evitar uma derrota, mas, na prática, sua fidelidade foi
corroída pela baixíssima popularidade da presidente e pelas trombadas
políticas dos últimos meses.
Outros dois projetos da pauta-bomba, vetados por Dilma, são o que
estende a todos os aposentados a política de valorização do salário
mínimo e o que cria uma alternativa ao chamado fator previdenciário,
mecanismo que reduz o valor de aposentadorias precoces. A primeira
medida, por si só, acarretaria um custo extra de R$ 135 bilhões até
2030, diz o Ministério da Previdência Social.
O líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), disse que, se o
Planalto achar que há risco de derrota, adotará a mesma estratégia
usada há mais de cinco meses: tentar esvaziar a sessão para que falte
quórum para deliberar no plenário.
"A gente não pode fazer uma votação no Congresso se a gente não tiver a
convicção do resultado com relação aos vetos", disse Delcídio. "Hoje,
uma derrubada de vetos seria muito ruim, geraria uma instabilidade
política forte."
Segundo Delcídio, a manutenção dos vetos da presidente representaria uma
grande vitória e abriria "uma avenidona aí pela frente para debater os
projetos econômicos".
PATERNIDADE
O debate sobre a paternidade da aprovação desses projetos em um momento
de aperto orçamentário divide opiniões. Reservadamente, o Palácio do
Planalto aponta o dedo para Cunha e Renan, responsáveis pela decisão de
colocar os temas em votação.
Os dois peemedebistas, porém, lembram que todos esses projetos foram
aprovados com o apoio de ampla margem da base governista, incluindo o
PT, e que o Planalto só se moveu de fato para tentar negociar quando o
caldo já estava para entornar.
Em praticamente todos os temas da chamada pauta bomba, a oposição votou
pelo aumento de gastos –inclusive a bancada do PSDB, partido que criou o
fator previdenciário, com o argumento de que a medida já havia cumprido
seu ciclo histórico.
Um dos deputados que atuaram na linha de frente pela aprovação dos
projetos pró-aposentados, Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), acha que não há
como negociar um meio-termo com o governo. "Antes da crise política e
econômica, há uma crise de credibilidade. Esse governo não tem nenhuma",
disse o deputado.
Ele afirma ter orientado as associações de aposentados a pressionar os
senadores. Em sua avaliação, na Câmara já há votos suficientes para
derrubar os vetos de Dilma.
A recente retirada do selo de bom pagador do Brasil pela agência
internacional de classificação de risco Standard & Poor's também
provocou embates entre o governo Dilma e o Congresso.
A agência rebaixou a nota brasileira apontando como justificativa a
situação frágil das contas públicas e a decisão do governo de mandar sua
proposta de Orçamento para 2016 com deficit de R$ 30,5 bilhões. Em seu
relatório, a Standard & Poor's apontou a "dinâmica fluida no
Congresso" como uma das fontes de risco para a política fiscal do
governo Dilma.
Além dos projetos da pauta bomba, o Congresso também reduziu a economia
prevista no pacote de ajuste fiscal elaborado pelo governo Dilma no
primeiro semestre.
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