Philippe Mesmer - Le Monde
Toru Yamanaka/AFP
Sem confiar no sucesso a longo prazo da "Abenomics", a Standard & Poor's rebaixou, na quarta-feira (16), a nota da dívida do Japão
A nota da dívida do Japão foi rebaixada, mas o país não parece estar
muito preocupado. O anúncio feito na quarta-feira (16) pela agência
Standard & Poor's, do rebaixamento da nota do arquipélago de AA-
para A+, não deverá alterar suas capacidades de empréstimo. A taxa sobre
os empréstimos não ultrapassava os 0,367% na quarta-feira, e o índice
Nikkei começou a sessão de quinta-feira em alta de mais de 1%.
A agência reconhece os trunfos do país. A terceira maior economia mundial continua sendo a maior credora do planeta, e possui "uma posição externa sólida, uma economia relativamente próspera e diversificada, estabilidade dos sistemas político e financeiro". A agência também destaca "a eficácia institucional" do país, "fator-chave que sustenta a nota soberana", sua "sociedade homogênea e sua coesão social", ou ainda um "forte respeito à lei", e por isso elevou de "negativa" para "estável" sua perspectiva sobre a economia japonesa.
No entanto, a S&P parece ter dúvidas quanto à política conduzida pelo governo do primeiro-ministro Shinzo Abe. "A possibilidade de ver a recuperação suficientemente forte no Japão para restaurar o apoio da economia à solvabilidade do país não para de diminuir", explica a agência. "Apesar das esperanças suscitadas no começo, a estratégia de recuperação chamada de 'Abenomics' não deverá reverter essa tendência nos dois ou três próximos anos."
O "triple A", uma lembrança distante
Essa decisão acompanha a de outras agências de classificação financeira. A Fitch Ratings rebaixou em abril a nota do Japão, algo que a Moody's já havia feito em dezembro de 2014. O "triple A" conquistado pelo arquipélago em 1971 agora é coisa do passado. A primeira agência a tirá-lo do país foi a Moody's em 1998, e a última a S&P em 2001.
O anúncio do rebaixamento ocorre em um contexto delicado. Entre abril e junho, o produto interno bruto (PIB) japonês teve uma retração de 1,2% ano a ano. O índice de preços continua próximo de zero, longe da meta de 2% estabelecida pelo Banco do Japão, e o consumo não tem melhorado.
No dia 15 de setembro, o banco central decidiu manter a política monetária atual, por considerar que a economia "continua se recuperando de forma moderada". No entanto, ele admitiu o impacto da desaceleração das economias emergentes sobre as exportações e as importações e não descarta novas medidas para sustentar a atividade econômica.
Dito isso, e apesar de uma dívida que poderia atingir 247% do PIB em 2016, segundo os cálculos do FMI (Fundo Monetário Internacional), os sucessivos rebaixamentos da nota japonesa nunca provocaram pânico, nem colapso do mercado ou da moeda.
Isso porque mais de 90% da dívida está nas mãos dos próprios japoneses. Além do BoJ, através de seu enorme programa de aquisição de ativos, os grandes bancos e o Japan Post estão financiando a compra de títulos através do grande montante da poupança da população, em torno de 1,4 quatrilhão de ienes (R$ 45 trilhões), mais de 2,5 vezes o valor do PIB. O Japão também tem grandes reservas de câmbio, de US$ 1,244 trilhão (R$ 4,8 trilhões) no final de agosto.
O endividamento japonês deverá se agravar ainda mais. Os requerimentos orçamentários para o exercício de 2016 que começa em 1º de abril atingiram o nível recorde de 102,4 trilhões de ienes. Não se sabe quais serão as decisões, mas como importantes eleições senatoriais estão previstas para julho de 2016, há poucas chances de que o governo comece a cortar gastos. Em 2015, o déficit orçamentário era de 7,7%.
Os anúncios feitos pelo governo em junho – um mês depois que o FMI fez um apelo por "ações drásticas" para melhorar o estado das finanças públicas – não convenceram. Ainda determinado a atingir o equilíbrio do balanço primário (fora o serviço da dívida) até o exercício de 2020, o governo descarta fazer grandes cortes de gastos.
Ele conta com o aumento de receitas fiscais através de um crescimento nominal de 3% em média no decorrer dos próximos cinco anos. Um aumento de 8% a 10% do imposto sobre o consumo em abril de 2017 também deverá contribuir para isso.
Contudo, como o aumento anterior do imposto sobre o consumo em abril de 2014, de 5% para 8%, havia mergulhado o arquipélago na recessão, e as reformas estruturais – a terceira "flecha" da "Abenomics" depois da política monetária e dos planos de recuperação econômica – ainda não foram feitas, o projeto governamental pouco convence.
Ao mesmo tempo, o envelhecimento da população e o lento recuo dos salários têm feito com que os japoneses comecem a usar suas reservas. A taxa da poupança pela primeira vez recuou 1,3% no exercício de 2013 encerrado no final de março de 2014.
Naohiko Baba, economista-chefe da Goldman Sachs, disse ao "New York Times" que o Japão poderia continuar fazendo empréstimos e se financiando localmente até 2020. Em seguida ele deverá apelar aos investidores estrangeiros, o que poderia "marcar o início de uma catástrofe".
A agência reconhece os trunfos do país. A terceira maior economia mundial continua sendo a maior credora do planeta, e possui "uma posição externa sólida, uma economia relativamente próspera e diversificada, estabilidade dos sistemas político e financeiro". A agência também destaca "a eficácia institucional" do país, "fator-chave que sustenta a nota soberana", sua "sociedade homogênea e sua coesão social", ou ainda um "forte respeito à lei", e por isso elevou de "negativa" para "estável" sua perspectiva sobre a economia japonesa.
No entanto, a S&P parece ter dúvidas quanto à política conduzida pelo governo do primeiro-ministro Shinzo Abe. "A possibilidade de ver a recuperação suficientemente forte no Japão para restaurar o apoio da economia à solvabilidade do país não para de diminuir", explica a agência. "Apesar das esperanças suscitadas no começo, a estratégia de recuperação chamada de 'Abenomics' não deverá reverter essa tendência nos dois ou três próximos anos."
O "triple A", uma lembrança distante
Essa decisão acompanha a de outras agências de classificação financeira. A Fitch Ratings rebaixou em abril a nota do Japão, algo que a Moody's já havia feito em dezembro de 2014. O "triple A" conquistado pelo arquipélago em 1971 agora é coisa do passado. A primeira agência a tirá-lo do país foi a Moody's em 1998, e a última a S&P em 2001.
O anúncio do rebaixamento ocorre em um contexto delicado. Entre abril e junho, o produto interno bruto (PIB) japonês teve uma retração de 1,2% ano a ano. O índice de preços continua próximo de zero, longe da meta de 2% estabelecida pelo Banco do Japão, e o consumo não tem melhorado.
No dia 15 de setembro, o banco central decidiu manter a política monetária atual, por considerar que a economia "continua se recuperando de forma moderada". No entanto, ele admitiu o impacto da desaceleração das economias emergentes sobre as exportações e as importações e não descarta novas medidas para sustentar a atividade econômica.
Dito isso, e apesar de uma dívida que poderia atingir 247% do PIB em 2016, segundo os cálculos do FMI (Fundo Monetário Internacional), os sucessivos rebaixamentos da nota japonesa nunca provocaram pânico, nem colapso do mercado ou da moeda.
Isso porque mais de 90% da dívida está nas mãos dos próprios japoneses. Além do BoJ, através de seu enorme programa de aquisição de ativos, os grandes bancos e o Japan Post estão financiando a compra de títulos através do grande montante da poupança da população, em torno de 1,4 quatrilhão de ienes (R$ 45 trilhões), mais de 2,5 vezes o valor do PIB. O Japão também tem grandes reservas de câmbio, de US$ 1,244 trilhão (R$ 4,8 trilhões) no final de agosto.
O endividamento japonês deverá se agravar ainda mais. Os requerimentos orçamentários para o exercício de 2016 que começa em 1º de abril atingiram o nível recorde de 102,4 trilhões de ienes. Não se sabe quais serão as decisões, mas como importantes eleições senatoriais estão previstas para julho de 2016, há poucas chances de que o governo comece a cortar gastos. Em 2015, o déficit orçamentário era de 7,7%.
Os anúncios feitos pelo governo em junho – um mês depois que o FMI fez um apelo por "ações drásticas" para melhorar o estado das finanças públicas – não convenceram. Ainda determinado a atingir o equilíbrio do balanço primário (fora o serviço da dívida) até o exercício de 2020, o governo descarta fazer grandes cortes de gastos.
Ele conta com o aumento de receitas fiscais através de um crescimento nominal de 3% em média no decorrer dos próximos cinco anos. Um aumento de 8% a 10% do imposto sobre o consumo em abril de 2017 também deverá contribuir para isso.
Contudo, como o aumento anterior do imposto sobre o consumo em abril de 2014, de 5% para 8%, havia mergulhado o arquipélago na recessão, e as reformas estruturais – a terceira "flecha" da "Abenomics" depois da política monetária e dos planos de recuperação econômica – ainda não foram feitas, o projeto governamental pouco convence.
Ao mesmo tempo, o envelhecimento da população e o lento recuo dos salários têm feito com que os japoneses comecem a usar suas reservas. A taxa da poupança pela primeira vez recuou 1,3% no exercício de 2013 encerrado no final de março de 2014.
Naohiko Baba, economista-chefe da Goldman Sachs, disse ao "New York Times" que o Japão poderia continuar fazendo empréstimos e se financiando localmente até 2020. Em seguida ele deverá apelar aos investidores estrangeiros, o que poderia "marcar o início de uma catástrofe".
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