Adéa Guillot - Le Monde
Emilio Morenatti/AP
Pensionistas e aposentados aguardam a abertura dos caixas automáticos de agência bancária em Atenas, na Grécia
Os eleitores gregos serão novamente convocados a votar no domingo (20), dessa vez para as eleições legislativas. Um ponto que há em comum entre todos os programas econômicos dos partidos na disputa é a necessidade de se apoiar os setores de exportações, ainda que não estejam bem definidas as medidas que devem ser tomadas. Mas, apesar da crise, o terreno grego para o empreendedorismo tem se mostrado bem fértil.
Manos Moschous é um jovem empreendedor grego satisfeito. Aos 35 anos de idade, esse apaixonado por jogos online se tornou milionário depois de vender, em fevereiro, sua startup AbZorba Games para o grupo austríaco Novomatic, especialista em jogos de alta tecnologia. "Não posso dizer por quanto vendi a AbZorba, mas foi um acordo muito interessante", declara Moschous.
Quando começou a trabalhar junto com dois
amigos na produção de jogos de cassino para celulares, no início de
2012, esse homem irrequieto sabia que tinha tido uma boa ideia. "Seis
meses depois, um 'investidor-anjo' inglês investiu 250 mil euros na
empresa, uma soma que usamos para reforçar nossa equipe de
desenvolvedores, passando de três para dez funcionários". A AbZorba
lançou seus jogos no mercado em 2013 e a partir de 2014 teve um lucro de
500 mil euros. A Novomatic aproveitou a oportunidade e comprou a
pequena startup grega. "Hoje sou gerente. Vamos chegar a 20 funcionários
aqui em Atenas até o final de 2015", comemora o rapaz.
Na Grécia, quatro fundos –-First Athens, PJ Tech Catalyst Fund, Open Fund II e Odyssey Fund-- , com financiamento de 70% pela Jeremie e 30% por capitais privados, já deram apoio a mais de 40 startups gregas nos dois últimos anos.
O boom das startups é real, mas continua sendo um nicho dentro desse difícil ambiente econômico. Será preciso esperar dois ou três anos para ver sucessos como a AbZorba se repetirem. Para Ploussas, "é preciso sobretudo conseguir seduzir os investidores privados, sejam eles antigos empreendedores de sucesso, fundos especializados em investimentos de risco ou simples pessoas comuns em busca de novos investimentos".
É impossível procurar os bancos gregos, que já estão com falta de liquidez desde 2012. "De qualquer forma, no círculo de financiamento de uma startup, o empréstimo bancário só vem muito tarde, depois do investidor-anjo ou do fundo de investimentos, pois é uma atividade de risco e os bancos não estão aí para isso", reconhece Ploussas.
Apostolos Apostolakis foi um pioneiro de sucesso no comércio virtual em meados dos anos 2000. Sua empresa E-shop foi por muito tempo líder de mercado na venda de materiais eletrônicos, em seguida ele criou a E-food e a Doctoranytime, duas plataformas de intermediação entre clientes e serviços, e começou aos poucos uma atividade de investimento-anjo. "Invisto aceitando participações nos projetos que considero promissores, e também doo meu tempo e minha experiência para ajudar essas startups a se desenvolverem", conta esse jovem de olhar atento e entusiasmo contagiante. "Os jovens gregos precisam acreditar em seu potencial, eles têm uma excelente formação e são muito competitivos fora do país, sobretudo nossos engenheiros e desenvolvedores. Eu os ajudo a se lançarem."
Se a contribuição das startups para o produto interno bruto (PIB) grego é difícil de avaliar, é em outros pontos que seus benefícios devem ser medidos. "A crise e o fim do funcionalismo público como perspectiva de carreira levaram os jovens, pelo menos os que ficaram na Grécia, a se tornarem mais criativos", afirma Ploussas. "Uma nova cultura de empreendedorismo está se instalando, e isso é muito importante para o futuro."
Isso porque as startups que dão certo são antes de tudo aquelas que se inserem em um mercado mundial e, de forma mais ampla, a Grécia que hoje vai bem, as empresas em forte crescimento, são aquelas que já antes da crise se voltaram para a exportação.
A exportação continua sendo o caminho preferido pelas empresas gregas que querem continuar a crescer, uma vez que desde o início da crise em 2010 o PIB caiu 25%. Atenas ainda não se curou das dores da crise: após um crescimento ínfimo no terceiro semestre, os analistas gregos esperam por um recuo do PIB no quarto trimestre, o que poderia anunciar uma volta à recessão depois da de 2008-2014 e os seguidos picos de desemprego.
Para Vassilios Katsos, presidente da bem-sucedida empresa farmacêutica Pharmathen, "a exportação e a internacionalização são a única via de desenvolvimento na Grécia, pois o mercado nacional está muito pequeno e em mau estado". Competitiva no mercado de medicamentos genéricos, a Pharmathen está presente em 85 países. "Não adiantaria nada desenvolver um medicamento destinado somente a 11 milhões de gregos", diz Katsos. "Durante a crise, nosso faturamento dobrou e agora se estabeleceu em 150 milhões de euros, sobretudo graças às exportações, que representam 70% do total de nossas vendas."
Em um setor totalmente diferente, a empresa Nireus Aquaculture SA, que produz peixes, também realiza dois terços de seus 200 milhões de euros de faturamento nas exportações, principalmente para a Europa, mas também para a América e a Ásia. "Trinta anos atrás, uma empresa grega conseguia sobreviver do mercado local, mas isso não acontece mais. Sobretudo depois que o consumo interno afundou com a crise", acredita Antonios Chachkalis, presidente da Nireus.
"Uma economia sadia não deve jamais contar com mais de 75% do PIB no consumo interno", concorda Ioannis Halikias. "Na Grécia chegou-se a 95%! Essa crise é uma chance de ao mesmo tempo reabilitar o mercado, mas também de forçar nossas empresas a ampliar seus horizontes."
É uma estratégia e uma aposta que a empresa Simply Greek também está tentando adotar. Lançada em 2012 por dois apaixonados por produtos mediterrâneos, essa linha de molhos e de condimentos vem fazendo cada vez mais sucesso nas exportações, com um crescimento contínuo. Em 2014 ela gerou um faturamento de 1,3 milhão de euros. "Nós começamos em plena crise apostando muito na conquista de mercados estrangeiros e funcionou", explica a fundadora Elli Nicolaou. Hoje, seus potinhos de molho "Greek Salad in a Jar" ou "Moussaka in a Jar" estão presentes em 27 países, da América até a Rússia, passando pela Europa e pela Coreia do Sul.
"Não queremos recorrer ao empréstimo nesse ambiente de crise e preferimos crescer aos poucos, mas de forma saudável", explica sorrindo Nicolaou. "Vamos simplesmente reinvestir todos nossos lucros e reduzir nossas margens."
Essa escolha tornou-se necessária pela falta de liquidez que tem caracterizado o mercado bancário nos quatro últimos anos. "Hoje esse é o principal problema enfrentado pelas empresas bem-sucedidas nas exportações, elas estão com dificuldades de financiar sua expansão", reconhece o professor Halikias.
"O Estado deve fazer mais e melhor para promover a excelência dos produtos gregos", concorda Chachlakis. Seja com financiamento de empresas ou com apoios à exportação e a empresas inovadoras, a equipe dirigente que sairá das urnas no domingo já dispõe das primeiras linhas de seu plano de ação... pelo menos é o que esperam os diretores dessas empresas em crescimento.
"Os bancos não estão aí para isso"
Ainda que uma venda tão impressionante em tão pouco tempo como essa continue sendo uma exceção, o ecossistema das startups está em plena efervescência na Grécia. Nos três últimos anos, uma dezena de incubadoras de talentos surgiram em Atenas, funcionando a pleno vapor e em grande parte custeadas por dinheiro europeu. "A grande fonte de financiamento são os fundos de joint-ventures Jeremie", explica Socratis Ploussas, presidente da Associação de Startups da Grécia e promotor da incubadora de startups InnovAthens. O dispositivo Jeremie (Joint European Resources for Micro to Medium Enterprises) permite que os países-membros da União Europeia utilizem uma parte dos recursos pagos pelos fundos estruturais da UE para financiar pequenas e médias empresas através de participações, empréstimos ou garantias.Na Grécia, quatro fundos –-First Athens, PJ Tech Catalyst Fund, Open Fund II e Odyssey Fund-- , com financiamento de 70% pela Jeremie e 30% por capitais privados, já deram apoio a mais de 40 startups gregas nos dois últimos anos.
O boom das startups é real, mas continua sendo um nicho dentro desse difícil ambiente econômico. Será preciso esperar dois ou três anos para ver sucessos como a AbZorba se repetirem. Para Ploussas, "é preciso sobretudo conseguir seduzir os investidores privados, sejam eles antigos empreendedores de sucesso, fundos especializados em investimentos de risco ou simples pessoas comuns em busca de novos investimentos".
É impossível procurar os bancos gregos, que já estão com falta de liquidez desde 2012. "De qualquer forma, no círculo de financiamento de uma startup, o empréstimo bancário só vem muito tarde, depois do investidor-anjo ou do fundo de investimentos, pois é uma atividade de risco e os bancos não estão aí para isso", reconhece Ploussas.
Apostolos Apostolakis foi um pioneiro de sucesso no comércio virtual em meados dos anos 2000. Sua empresa E-shop foi por muito tempo líder de mercado na venda de materiais eletrônicos, em seguida ele criou a E-food e a Doctoranytime, duas plataformas de intermediação entre clientes e serviços, e começou aos poucos uma atividade de investimento-anjo. "Invisto aceitando participações nos projetos que considero promissores, e também doo meu tempo e minha experiência para ajudar essas startups a se desenvolverem", conta esse jovem de olhar atento e entusiasmo contagiante. "Os jovens gregos precisam acreditar em seu potencial, eles têm uma excelente formação e são muito competitivos fora do país, sobretudo nossos engenheiros e desenvolvedores. Eu os ajudo a se lançarem."
Se a contribuição das startups para o produto interno bruto (PIB) grego é difícil de avaliar, é em outros pontos que seus benefícios devem ser medidos. "A crise e o fim do funcionalismo público como perspectiva de carreira levaram os jovens, pelo menos os que ficaram na Grécia, a se tornarem mais criativos", afirma Ploussas. "Uma nova cultura de empreendedorismo está se instalando, e isso é muito importante para o futuro."
Isso porque as startups que dão certo são antes de tudo aquelas que se inserem em um mercado mundial e, de forma mais ampla, a Grécia que hoje vai bem, as empresas em forte crescimento, são aquelas que já antes da crise se voltaram para a exportação.
A exportação continua sendo o caminho preferido pelas empresas gregas que querem continuar a crescer, uma vez que desde o início da crise em 2010 o PIB caiu 25%. Atenas ainda não se curou das dores da crise: após um crescimento ínfimo no terceiro semestre, os analistas gregos esperam por um recuo do PIB no quarto trimestre, o que poderia anunciar uma volta à recessão depois da de 2008-2014 e os seguidos picos de desemprego.
"O mercado nacional é muito pequeno"
"Nesse contexto difícil, as empresas exportadoras estão indo bem", afirma o professor Ioanis Halikias, especialista no assunto. "Nossas exportações de produtos geram em torno de 27 bilhões de euros de receita. Portanto, de um PIB de 180 bilhões, temos cerca de 17% de receitas ligadas à exportação de produtos. Mas também há as exportações de serviços que geram em torno de 12%. No total, cerca de 30% do PIB provêm de atividades de exportações."Para Vassilios Katsos, presidente da bem-sucedida empresa farmacêutica Pharmathen, "a exportação e a internacionalização são a única via de desenvolvimento na Grécia, pois o mercado nacional está muito pequeno e em mau estado". Competitiva no mercado de medicamentos genéricos, a Pharmathen está presente em 85 países. "Não adiantaria nada desenvolver um medicamento destinado somente a 11 milhões de gregos", diz Katsos. "Durante a crise, nosso faturamento dobrou e agora se estabeleceu em 150 milhões de euros, sobretudo graças às exportações, que representam 70% do total de nossas vendas."
Em um setor totalmente diferente, a empresa Nireus Aquaculture SA, que produz peixes, também realiza dois terços de seus 200 milhões de euros de faturamento nas exportações, principalmente para a Europa, mas também para a América e a Ásia. "Trinta anos atrás, uma empresa grega conseguia sobreviver do mercado local, mas isso não acontece mais. Sobretudo depois que o consumo interno afundou com a crise", acredita Antonios Chachkalis, presidente da Nireus.
"Uma economia sadia não deve jamais contar com mais de 75% do PIB no consumo interno", concorda Ioannis Halikias. "Na Grécia chegou-se a 95%! Essa crise é uma chance de ao mesmo tempo reabilitar o mercado, mas também de forçar nossas empresas a ampliar seus horizontes."
É uma estratégia e uma aposta que a empresa Simply Greek também está tentando adotar. Lançada em 2012 por dois apaixonados por produtos mediterrâneos, essa linha de molhos e de condimentos vem fazendo cada vez mais sucesso nas exportações, com um crescimento contínuo. Em 2014 ela gerou um faturamento de 1,3 milhão de euros. "Nós começamos em plena crise apostando muito na conquista de mercados estrangeiros e funcionou", explica a fundadora Elli Nicolaou. Hoje, seus potinhos de molho "Greek Salad in a Jar" ou "Moussaka in a Jar" estão presentes em 27 países, da América até a Rússia, passando pela Europa e pela Coreia do Sul.
"Não queremos recorrer ao empréstimo nesse ambiente de crise e preferimos crescer aos poucos, mas de forma saudável", explica sorrindo Nicolaou. "Vamos simplesmente reinvestir todos nossos lucros e reduzir nossas margens."
Essa escolha tornou-se necessária pela falta de liquidez que tem caracterizado o mercado bancário nos quatro últimos anos. "Hoje esse é o principal problema enfrentado pelas empresas bem-sucedidas nas exportações, elas estão com dificuldades de financiar sua expansão", reconhece o professor Halikias.
"O Estado deve fazer mais e melhor para promover a excelência dos produtos gregos", concorda Chachlakis. Seja com financiamento de empresas ou com apoios à exportação e a empresas inovadoras, a equipe dirigente que sairá das urnas no domingo já dispõe das primeiras linhas de seu plano de ação... pelo menos é o que esperam os diretores dessas empresas em crescimento.
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