segunda-feira, 20 de março de 2017

A Operação Carne Fraca levantou muitas dúvidas. Nós checamos
O Globo
A Operação Carne Fraca, deflagrada na sexta-feira pela Polícia Federal após dois anos de investigação, atingiu grandes empresas do setor de carnes e levantou dúvidas sobre a qualidade dos produtos. Reunimos aqui as informações sobre alguns dos questionamentos. 
Todos os frigoríficos citados na Operação Carne Fraca fizeram irregularidades na produção de alimentos? 

Tag_Nao_ha_confirmacao_3
A Polícia Federal não detalhou as irregularidades praticadas por cada frigorífico na Operação Carne Fraca. Citou mais genericamente alguns exemplos de fraudes na produção de alimentos, como uso de carne estragada em embutidos, "maquiagem" de carne estragada com substâncias químicas, carne com salmonela, injeção de água no frango e uso de cabeça de porco em embutidos.
Entre os frigoríficos citados pela Operação Carne Fraca, estão JBS, Big Frango, BRF, Peccin, Dagranja, Frango a Gosto, E.H. Constantino, Frigobeto, Frigomax, Frigorífero 3D, Frigorífero Argus, Frigorífero Larissa, Frigorífero Oregon, Frigorífero Rainha da Paz, Frigorífero Souza Ramos, Mastercarnes, Novilho Nobre, Primor Beef, Central de Carnes Paraense, Fábrica de Farinha de Carnes Castro, Artacho Casings, Smartmeal. A JBS é dona das marcas Friboi e Seara. A BRF é dona das marcas Sadia e Perdigão.
Pedaços de papelão foram usados nas carnes?
tag_controverso_3
A Polícia Federal afirmou que carnes eram misturadas com papelão. Mas, de acordo com nota da BRF, houve um equívoco na interpretação do áudio capturado pelos investigadores. A empresa sustenta que o funcionário gravado, ao mencionar o papelão, estava se referindo às embalagens do produto e não ao seu conteúdo. A BRF afirma ainda que esse produto é normalmente embalado em plástico e que, na frase seguinte, o empregado “deixa claro que, caso não obtenha a aprovação para a mudança de embalagem, terá de condenar o produto, ou seja, descartá-lo”. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, também afirmou que a narrativa da PF foi mal interpretada. Segundo ele, é uma “idiotice” imaginar que as empresas misturassem papelão à carne.
Ácido ascórbido é cancerígeno?

Tag_Nao_ha_confirmacao_3
Segundo apurou a BBC, a OMS diz que o ácido ascórbico pode contribuir com distúrbios gastrointestinais, cálculos renais e outros problemas de saúde se for consumido em excesso e por longos períodos de tempo, mas não há evidência de relação direta com o câncer. No despacho do juiz que autorizou as prisões na Operação Carne Fraca, há relatos de fiscais sobre uso de ácido ascórbico pelo frigorífico Peccin, para maquiar carne em mau estado.
Mas vale ressaltar que, na reprodução de um diálogo dessa empresa, que consta do mesmo documento, o interlocutor cita outra substância: o ácido sórbico, que também é usado como conservante.
Em entrevista ao "Fantástico", o fiscal sanitário Daniel Gouvêa Teixeira, que denunciou o esquema à Polícia Federal, afirmou que o frigorífico Peccin usava ácido sórbico para enganar o consumidor. Ele explicou que o ácido sórbico é um descontaminante misturado na massa dos produtos para poder diminuir a contaminação bacteriana e mascarar os odores e as características da carne.
Há recomendação oficial para parar de comer carne? 
Tag_FALSO_3
Não há recomendação oficial para suspender o consumo de carne. Especialistas avaliam que as irregularidades são pontuais e que a carne produzida no Brasil é de alta qualidade. Mas o consumidor deve olhar a qualidade dos produtos. A carne imprópria para consumo, seja bovina, suína ou de frango, apresenta normalmente cor, odor e textura alterados. Na dúvida sobre a adequação do produto, recomenda-se entrar em contato com o supermercado ou com o fabricante. Se o cheiro, a cor ou a aparência estiverem estranhos, não consuma. Em última análise, deve-se recorrer aos órgãos de defesa do consumidor e à Vigilância Sanitária.
Se o consumidor está com receio de consumir ou tem alguma dúvida sobre a procedência ou a qualidade do produto que tem em casa, pode ligar para a Vigilância Sanitária pelo 1746 e solicitar o recolhimento da peça para que seja feita análise da mercadoria.
Devo descartar os produtos que tenho em casa?

Tag_FALSO_3
Não. Em primeiro lugar, porque ainda não se sabe precisamente quais produtos estão, de fato, impróprios para o consumo. Além disso, em caso de recall é preciso ter o produto para fazer jus à indenização.
Será feito um recall das carnes?

Tag_Nao_ha_confirmacao_3
Segundo o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, os códigos de barra dos produtos dos três frigoríferos em que as fraudes foram confirmadas começarão a ser rastreados dia 20 de março. Mas não esclareceu se será feito um recall nem como ele seria realizado. A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, também notificou as empresas e pediu esclarecimentos para verificar se seria o caso de um recall.
Cabeça de porco em embutidos é uma fraude?
tag_controverso_3
A PF afirma que, nas gravações, sócios de um frigorífico falam sobre o uso de carne de cabeça de porco na produção de embutidos, o que, segundo a polícia, é proibido. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que o uso de carne de cabeça de porco, em determinados percentuais e em alguns produtos, é permitido por lei.
E a salmonela encontrada na carne da BRF, era fraude?
tag_controverso_3
Segundo a Polícia Federal, a partir de áudios da investigação, havia carnes contaminadas com salmonela em sete contêineres da companhia que seriam exportados para a Europa. No entanto, a BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão, entre outras) sustenta que o tipo de bactéria (Salmonella Saint Paul) é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura, e, portanto, não impediria a entrada do produto no continente.
O governo sabe para onde foi a carne investigada?

Tag_FALSO_3
As investigações foram conduzidas por dois anos e não é possível saber exatamente o destino da carne. Porém, segundo o governo, será possível identificar o que foi destinado para exportação. Segundo o Ministério da Agricultura, os códigos de barra dos produtos dos três frigoríficos que foram fechados começarão a ser rastreados esta semana.
Países importadores já estão suspendendo a compra de carne brasileira? 

TAG_Verdadeiro_3
A carne brasileira já sofre barreiras no exterior. A China determinou a suspensão temporária de importação de carne brasileira. A Coreia do Sul anunciou que vai banir temporariamente as importações de frango brasileiro do grupo BRF. O Chile também decidiu pelo encerramento temporário de suas importações de carne do Brasil, informou o ministério da Agricultura.
Já a Comissão Europeia pediu ao Brasil que não permita a exportação de carnes para a Europa de frigoríficos envolvidos no escândalo da Carne Fraca, segundo o jornal "Valor Econômico". Segundo o porta-voz para Saúde e Segurança Alimentar, Enrico Brivio, a região não está suspendendo a entrada da carne brasileira. "O que pedimos foi para o Brasil não continuar a exportação dos frigoríficos investigados”. Ao mesmo tempo, os países europeus vão dobrar a vigilância na checagem da carne que está chegando nos portos.
O funcionário da JBS detido trabalhava para o governo?
tag_controverso_3
As explicações são conflitantes. Flavio Cassou, funcionário da Seara (uma das marcas do JBS) detido na Operação Carne Fraca, foi apresentado pela Polícia Federal como executivo do grupo. Mas Cassou trabalharia, segundo uma nota da empresa divulgada na sexta-feira, como “médico veterinário, funcionário da companhia, cedido ao Ministério da Agricultura”. O ministro da Agricultura, em entrevista ao GLOBO, afirmou: “Não existe isso, toda a fiscalização é feita por técnicos públicos, não há possibilidade de termos pessoas privadas cedidas por empresas para fazer esse controle, sempre são servidores públicos”. A JBS, por sua vez, enviou nova nota, na qual afirma que o funcionário estaria “a serviço do governo”. O sistema de fiscalização sanitária brasileiro prevê que a verificação de qualidade das carnes é de responsabilidade da empresa. Ela realiza os testes e repassa os resultados aos servidores do Ministério da Agricultura, que são responsáveis por verificar a veracidade dos dados e se aquele produto, com aqueles índices, pode ir para as prateleiras dos supermercados.

Nenhum comentário: