segunda-feira, 27 de março de 2017

Quando até as imagens mentem: jornais tropeçam no ódio a Trump
Uma foto que passa impressão oposta aos fatos mostra como, na ânsia de atacar o presidente, a realidade é retorcida por gente que deveria fazer melhor
Vilma Gryzinski - VEJA Primeiro, vamos lembrar uma frase inesquecível de Robert Tecumseh Sherman, o general da Guerra Civil americana que tocou fogo em estados do Sul. “Se eu pudesse, fuzilaria todos os repórteres da face da terra, mas as reportagens sobre o inferno começariam a chegar antes do café da manhã”, disse o general frasista que proibiu jornalistas de o acompanharem no fronte. 
Uma invenção revolucionária da época, o telégrafo, permitia o envio de noticias quentinhas sobre a tragédia nos campos de batalha. Sherman achava que os correspondentes davam informações ao inimigo. Um jornalista que desafiou a proibição de cobrir as tropas do general foi levado a corte marcial – e absolvido. 
A historiazinha é para lembrar os percalços, e a importância, da profissão de jornalista. E também como é fácil cair em tentação quando a militância política obscurece até jornais sérios, obrigados por sua reputação não a ser imparciais, mas a manter alguma relação com a realidade. 
A foto acima foi acompanhada de uma série de variações sobre o mesmo título: “Briga irrompe em manifestação pró-Trump em praia da Califórnia”. Uma imagem vale mais do que mil palavras – inclusive quando passa uma impressão completamente diferente da realidade. 
Trumpistas de boné vermelho e musculatura avantajada parecem espancar um pobrezinho franzino que nobremente defendia o bem e a democracia. Até perceber o que aconteceu, o leitor tem que ler bastante em jornais como  o Los Angeles Times e o Guardian (que ainda teve a cara de pau de colocar o subtítulo: “Pelo menos um manifestante foi aspergido com gás de pimenta quando manifestantes anti-Trump se chocaram com defensores do presidente”). 
PÁTIO DE COLÉGIO 
Os videos dão uma ideia melhor. Um grupo reduzido de trumpistas saiu em marcha pela praia de Boca Chica. Uns gatos pingados vestidos de black blocs – roupa preta, mochila, tênis e lenço cobrindo o rosto – tentaram impedir a passagem. Uma organizadora da manifestação pró-Trump foi atacada com spray de pimenta.
Quatro dos anti-Trump, que agora nos Estados Unidos usam a denominação europeia, antifa (ou antifascistas, um grupo de choque da extrema-esquerda),  foram presos. Claro que foram eles os agressores, mas sem nada da violência associada a grupos assim. Na verdade, um deles caiu na areia da praia e levou um socos de briguinha de pátio de colégio.
Um trumpista enorme, careca, barba no meio do peito, deu umas bandeiradas na cabeça do indivíduo – bandeira de haste flexível, é claro. A briga foi quase patética, mas o uso de imagens que contam histórias falsas, frases na forma passiva para passar mensagens adulteradas e outros truques do baixo jornalismo por publicações de qualidade, mesmo por seus padrões “progressistas”, como dizem, envergonha a profissão. 
Quanto mais os defeitos de Trump e de seus eleitores mais entusiasmados são exagerados e até inventados, mais a causa “progressista” é rejeitada em sua totalidade por aqueles a quem pretende convencer. Ou será que os autores das distorções só querem falar para o próprio grupo até o fim dos tempos? As face news, no campo contrário, começaram exatamente assim.

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