Carne Fraca: ‘Preocupação é perder mercado e confiança do consumidor’, diz ministro
Blairo Maggi (Agricultura), admite, no entanto, que setor deve sentir reflexo do escândalo
Paulo Celso Pereira - O Globo
Além de EUA e União Europeia, a China também pediu informações sobre o
escândalo revelado pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, na
sexta-feira. Segundo dados oficiais, 70% das aves consumidas no país
asiático vêm do Brasil. Em entrevista ao GLOBO, o ministro da
Agricultura, Blairo Maggi, disse que o embaixador do Brasil em Pequm,
Marcos Caramuru, já prestou esclarecimentos ao governo chinês.
Blairo, que se reúne neste domingo com o presidente Michel Temer
disse ainda que o objetivo do governo é atuar com maior rapidez e
transparência possível para reduzir os danos que as irregularidades
podem provocar em relação à compra de carne, sobretudo no exterior. O
ministro, no entanto, já admite que algum prejuízo será inevitável.
O objetivo dessa reunião com o presidente é criar um gabinete de crise?
Montamos
um gabinete de crise no ministério da Agricultura e estamos
permanentemente ligados a este assunto. Conversei com o presidente hoje,
ele me perguntou algumas coisas e decidimos fazer uma reunião amanhã
para nivelar a conversa com ele sobre as ações que o ministério está
fazendo e outra já com as associações que representam os frigoríficos,
os produtores para também alinhar algumas ações com eles em defesa do
mercado brasileiro e internacional também.
Quais são as principais preocupações neste momento?
A
maior preocupação que eu tenho é a perda de mercado no exterior dos
nossos produtos e a perda da garantia ou da confiança do consumidor
interno no Brasil.
Além da Europa e dos EUA, algum outro mercado já demonstrou preocupação?
Eu
tenho conversado com nosso embaixador na China, o embaixador (Marcos)
Caramuru, e ele já prestou esclarecimentos lá. O ministério que cuida da
sanidade na China também nos questionou, pediu informações. Todos muito
serenos, acompanhando as coisas, mas querendo saber exatamente o que
está acontecendo no Brasil. Todos que conversam conosco mostram
preocupação, mas ninguém ainda tomou uma decisão drástica contra o
Brasil, mas nós temos que ser muito rápidos e transparentes na nossa
comunicação e estancar esse assunto aonde ele está restrito e checar o
resto dos nossos procedimentos e dar garantia absoluta de que não temos
outros problemas nessa área.
O senhor acha essas preocupações internacionais podem chegar à produção agrícola?
Não,
realmente não. Porque o que está acontecendo é uma coisa pequena dentro
do contexto que nós temos. Mas nós temos que atuar com urgência para
não deixar isso se alastrar. Não creio que nós tenhamos outros
problemas, nosso sistema é forte, robusto, bem desenhado, é reconhecido
mundialmente como um serviço de boa qualidade. Só que nós tivemos quebra
de comportamento de pessoas, pessoas se corromperam no meio do processo
e aí nós não temos muito aonde nos agarrar a não ser na Justiça.
Obviamente se o Ministério tivesse sabido com antecedência, nós tínhamos
tomado as providências, mas não recebemos essas informações desses
servidores que foram corrompidos ou se corromperam no meio do processo.
O senhor acha possível evitar ainda que haja algum tipo de barreira imposta?
Acho
que prejuízo nós teremos, não sei se no ponto de um embargo total, que
eu creio que não, nós temos como comprovar que temos isso restrito.
Agora, você sabe como é mercado, mercado se ressente de qualquer
notícia, por mais boato que seja ele já se ressente, imagina numa
operação aonde a própria Polícia Federal do Brasil aponta esses
problemas. Ainda quero também questionar dentro da Polícia Federal a
amplitude disso, das coisas que foram ditas, se efetivamente temos a
comprovação de pontos ali ditos. Por exemplo, quando se diz que misturou
carne com papelão, não me parece que seja essa a questão, a questão ali
está falando da embalagem de produtos, de bandejas que devem ser
utilizadas no processo daquela parte da industrialização. Então nós
vamos ter que agora pegar os laudos da Polícia Federal, pegar os
depoimentos que tem e tecnicamente comparar se o entendimento do
delegado é o mesmo que nós temos olhando da parte técnica do processo.
O senhor enviou técnicos ao Paraná para acompanhar essa parte judicial?
Já.
Nós temos gente desde ontem no Paraná acompanhando, tivemos acesso ao
inquérito para estudá-lo com toda tranquilidade para separar aquilo que
realmente aconteceu daquilo que se pensa ou se supõe que aconteceu.
porque esse é um assunto muito grave, é um assunto de interesse
nacional, afinal de contas estamos falando de alguns bilhões de dólares
de exportação. É uma coisa muito grave para o Brasil essa acusação.
O senhor acha que pode ter havido exagero da Polícia Federal?
Quero
primeiro checar. Também não sei se efetivamente aquilo que fui
publicado pelos jornais e blogs foi dito pela Polícia Federal e pelo
Ministério Público. A gente precisa checar isso primeiro e recolocar a
informação, a narrativa do que efetivamente está acontecendo.
O senhor já tem alguma estimativa do impacto que isso pode ter na economia?
Não
sei o tamanho, mas tenho muito medo do tamanho que pode ter se não
estancarmos isso com rapidez e muita transparência. O Brasil é o maior
exportador de carnes suínas ndo mundo, 70% da carne que a China consome
de aves é nossa. Um embargo chinês por um problema desses é uma coisa
muito grave. Embora, já levantamos isso, nenhuma das plantas que foram
acusadas são exportadoras para a China. Mas o mercado reage a boatos,
nem sempre á ciência e às coisas claras. Por isso precisamos ser muito
rápidos e transparentes.
Existem de fato funcionários que estariam trabalhando para empresas e seriam do ministério?
Não
existe isso, toda a fiscalização é feita por técnicos públicos, não há
possibilidade de termos pessoas privadas cedidos por empresas para fazer
esse controle. Sempre são servidores públicos.
Como o governo pretende dar segurança para a população brasileira em relação aos alimentos que ela consome?
A
mesma preocupação em relação ao público externo temos em relação ao
interno. Nós podemos garantir que nossos sistemas são sérios, robustos,
que não tem problema. Nós tivemos alguns problemas nesses apontados por
corrupção dos servidores públicos. O sistema é muito forte, muito
rígido. O que temos de fazer é urgentemente mostrar esse sistema, passar
por auditorias esse sistema e garantir ao consumidor brasileiro que ele
não corre nenhum risco, nós temos a capacidade de garantir que não tem
problema.
O senhor tem acompanhado esse recolhimento de alimentos dos frigoríficos fechados?
Não
tenho ainda esses números. Mas as três plantas que foram suspensas não
podem mais expedir mercadorias e nós temos sim como rastrear os últimos
embarques para onde eles foram. Mas ainda não temos como saber se esses
produtos ainda estão circulando, e então serão retirados do mercado, ou
se já foram consumidos.
E qual a posição do presidente?
Falei com ele
na sexta e hoje (sábado). A preocupação do presidente é comprovar que
nosso sistema é forte, que os casos são pontuais e garantir à população
brasileira que isso não trará problemas a eles. Para mim, esse é um
assunto de segurança nacional, não podemos deixar esse assunto matar a
agroindústria brasileira, a importância que nós temos e o grande
trabalho que foi feito para conquistarmos esse mercado mundial. Muitos
concorrentes nossos vão tentar aproveitar a situação para nos sacrificar
nesse mercado muito competitivo, mas nós vamos trabalhar para não
acontecer isso.
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