quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Começou o embate pela nova diplomacia do Brasil na Ásia
Matias Spektor - FSP
Os embaixadores brasileiros em Nova Déli, Pequim e Tóquio assinaram um papel conjunto sobre a necessidade de o Brasil elaborar uma política integrada para a Ásia.
Motivos não faltam. Além de ser a região mais dinâmica do planeta, ela se transformou no centro de gravidade de nossa dependência: sozinha, a China compra um quarto de nossas exportações e possui conosco um fluxo comercial superior ao que temos com todo o Mercosul. Seu investimento em setores estratégicos, como o de energia, e seu domínio sobre aquisições e fusões são a nova regra da economia brasileira.
Cingapura já virou o hub central para a fatia do setor privado brasileiro que vive de trocas internacionais naquela parte do planeta, e as dificuldades enfrentadas pelo capital japonês em obras afetadas pela Lava Jato abrem um capítulo difícil sobre segurança do investimento no país. De quebra, qualquer conflito regional na Ásia, hoje, teria impacto direto (e nefasto) sobre emprego e renda dos brasileiros.
Não à toa, Aloysio Nunes encontrará os chanceleres da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e, em seguida, fará um périplo por cinco capitais asiáticas. Caberá a ele decidir se essa milhagem servirá para estabelecer os parâmetros de uma nova política para a Ásia.
Qualquer iniciativa dessa natureza enfrentará interesses já estabelecidos. O agronegócio, por exemplo, prioriza acordos com a Ásia e, só depois, com Europa e as Américas, mas a indústria tem prioridades inversas. Para avançar, o governo terá de mostrar a ambos os setores que nada daria mais impulso ao Brasil junto aos asiáticos que êxito junto à União Europeia.
Além disso, estão os vizinhos do Mercosul. Macri quer um acordo com a Coreia, país com o qual será muito difícil fazer qualquer progresso imediato porque é um dos raros casos onde os interesses brasileiros são quase todos defensivos. A nova política para a Ásia terá de priorizar uns países em detrimento de outros.
Uma política dessas ainda terá de alinhar ministérios e autarquias de Brasília, esforço gigantesco de resultado incerto.
Para fazer esse projeto decolar, o governo ainda terá de promover o diálogo com a sociedade brasileira, coisa quase impossível devido à nossa ignorância sobre o mundo asiático. Não há um único programa educacional dedicado a treinar jovens brasileiros que queiram trabalhar naquele ambiente.
Por isso, vozes influentes sugerem postergar o esforço, deixando a batalha para conceber essa nova política para o próximo governo. Se elas vencerem o embate, porém, descobriremos, mais uma vez, que empurrar problemas de política externa com a barriga raramente é uma boa solução.

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