domingo, 13 de agosto de 2017

Dodge e Janot têm algo em comum
Elio Gaspari - FSP
A doutora Raquel Dodge foi ao Jaburu (logo lá) às 22h de terça-feira e encontrou-se com o presidente Michel Temer sem que houvesse registro na agenda do anfitrião. Até aí, vá lá, mas no dia seguinte ela informou à patuleia que foi a Temer para tratar da cerimônia de sua posse, no dia 18.
Se o Brasil tem um presidente e uma procuradora-geral que precisam se encontrar pessoalmente para tratar de um assunto de tamanha irrelevância, a situação está pior do que se imagina. Noutra hipótese, reconhecida por assessores do presidente, os dois trataram das tensas relações do Planalto com a PGR. Nesse caso, a doutora Dodge julgou-se no direito imperial de propagar uma banalidade inverossímil.
A nova procuradora-geral começa seu mandato cultivando o vício da onipotência. Os poderosos doutores, apoiados por Dodge, tentaram conseguir um reajuste de 16,38%, mas foram rebarbados pelo Supremo Tribunal Federal. Isso numa folha de pagamentos cheia de penduricalhos que ofendem a instituição.
Rodrigo Janot assumiu a Procuradoria-Geral no dia 17 de setembro de 2013 e dois dias depois assinou uma portaria estendendo o auxílio-moradia aos procuradores que trabalhavam em Brasília.
A repórter Ana Kruger revelou que o doutor tinha um apartamento de 56 metros quadrados, alugado ao colega Blal Dalloul por R$ 4.000. (Hoje a gambiarra salarial rende R$ 4.377 mensais.) Dalloul requereu o benefício e a Viúva ficou com a conta. (Janot jamais requereu o benefício que aspergiu.)
O doutor não fez nada de errado, pois poderia ter alugado o apartamento a um padeiro. O auxílio-moradia dos procuradores, desembargadores e juízes faz sentido, quando o servidor tem casa numa cidade e é mandado para outra. Transforma-se numa tunga quando o procurador, juiz ou desembargador tem casa própria na cidade onde trabalha e embolsa o auxílio-moradia.
Uma reportagem de Fabio Brandt mostrou que, em 2015, a doutora Raquel Dodge vivia numa bonita casa em Brasília, com jardim muito bem cuidado, e recebia o mimo. Na ala dos afortunados, estavam 5 dos 33 ministros do Superior Tribunal de Justiça. Dodge e outros três procuradores (José Flaubert Machado, Ela Wiecko e Deborah Duprat) tinham propriedades em boas vizinhanças da capital. Vai-se além: alguns sem-teto da PGR e da magistratura têm mais de um imóvel em Brasília.
Todos os beneficiados argumentam que recebem o que a lei lhes concede e acham que é falta de educação tocar nesse assunto.
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ASSOMBRAÇÃO
Quando Michel Temer resolveu deixar o Palácio da Alvorada e voltou a morar na casa do Jaburu, circulou a história de que a velha residência do presidente fosse mal-assombrada. Conversa fiada.
Mal-assombrado é o Jaburu. Não se pode saber se o encosto vem de Joesley Batista ou do próprio Temer.
Raquel Dodge não deveria ter ido lá.
HONORÁRIOS
A Operação Lava Jato e a arrogância dos maganos que lesavam a Viúva fizeram a festa dos criminalistas que tratam os clientes como réus e não como patrões. Um pequeno grupo de competentes felizardos trabalha com a bandeirada na casa do milhão de reais.
Um advogado que rala e conhece a história do Brasil informa que, no início do século passado, Rui Barbosa recebia da Light 2.000 contos por mês, equivalentes a 150% do salário de um senador. Em dinheiro de hoje, isso daria uns R$ 50 mil por mês.
É sempre bom lembrar que a Light do século 20 mantinha os melhores advogados do Rio na sua folha de pagamento, para que não litigassem contra ela.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e ficou feliz ao ouvir Michel Temer dizer que "o governo não mente para o povo brasileiro".
O cretino sempre sustentou que Temer só mentiu numa ocasião, quando conversou com o beato Joesley Batista no Jaburu. Afinal, se Temer não estivesse dissimulando, até Eremildo concorda que ele deveria ter sido afastado pela Câmara.
PÉ NO FREIO
Lula fez saber aos mais aguerridos comissários petistas que eles devem pisar no freio. Episódios como o das senadoras que transformaram a Mesa Diretora da casa em balcão de lanchonete ou o surto de bolivarianismo que acometeu um pedaço da intelectualidade petista podem inviabilizar uma candidatura presidencial em 2018.
Lula é quase monótono: se o PT perder a classe média, o fracasso é certo. Um pedaço dessa classe média já foi embora e trata-se de ir buscá-la de volta. Como? Ele ainda não sabe direito.
EIKE & CABRAL
Se Eike Batista colaborar direito com a Viúva, encrencará a vida de Sérgio Cabral ao contar como obteve a licença ambiental para o porto do Açu.
Quando navegava na própria arrogância, Eike dizia que emprestava seu avião a Cabral e ninguém tinha nada a ver com isso.
FUNDO ELEITORAL
Se ninguém fizer nada, e tudo indica que nada será feito, o Congresso aprovará a criação de um fundo de financiamento para os candidatos a cargos eletivos em 2018.
Pretende-se torrar algo como R$ 3,6 bilhões financiando candidaturas. Do jeito que estão as coisas, cada partido receberá sua cota e distribuirá o dinheiro como quiser.
É uma receita para o caos. Os candidatos a deputado de um partido que não tem nomes disputando as eleições majoritárias de presidente, governador ou senador poderão botar mais dinheiro nas disputas proporcionais. Pelo absurdo, um candidato a deputado do PP poderá dispor do dobro da verba de um rival do PMDB.
Um caos alimentado com o dinheiro do contribuinte. Algo como R$ 17 de cada brasileiro.

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