Pacote de maldades para servidor pode gerar onda de greves
Julianna Sofia - FSP
O governo de Michel Temer não quis ver o que analistas do mercado
financeiro e economistas davam como favas contadas desde o início de
2017. Com a economia em marcha à ré e o excesso de desonerações
tributárias, as receitas da União estavam superestimadas, e o
cumprimento da meta de deficit fiscal de R$ 139 bilhões neste ano seria
missão impossível.
O Palácio do Planalto tapou o sol com a peneira ao endossar, em meados
de 2016, negociações salariais com o funcionalismo feitas pela gestão
dilmista. Preferiu fechar os olhos para o impacto sobre o Tesouro a
comprar briga com as corporações naquele momento. O discurso era que
precisava honrar acordos, e os novos gastos caberiam na conta.
A gestão peemedebista parece não ver que é ilimitada a voracidade de sua
base de apoio parlamentar. Não importam os cargos e os bilhões em
emendas liberadas, haverá sempre uma pauta-bomba para ser jogada no colo
do Executivo.
Assim, a medida provisória da reoneração e a do novo Refis —tão caras ao
ajuste fiscal— podem virar pó nas mãos de aliados descontentes. Até
mesmo a MP do Funrural, já repleta de benesses a ruralistas e de pesado
custo, pode transmutar-se em algo pior no Congresso.
Por lá também não passa, e só Temer não enxerga, aumento de imposto para
o andar de cima. Tributar lucros e dividendos ou elevar Imposto de
Renda de quem ganham mais de R$ 20 mil, nem pensar.
Temer não anteviu que a tesoura afiada nas despesas poderia paralisar a
máquina pública. Não previu sequer que a boa notícia da queda acelerada
da inflação poderia frustrar as receitas federais neste ano.
Na segunda (14), o presidente deve anunciar rombos maiores nas contas de
2017 e 2018. Junto, um pacote de maldades para servidores: congelamento
de salários, redução de vencimento inicial e corte em benefícios, como
auxílio-moradia.
Já dá pra ver greve no horizonte.
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