quinta-feira, 3 de agosto de 2017

PSDB racha ao meio na votação de denúncia contra Temer
Partido dá 22 votos para arquivar denúncia e 21 pela investigação; 4 deputados faltam

A votação da denúncia contra o presidente Michel Temer explicitou o racha do PSDB desde que a crise mais aguda do governo começou, após a delação da JBS. Dos 47 deputados tucanos, 22 votaram pelo arquivamento da denúncia, 21 pela investigação de Temer e quatro se ausentaram. Outro partido aliado, o PPS, protagonizou traição proporcionalmente ainda maior ao governo, com nove dos dez deputados se posicionando contra Temer, inclusive Roberto Freire, que entregou o cargo de ministro da Cultura logo após a delação da JBS.
Integrantes do governo avaliaram que o PSDB sairá “destroçado” do processo que resultou no arquivamento da denúncia. O partido ficou exposto após o debate, inconclusivo, sobre o desembarque da base aliada. Comandante de um dos quatro ministérios que o partido tem no governo, Bruno Araújo (Cidades), que se licenciou para votar contra a denúncia, minimizou a situação:
— É do jogo.
Aliado de peso do governo Temer, o PSDB decidiu na manhã de quarta-feira, após reunião da bancada da Câmara, que a orientação do partido seria para votar a favor do recebimento da denúncia contra o presidente. Mas uma tênue maioria contrariou a orientação do líder, Ricardo Tripoli (SP). O constrangimento entre os tucanos era evidente inclusive pelo fato de o relator do arquivamento da denúncia ter sido o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).
No discurso em que orientou seus liderados a votar contra o governo, Tripoli frisou que, diferentemente da oposição, o PSDB não deseja o fracasso do governo, nem a “ruína do país”, mas pontuou que a sequência de escândalos causa desesperança na população. Apesar da orientação do partido, Tripoli liberou os tucanos a votar de acordo com suas consciências.
— Na CCJ, cinco votaram a favor da denúncia e só dois contra. Isso é justificativa suficiente para orientar a favor da denúncia. A relatoria do Abi-Ackel não externou o que a maioria queria, e os ausentes de hoje (quarta-feira) votariam com a gente. Seriam três votos a mais para o nosso lado — disse Tripoli.
Nos bastidores, tucanos contam que o clima, que já estava ruim no partido por conta das divergências sobre ficar ou sair do governo, azedou ainda mais na articulação, comandada pelo ministro tucano Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), para que Abi-ackel assumisse como relator na CCJ.
Tripoli e a ala independente, os chamados “cabeças pretas”, reclamam que ala pró-governo atropelou o restante do partido na escolha de Abi-Ackel para a relatoria.
— Não deram nenhum telefonema. Agora era hora de marcar posição — disse o líder, magoado.
No lado oposto, um tucano pró-Temer criticou a postura do líder:
— O partido está dividido e me parece que o Tripoli não está cumprindo a função de líder de um partido dividido. Ele não está correspondendo aos que votaram nele para liderar a bancada. Ele deveria simplesmente liberar a bancada, não manifestar sua posição pessoal.
Está prevista para esta quinta-feira uma reunião entre os senadores Tasso Jereissati (CE), presidente interino do PSDB, e Aécio Neves (MG), presidente afastado da legenda. A expectativa é que Tasso entregue o cargo de volta a Aécio, devido ao incômodo com a situação provisória. Segundo interlocutores de Tasso, ele teria chegado ao limite e não aguenta mais tanta dubiedade.
Os deputados e senadores que defendem o abandono do governo querem que Aécio convoque até o fim do mês uma convenção do partido para que seja eleito um novo presidente. Mas, até o momento, Aécio não deu qualquer garantia a seus correligionários de que tomará esta providência. Há um temor de que ele permaneça no cargo, aprofundando, assim, o racha no partido. Aécio tem defendido publicamente a permanência do PSDB no governo.

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