Regime chavista recorre cada vez mais à Rússia para obter recursos
Estatal russa aproveita débitos de país aliado lucrando ao burlar sanções
O Globo/Reuters
Frente a uma profunda crise econômica, a Venezuela está recorrendo
cada vez mais à Rússia por dinheiro e crédito ao oferecer em troca de
ativos de petróleo estatais, revelou ontem a Reuters. Moscou, no papel
de credor da Venezuela, tem obtido maior controle das reservas do país
sul-americano — as maiores do mundo — através de negociações secretas
entre as petroleiras estatais. A prática ajuda os russos a burlarem
sanções dos EUA, enquanto o governo de Nicolás Maduro evita um calote de
sua dívida soberana.
Como
revelou a Reuters ontem, a estatal petroleira venezuelana, PDVSA,
negocia secretamente desde ao menos o início de 2017 com a maior estatal
russa do setor, a Rosneft. A gigante tem participação acionária em até
nove dos projetos de petróleo mais produtivos do país, de acordo com um
alto funcionário da Venezuela e fontes da indústria envolvidas nas
conversas.
Só em abril, segundo a Reuters, a Rosneft concedeu mais de US$ 1
bilhão à PDVSA em troca de títulos de longo prazo de petróleo. E, em ao
menos duas ocasiões, o governo Maduro usou o dinheiro russo para evitar
calotes iminentes em pagamentos a donos de títulos da dívida, disse um
alto funcionário da estatal.
O governo de Vladimir Putin sofre sanções por causa de intervenções
na Ucrânia e nas eleições americanas. Apesar disso, consegue colocar
petróleo nas refinarias americanas: a Rosneft vem se colocando como
intermediária das vendas do petróleo venezuelano a clientes de todo o
mundo, especialmente os EUA (maior importador de petróleo da Venezuela).
Os russos escapam dos bloqueios vendendo títulos do petróleo
venezuelano através de intermediários, como empresas de comercialização
de petróleo. A Rosneft vende hoje 13% do total das exportações diárias
de petróleo venezuelano, segundo relatórios da PDVSA — o suficiente para
satisfazer a demanda de um país como o Peru.
NEGÓCIOS DO KREMLIN CRESCEM
Com escassez de
dólares, baixa arrecadação e pouca diversidade em sua indústria, a
Venezuela dá o petróleo à Rosneft como pagamento pelos bilhões
emprestados por Moscou. O valor financia desde o pagamento de títulos de
sua dívida soberana a importações de alimentos e remédios, atualmente
muito escassos.
— A Rosneft com certeza está se aproveitando da situação — afirmou
Elías Matta, vice-presidente da Comissão de Energia da Assembleia
Nacional (AN). — Eles sabem que este é um governo fraco, que está
desesperado por dinheiro. E são tubarões.
Segundo especialistas, Maduro se torna cada vez mais dependente da
Rússia porque a também aliada China reduziu a concessão de crédito por
causa dos atrasos de pagamentos e temores pela corrupção e a segurança
de seus funcionários. Assim, Moscou se aproveita: os escritórios da
empresa no país se expandem, apesar do êxodo atual de estrangeiros. No
mês passado, a Rosneft decidiu trocar sua garantia de 49,9% da Citgo —
refinadora venezuelana sediada nos EUA — por ações lucrativas da PDVSA e
maior controle administrativo sobre todos os projetos conjuntos das
empresas.
— Os russos estão pegando a Venezuela no fundo do poço — disse à Reuters um diplomata ocidental próximo à indústria venezuelana.
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