sábado, 12 de agosto de 2017

Regime chavista recorre cada vez mais à Rússia para obter recursos
Estatal russa aproveita débitos de país aliado lucrando ao burlar sanções 
O Globo/Reuters
Frente a uma profunda crise econômica, a Venezuela está recorrendo cada vez mais à Rússia por dinheiro e crédito ao oferecer em troca de ativos de petróleo estatais, revelou ontem a Reuters. Moscou, no papel de credor da Venezuela, tem obtido maior controle das reservas do país sul-americano — as maiores do mundo — através de negociações secretas entre as petroleiras estatais. A prática ajuda os russos a burlarem sanções dos EUA, enquanto o governo de Nicolás Maduro evita um calote de sua dívida soberana.
Como revelou a Reuters ontem, a estatal petroleira venezuelana, PDVSA, negocia secretamente desde ao menos o início de 2017 com a maior estatal russa do setor, a Rosneft. A gigante tem participação acionária em até nove dos projetos de petróleo mais produtivos do país, de acordo com um alto funcionário da Venezuela e fontes da indústria envolvidas nas conversas.
Só em abril, segundo a Reuters, a Rosneft concedeu mais de US$ 1 bilhão à PDVSA em troca de títulos de longo prazo de petróleo. E, em ao menos duas ocasiões, o governo Maduro usou o dinheiro russo para evitar calotes iminentes em pagamentos a donos de títulos da dívida, disse um alto funcionário da estatal.
O governo de Vladimir Putin sofre sanções por causa de intervenções na Ucrânia e nas eleições americanas. Apesar disso, consegue colocar petróleo nas refinarias americanas: a Rosneft vem se colocando como intermediária das vendas do petróleo venezuelano a clientes de todo o mundo, especialmente os EUA (maior importador de petróleo da Venezuela). Os russos escapam dos bloqueios vendendo títulos do petróleo venezuelano através de intermediários, como empresas de comercialização de petróleo. A Rosneft vende hoje 13% do total das exportações diárias de petróleo venezuelano, segundo relatórios da PDVSA — o suficiente para satisfazer a demanda de um país como o Peru.
NEGÓCIOS DO KREMLIN CRESCEM
Com escassez de dólares, baixa arrecadação e pouca diversidade em sua indústria, a Venezuela dá o petróleo à Rosneft como pagamento pelos bilhões emprestados por Moscou. O valor financia desde o pagamento de títulos de sua dívida soberana a importações de alimentos e remédios, atualmente muito escassos.
— A Rosneft com certeza está se aproveitando da situação — afirmou Elías Matta, vice-presidente da Comissão de Energia da Assembleia Nacional (AN). — Eles sabem que este é um governo fraco, que está desesperado por dinheiro. E são tubarões.
Segundo especialistas, Maduro se torna cada vez mais dependente da Rússia porque a também aliada China reduziu a concessão de crédito por causa dos atrasos de pagamentos e temores pela corrupção e a segurança de seus funcionários. Assim, Moscou se aproveita: os escritórios da empresa no país se expandem, apesar do êxodo atual de estrangeiros. No mês passado, a Rosneft decidiu trocar sua garantia de 49,9% da Citgo — refinadora venezuelana sediada nos EUA — por ações lucrativas da PDVSA e maior controle administrativo sobre todos os projetos conjuntos das empresas.
— Os russos estão pegando a Venezuela no fundo do poço — disse à Reuters um diplomata ocidental próximo à indústria venezuelana.

Nenhum comentário: