STF retira de Moro trechos de delações da JBS que citam Lula e Mantega
Ministros da Segunda Turma decidiram que as citações devem ficar somente em Brasília
Carolina Brígido - O Globo A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) retirou
das mãos do juiz Sérgio Moro, que conduz as investigações da Lava-Jato
na Justiça Federal em Curitiba, citações que os delatores Joesley
Batista e Ricardo Saud, da JBS, fizeram ao ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega em depoimentos
prestados ao Ministério Público Federal. O relator da Lava-Jato no STF,
ministro Edson Fachin, havia autorizado a remessa de cópia do material
para Moro e também para a Justiça Federal em Brasília. Por três votos a
um, os ministros da corte decidiram que as citações devem ficar somente
em Brasília.
Fachin argumentou que o envio das cópias dos trechos de
depoimentos a duas varas distintas não significava que os fatos seriam
investigados duplamente, como argumentou a defesa. O ministro explicou
apenas que os juízes poderiam usar o material em investigações já
abertas, se os depoimentos pudessem ser aproveitados como provas
complementares. Outros três ministros da Segunda Turma discordaram como
relator e argumentaram que o assunto tratado pelos delatores não era
sobre as investigações da Lava-Jato – e, por isso, não deveriam ficar
sob a responsabilidade de Moro.
Nos
depoimentos, dos executivos citaram depósitos feitos em contas no
exterior de até 150 milhões de dólares, com o intermédio de Mantega. O
dinheiro seria usado para abastecer campanhas eleitorais de Lula e da
ex-presidente Dilma Rousseff. A defesa argumentou que os fatos já são
alvo de duas investigações já abertas na Justiça Federal do DF: uma
sobre fraudes no BNDES, decorrente da Operação Bullish, e outra sobre
desvios em fundos de pensão, decorrente da Operação Greenfield.
Primeiro, Fachin votou contra o agravo. Em seguida, o
ministro Ricardo Lewandowski concordou com o relator. O ministro Gilmar
Mendes votou para conceder o pedido de Lula e de Mantega, para não haver
o risco de duas varas diferentes investigarem o mesmo fato.
— Tem razão o agravante. Se os fatos não guardam relação com
a questão da Lava-Jato, o tema não deveria ser encaminhado a Curitiba, e
sim as varas do Distrito Federal. Não se trata de encaminhar cópias
para duas varas, daqui a pouco três, para que os juízes definam quem
será competente para analisar o material, gerando conflito — explicou
Gilmar.
Celso de Mello, o mais antigo integrante do STF, concordou.
—É indesejável o conflito de duas varas, porque ensejaria
insegurança jurídica, especialmente quando há notícia de que os mesmos
fatos estariam sendo alvo de investigação de outra sede jurisdicional —
disse o decano.
Depois de ouvir o voto dos colegas, Lewandowski mudou de ideia:
— Temos que definir desde logo um foro para prosseguir as
investigações. Por razões de conveniência processual, a melhor solução é
definirmos um dos juízos. O foro adequado seria, neste momento, a seção
judiciária do Distrito Federal, o foro onde as irregularidades foram
cometidas.
O placar terminou em três votos a um, porque Dias Toffoli,
que também integra a Segunda Turma, não estava presente. Nos últimos
meses, Fachin tem sido sucessivamente derrotado em votações do colegiado
em processos da Lava-Jato. Foram pelo menos seis episódios neste ano. O
primeiro foi em fevereiro, quando Fachin queria que citações ao
ex-presidente José Sarney feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado em delação premiada fossem enviadas a Moro. No entanto, por
quatro votos a um, a Segunda Turma decidiu manter o material no STF.
Mais recentemente, Fachin votou pela manutenção da prisão do
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do empresário José Carlos
Bumlai, e do ex-assessor parlamentar João Cláudio Genu, todos
investigados na Lava-Jato. Foi derrotado, porque a maioria da Segunda
Turma votou pela libertação dos três. Fachin também votou pela
manutenção da prisão do procurador da República Ângelo Goular Vilella e
do advogado Willer Tomaz, mas os dois também acabaram sendo libertados,
por decisão da maioria do colegiado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário