Reinaldo Azevedo - VEJA
A América Latina já foi um celeiro de ditaduras militares, incluindo o Brasil. Os golpes eram dados com tanques, como sabemos. Hoje em dia, as esquerdas recorrem a eleições e ao aparato legal para golpear a democracia. Comentei aqui há dias a decisão absurda de Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, de cassar, sem processo, direito de defesa ou votação na Casa, o mandato da deputada oposicionista Maria Corina Machado. Evocando três artigos da Constituição — o 149, o 191 e o 197 —, ele declarou que Maria Corina não era mais deputada. O Artigo 149 veta que funcionários públicos ou membros da Assembleia atuem a serviço a serviço de outro país sem prévia autorização de seus pares. Os outros dois proíbem deputados de exercer alguma outra função, com algumas exceções, como atividade acadêmica, por exemplo.
Aí cabe a
pergunta: Maria Corina fez isso? É claro que não! Proibida de falar na
OEA (Organização dos Estados Americanos) — e o Brasil, desgraçadamente,
colaborou para isso —, a deputada venezuelana ocupou, por alguns
minutos, a cadeira que cabe à representação do Panamá. Para quê? Para
tratar dos assuntos desse país? É claro que não! Foi a forma que ela
encontrou de denunciar os crimes cotidianamente cometidos por Nicolás
Maduro, presidente da Venezuela. Desde 12 de fevereiro, 37 pessoas já
morreram nos protestos. Há quase 200 presos, incluindo o líder
oposicionista Leopoldo Lopez e dois prefeitos.
Pois bem!
Ela recorreu ao Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela — o STF deles —
contra a cassação. O TSJ está coalhado de bolivarianos. Adivinhem o
resultado! A decisão de Cabello foi mantida. A Corte confirmou a decisão
do líder chavista. Agora Maria Corina perdeu a imunidade parlamentar e,
nas palavras do ministro do Interior da Venezuela, Miguel Rodríguez, já
pode ser presa. A turma de Nicolás Maduro a acusa de ser uma das
líderes de uma tentativa de golpe.
É uma
vergonha! Maria Corina disse que deve visitar o Congresso Brasileiro
nesta quarta. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado,
Ricardo Ferraço (PMDB-ES), negocia uma audiência pública em que a
deputada será ouvida. Vamos ficar atentos ao comportamento dos
congressistas de esquerda. Vamos ver se também ela será alvo da
estupidez e da ignorância que colheram, por exemplo, a cubana Yoani
Sánchez quando em visita ao nosso país.
A Corte
chavista confirma a cassação de Maria Corina no momento em que uma
comissão da Unasul busca um suposto diálogo entre os oposicionistas e
Maduro. Ou por outra: o presidente negocia com seus adversários
metendo-os na cadeia e lhes cassando os respectivos mandatos. E a Unasul
finge que está mesmo em curso uma possibilidade de diálogo.
Já que
ainda estamos no clima dos 50 anos do golpe no Brasil, cumpre lembrar a
Operação Condor, que foi a troca de informações e a ajuda mútua havidas
entre vários regimes ditatoriais da América do Sul. Pois bem! Hoje, está
em curso uma “Operação Condor” de sinal trocado. Maduro só avança rumo à
ditadura sem adjetivos porque tem o respaldo dos governos de esquerda
da América do Sul, muito especialmente o Brasil.
Do ponto
de vista ideológico, ele faz lá o que os nossos esquerdistas gostariam
de fazer aqui. E por que não fazem? Porque ainda não dá. Se um dia for
possível, não tenham dúvida, eles farão.
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