Desespero diante da CPI
O Estado de S.Paulo
Tendo fracassado em impedir que, em um punhado de dias,
29 senadores - entre eles 3 da base aliada - apoiassem a criação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o escândalo da
Refinaria de Pasadena e outras presumíveis irregularidades da Petrobrás
de 2005 em diante, o Planalto partiu para melar o jogo. Enquanto já se
põe a chantagear alguns dos signatários do pedido para que voltem atrás,
a fim de privar a iniciativa do quórum mínimo de 27 nomes (1/3 dos
membros do Senado), o governo escancarou de outro modo ainda o desespero
em que o êxito oposicionista o mergulhou.
Consiste na manobra, inaceitável a qualquer título, de contrabandear
para dentro do texto em torno do qual a oposição se uniu dois "aditivos"
que não guardam a menor relação com o fato determinado que a lei exige
para uma proposta ser acolhida pela direção da Casa do Congresso em que
tiver sido concebida (ou por ambas, quando se tratar da chamada CPI
mista). Eles se juntariam aos quatro itens que embasam o pedido - a
compra, a preço extravagante, da usina de refino no Texas; o suposto
recebimento de propinas por funcionários da Petrobrás, pagas pela
empresa holandesa SBM Offshore, em negociações para a locação de
plataformas à estatal; a denúncia de descumprimento de normas
elementares para a segurança dos trabalhadores em instalações marítimas;
e indícios de superfaturamento na construção de refinarias.
Os dois acréscimos que o Planalto quer ver incluídos no rol das
apurações, obviamente para que nada seja apurado em relação ao que tira o
sono da presidente Dilma Rousseff - as falcatruas e mazelas varridas
para debaixo do tapete na megaempresa aprovada pelo Conselho de
Administração que ela chefiou quando ministra -, tratariam, um, das
evidências de formação de cartel em licitação de trens em governos do
PSDB em São Paulo; e outro, de indeterminadas irregularidades no Porto
de Suape, em Pernambuco. O golpe baixo, que não teria chance de
prosperar em nenhum Parlamento sério do mundo, tem dois objetivos
também. O primeiro, voltar os holofotes para o entorno político do
senador e pré-candidato presidencial tucano, Aécio Neves, e para o outro
adversário de Dilma, o ex-governador pernambucano Eduardo Campos.
O segundo intento é o de que as investigações sobre os malfeitos
paulistas precedam as da Petrobrás, "por serem mais antigos". Para
tanto, os governistas contam com a maioria que terão na CPI, a qual deve
espelhar o tamanho das bancadas na Casa. O governo trabalhará ainda
para que os dois postos-chave da comissão, o de presidente e o de
relator, fiquem com o PMDB e o PT. No Senado, o PMDB continua leal à
presidente. Apenas 3 dos 20 senadores eleitos pela sigla apoiaram o
inquérito. O presidente da Casa, o peemedebista Renan Calheiros,
declarou-se abertamente contrário. Diante da força dos fatos, disse que
"não há mais o que fazer". Longe disso, pode-se apostar. Por via das
dúvidas, a oposição já começou a colher assinaturas na Câmara para
estender a CPI ao Congresso todo.
Tem-se, em suma, muito jogo - e jogo pesado - pela frente. No
entanto, as tóxicas substâncias que vazam da caixa-preta da Petrobrás
praticamente dia sim, o outro também, precisam ser levadas ao
microscópio. A sua presidente, Graça Foster, se declarou surpresa ao
ficar sabendo (não disse como) que o acordo de acionistas com a parceira
belga de Pasadena criava um "comitê de proprietários" mais poderoso até
do que o Conselho de Administração da estatal - o que ela não podia
ignorar, porque a cláusula figura logo no artigo 3.º do documento,
revelou a Folha de S.Paulo. O representante da petroleira no comitê era
ninguém menos que o seu então diretor de Abastecimento, Paulo Roberto
Costa, preso na semana passada sob a acusação de lavagem de dinheiro.
Sobram motivos, portanto, para se ir além da responsabilização
administrativa (via Tribunal de Contas da União) e penal (via Polícia
Federal e Ministério Público) de altos escalões da Petrobrás. Sendo o
que ela é e representa, a responsabilização política, a cargo da CPI, é
igualmente imprescindível - e deve abarcar os obscuros enlaces da
empresa com quem nela dá as cartas, o governo federal.
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