terça-feira, 29 de abril de 2014

EUA miram impacto na economia russa com sanções que prejudicam produção de gás natural
Mark Landler e Peter Baker - NYT 
Na segunda-feira (28), os Estados Unidos impuseram sanções adicionais contra autoridades do governo russo e empresas consideradas próximas do presidente Vladimir Putin, acusando Moscou de não cumprir seu acordo de desarmar a crise na Ucrânia.
O governo Obama ordenou proibição de viagem e congelamento de ativos para sete cidadãos russos, incluindo duas pessoas do círculo interno de Putin, e o congelamento de ativos de 17 empresas. Treze empresas russas também enfrentarão restrições adicionais, já que o governo cortará a exportação ou reexportação de produtos feitos nos Estados Unidos para elas.
Além disso, os departamentos de Estado e Comércio anunciaram uma nova política de negar os pedidos de licença de exportação para itens de alta tecnologia, que poderiam contribuir para as capacidades militares da Rússia. Os dois departamentos revogarão as licenças de exportação existentes seguindo a mesma linha, disse uma declaração da Casa Branca. A União Europeia planeja acompanhar com sanções a 15 russos, disseram as autoridades.
Entre os visados na segunda-feira está Igor I. Sechin, presidente da companhia de petróleo estatal Rosneft e conselheiro de longa data de Putin. Apesar de funcionários do governo terem dito no fim de semana que esperavam que Alexei B. Miller, o chefe da gigante de energia Gazprom, possivelmente seria um alvo, o presidente Barack Obama acabou escolhendo uma lista que não o incluía.
Outros enfrentarão sanções, incluindo Dmitri N. Kozak, um vice-primeiro-ministro; Vyacheslav  V. Volodin, um vice-chefe de gabinete de Putin; e Alexei Pushkov, o presidente do comitê de relações exteriores da Duma, a câmara baixa do Parlamento.
Entre as empresas visadas estão vários bancos, incluindo o Sobinbank, e empresas de energia como o Stroytransgaz Group e várias entidades relacionadas.
A Stroytransgaz e suas empresas relacionadas formam a divisão de construção de gasodutos da Gazprom, que mantém e expande a rede doméstica de gás natural russo, o maior sistema de gasodutos do mundo, e por anos as empresas são alvo de suspeita por analistas financeiros de serem usadas para desvio de dinheiro da Gazprom para terceiros. O total de gastos de capital da Gazprom totalizou cerca de US$ 24,4 bilhões em 2013, segundo uma declaração da empresa.
A empresas Stroytransgaz eram inicialmente afiliadas à gestão da Gazprom nos anos 90, mas posteriormente passaram ao controle de antigos associados de Putin, incluindo os irmãos Arkady e Boris Rotenberg.
Ao impor sanções a Sechin, o governo tem como alvo um importante parceiro da Exxon Mobil, que tem múltiplos empreendimentos conjuntos com a Rosneft. Não se sabe se Sechin conta com ativos nos Estados Unidos para congelar, mas ele não poderá mais entrar no país para consultar seus parceiros da Exxon Mobil. Os advogados da Exxon Mobil vinham estudando as possíveis ramificações ao anteciparem a ação do governo, mas um porta-voz da empresa disse na segunda-feira que não comentaria.
As empresas russas que foram alvo na segunda-feira estão associadas a empresários russos que foram alvo na rodada anterior de sanções.
Onze das empresas estão ligadas a Gennady N. Timchenko, incluindo o Volga Group, sua holding de investimento privado. Timchenko é um cofundador do Gunvor Group, uma empresa de comércio de commodities que o Departamento do Tesouro disse anteriormente contar com investimentos pessoais de Putin. O Gunvor negou que Putin tenha laços financeiros com a empresa, e Timchenko vendeu sua participação no Gunvor.
Três outras empresas visadas na segunda-feira estão ligadas a Arkady e Boris Rotenberg: o InvestCapitalBank, SMP Bank e Stroygazmontazh. Três outras são subsidiárias do Bank Rossyia de Yuri V. Kovalchuk: Abros, Zest e Sobinbank.
"Os alvos das sanções de hoje, adotadas em coordenação estreita com a UE, aumentarão o impacto que já começamos a ver sobre a economia da Rússia provocado pelas sanções americanas e internacionais, em consequência das ações da Rússia na Ucrânia,", disse Jacob J. Lew, o secretário do Tesouro, em uma declaração. "As previsões de crescimento econômico russo caíram acentuadamente, a fuga de capital acelerou e custos mais altos para tomada de empréstimo refletem a queda de confiança nas perspectivas do mercado."
Autoridades americanas disseram que a lista europeia de sanções será diferente da americana, mas que o fato de ambos os lados estarem agindo no mesmo dia sinaliza uma unidade importante.
"Nós não esperamos que haja uma mudança imediata na política russa", disse um alto funcionário do governo, informando os repórteres de acordo com regras que não permitem que ele se identifique. Mas ele disse que as mais recentes ações sinalizam que "uma dor econômica muito mais severa" ainda pode ser imposta caso Moscou não recue.
Outros indivíduos sujeitos à proibição de viagem e congelamento de ativos são Oleg Belavantsev, que foi nomeado no mês passado por Putin como emissário presidencial para supervisão da Península da Crimeia anexada; Sergei V. Chemezov, o diretor geral da Rostec, a empresa estatal russa que supervisiona as indústria de alta tecnologia e um antigo membro do círculo de Putin; e Evgeny Murov, o diretor do Serviço Federal de Proteção da Rússia e um general do exército.
Chemezov tem extensos negócios com a Boeing, por meio de um empreendimento conjunto, parcialmente de propriedade da Rostec, para fabricação de metade de todas as peças de titânio usadas nos aviões da Boeing, e como comprador de aviões para uma companhia aérea regional afiliada à Rostec.
O fato de as sanções não abrangerem grandes empresas russas listadas nas bolsas de valores foi um alívio para os traders em Moscou. Por volta do meio-dia, o índice referencial Micex da Rússia recuperou uma perda inicial, depois que Obama disse que a lista não se estenderia ao setor bancário, e fechou com um ganho de 1,5%.
"Parece que ficou no lado leve" do que o mercado esperava, disse um banqueiro em Moscou, falando sob a condição de anonimato. "Isto foi mais um lembrete de que uma nova fase de sanções é possível."
As ações ocorreram logo depois de Obama, que está visitando a Ásia, ter declarado que a Rússia continuava ameaçando a Ucrânia e que pagaria um preço. O fato de o anúncio ter sido feito na última parada da viagem de uma semana à Ásia ressaltou o senso de urgência a respeito dos temores de que a Rússia esteja desestabilizando o leste da Ucrânia.
"Estas sanções representam o próximo passo em um esforço calibrado para mudar o comportamento da Rússia", disse Obama em uma coletiva de imprensa com o presidente das Filipinas, Benigno S. Aquino 3º.
Mas Obama reconheceu: "Nós ainda não sabemos se vai funcionar" e deixam a porta aberta para mais sanções contra as indústrias russas, como o setor bancário e de defesa.
"A meta não é visar Putin pessoalmente; a meta é mudar seu cálculo, encorajá-lo a realmente fazer o que diz" quando se trata de esforços diplomáticos para resolver a crise, disse Obama.
Obama disse que as sanções afetariam as exportações de alta tecnologia militar para a Rússia, porque não são "apropriadas para serem transferidas no ambiente atual".
Em comentários na segunda-feira na Rússia, Putin não falou diretamente sobre o anúncio inicial feito por Obama. Mas ele disse que o Ocidente queria atingir as indústrias militares russas com sanções, principalmente para minar suas tentativas de repor componentes militares chave há muito produzidos na Ucrânia.
A Rússia seria capaz de substituir todas as importações em 18 meses a 2 anos e meio, Putin disse aos legisladores na cidade de Petrozavodsk, no noroeste, em comentários transmitidos ao vivo pela televisão. As substituições "não exigem uma revisão do orçamento de defesa", ele disse.
As importações da Ucrânia diminuíram, mas não pararam, disse Putin, acrescentando que ele espera que continuem. Se não, os especialistas que trabalham nas fábricas de defesa são bem-vindos a imigrar, ele disse.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

Nenhum comentário: