Benoît Vitkine - Le Monde
Balou já está em outro lugar. Ele desliga seu telefone, radiante, e diz a seu assistente: "Os russos passaram a fronteira em Lugansk!" O destacamento de Balou – seriam cinco deles – chegou da Crimeia dez dias atrás. Com a ajuda de Moscou, espera esse ex-oficial do exército soviético e ucraniano que virou empresário em Simferopol, eles "empurrarão os fascistas até a Polônia". "E os veados", diz um civil, que logo é repreendido.
Os russos não passaram a fronteira, eles só recomeçaram manobras em resposta à ofensiva lançada pelo governo ucraniano durante a manhã – um "crime grave contra seu próprio povo", segundo Vladimir Putin.
Barreira
Em termos de ataque, a movimentação das forças ucranianas é limitada. Depois de ter tomado sem resistência o controle do vilarejo de Sviatigorsk, elas instalaram novas barreiras em várias estradas que levam até a cidade, onde há blindados e helicópteros estacionados. Logo cedo pela manhã, elas também avançaram até a barreira erguida pelos separatistas na saída norte de Sloviansk. Seus ocupantes, depois de terem ateado fogo nas barricadas, haviam abandonado o local, e os homens armados que pululam na cidade não apareceram.
Kiev apresenta um balanço surpreendente de "cinco mortos" do lado dos separatistas. Estes, que costumam ser rápidos em inflar suas perdas, relatam a ocorrência de um morto e um ferido, dois homens que voltavam de carro para seu vilarejo após uma noite de guarda nas barricadas. Ninguém viu chegar nenhum corpo nem ao hospital de Sloviansk nem ao necrotério.
Ninguém sabe se a manobra de quinta-feira era destinada unicamente para acalmar uma opinião pública que vem perdendo a paciência diante da inércia da "operação antiterrorista" lançada no dia 13 de abril, ou se as novas posições servirão de ponto de partida para ofensivas mais sérias. De qualquer forma, Kiev tem se esforçado para evitar que a deterioração da situação permita que os pró-Rússia aumentem sua presença na região de Donetsk. Na quinta-feira, a sede da prefeitura de Mariupol, no mar de Azov, foi retomada pela polícia. Nas estradas, as barreiras mantidas por separatistas não armados agora se alternam com as da polícia, que são mais numerosas.
"Nova Stalingrado"
Mas em Sloviansk, cidade de 100 mil habitantes, o ataque aumentou ainda mais a tensão. A praça-forte dos pró-Rússia é esquadrinhada por homens armados que dizem ser de todo tipo de organização e que podem arbitrariamente mandar um motorista sair de seu carro e fazê-lo ficar ajoelhado na calçada para ser revistado.
Na quinta-feira, o "prefeito popular" da cidade, cujas exaltadas coletivas de imprensa lembram os repentes impetuosos do presidente checheno Ramzan Kadyrov, anunciou estar disposto a transformar a cidade em uma "nova Stalingrado". Ele também avisou que faria de tudo para impedir a realização da eleição presidencial prevista para o dia 25 de maio, ainda que tivesse de "tomar reféns e pendurá-los pelos colhões.".
No entanto, um desses reféns foi libertado na quinta-feira. Trata-se do jornalista americano Simon Ostrovsky, que havia sido retido durante dois dias e que o prefeito suspeitava que fosse um "informante do Pravyi Sektor", um grupo ultranacionalista ucraniano acusado também de roubos em lojas e ataques em massa nos vilarejos da região. Outros jornalistas ou ativistas ucranianos, que não estão oficialmente presos, foram dados como desaparecidos. A prefeita da cidade, Nelli Chtepa, ainda está "retida".
Foi também em Sloviansk, em um rio, que encontraram no dia 19 de abril o corpo torturado de Volodimir Rybak. Esse vereador de Gorlivka havia sido visto pela última vez no dia 17 de abril, ou seja, três dias depois que sua cidade foi invadida por milicianos pró-Rússia. Ele tentava então penetrar no prédio ocupado da prefeitura para ali pendurar, no lugar da bandeira da "República Popular de Donetsk", a bandeira ucraniana. Na época ele foi atacado por simples manifestantes antes de ser levado por homens encapuzados. Seu funeral, no domingo (20), não reuniu mais do que cinquenta pessoas.
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