terça-feira, 1 de abril de 2014

Memorial ao 11/9 enfrenta seu mais recente obstáculo: a inauguração
Patricia Cohen - NYT
Nada tem sido fácil em torno do Museu Nacional Memorial de 11 de Setembro. Sua localização, seu financiamento e suas exposições foram todos objetos de controvérsias rancorosas e negociações implacáveis.
Agora, com apenas algumas semanas para sua abertura oficial no dia 21 de maio, o museu subterrâneo à praça do World Trade Center precisa cruzar outro potencial campo minado político e emocional: a cerimônia de inauguração.
Os organizadores precisam considerar as expectativas e sensibilidades de dezenas de milhares de sobreviventes, famílias das vítimas, policiais, bombeiros, socorristas, trabalhadores, moradores do bairro e empresários, e uma série de líderes políticos antigos e atuais.
Com suas conexões especiais com o 11 de setembro, todos são considerados partes interessadas. Quem tem direito a visitar mais cedo? Quem merece a participar das cerimônias? Quem começará os discursos de inauguração?
Ao contrário do processo de planejamento do museu, que incorporou anos de sensibilização do público, discussão e análise, a abertura do museu foi organizada por um pequeno grupo de funcionários do museu, que trabalharam discretamente para satisfazer as diferentes demandas concorrentes sem perderem de vista a missão do museu.
E todos os cuidados tiveram que ser tomados para um local que combina a santidade de um cemitério, as preocupações de segurança de um aeroporto movimentado e a confusão de um canteiro de obras.
A inauguração terá início no dia 15 de maio - uma semana antes de o museu ser aberto ao público- com uma dedicação no alicerce, sete andares abaixo do nível do chão, diante de uma laje exposta de uma parede original do World Trade Center, um marco do museu subterrâneo.
A cerimônia no alicerce permite espaço para apenas 550-750 assentos. Como muitos são reservados para as autoridades convidadas, como o presidente Barack Obama e seus antecessores e os líderes políticos antigos e atuais de Nova York e Nova Jersey, as poucas centenas que sobraram serão distribuídas em uma loteria aberta a todas as partes interessadas oficialmente reconhecidas.
Joseph C. Daniels, presidente e executivo-chefe da fundação sem fins lucrativos que supervisiona tanto o memorial quanto o museu, explicou que, dada a cobertura global esperada, uma cerimônia no museu, que também é uma escavação arqueológica, oferece uma oportunidade única para apresentar a instituição a todo o mundo.
Ocorrendo uma semana antes da abertura ao público, essa cerimônia vai inaugurar um período de seis dias de eventos, quando o museu ficará aberto 24 horas por dia só para as partes interessadas, que podem agendar suas próprias visitas.
Os planos ainda estão evoluindo, disse Daniels, mas por trás dos inúmeros detalhes e decisões há um fio condutor único: o museu é um repositório de cada história de 11 de setembro.
Para explicar seu ponto, ele lembrou o memorial aberto na praça em 2011 e das comemorações anuais dedicadas aos quase 3.000 mortos, cujos nomes estão inscritos em bronze em torno das duas piscinas que marcam onde ficavam as torres gêmeas.
"O museu é um negócio diferente", disse Daniels. Ele foi criado para contar a história completa dos ataques terroristas de 2001, e os eventos de abertura refletem esse "mandato mais amplo", disse ele.
Esta abordagem estará clara na inauguração. O programa e os oradores serão vinculados a histórias e artefatos do museu, disse Daniels.
Apesar de não ter resolvido os detalhes, ele citou um possível exemplo: uma autoridade, como o antigo prefeito Rudolph W. Giuliani, poderá apresentar um dos ferreiros que trabalharam na obra.
O foco em histórias que representam todas as partes interessadas evita que o museu tenha que escolher entre os grupos constituintes e ajuda a evitar discursos políticos, admite Daniels.
As reações aos planos para as cerimônias de abertura são variadas, disse Mary Fetchet, que participa do conselho consultivo da fundação e cujo filho morreu na torre sul.
"Algumas famílias estão muito animadas com a abertura e pretendem participar, e outras estão apreensivas sobre o que vão ver e ouvir", disse Fetchet, que fundou o grupo de famílias 'Voices of September 11th'.
"E há outras que possivelmente nunca terão força suficiente para visitar o museu".
James Riches, sub-chefe aposentado do corpo de bombeiros que passou um ano no local de buscas, depois de perder seu filho homônimo nos ataques, estava descontente com os planos para a abertura.
"Eu acho que a prioridade nessa cerimônia de inauguração deveria ser para as pessoas que perderam seus entes queridos", disse ele.
Mas Debra Burlingame, cujo irmão era o piloto do jato da American Airlines que os sequestradores derrubaram no Pentágono, achou a abordagem do museu inspirada.
"Se eu aprendi alguma coisa sobre 11 de setembro é que as pessoas sentem-se donas emocionais daquele dia", disse Burlingame, que está no conselho de diretores da fundação, mas não se envolveu com a organização do evento.
"Homens e mulheres se ajoelharam e trabalharam", disse ela sobre os funcionários nas operações de resgate e reconstrução. "Eles viram coisas horríveis em nosso nome, e eu nunca diria 'tenho precedência sobre vocês'".
Burlingame também aprecia a ideia do museu ficar aberto 24 horas por dia, uma menção aos esforços de recuperação ininterruptos no local. "Será a primeira vez em todos esses anos que eu vou ver os destroços do avião do meu irmão", disse ela. Ela gostaria de viver este momento sozinha. A capacidade de marcar uma visita às 3h ou 4h da manhã permite que encontre um momento tranquilo.
A possibilidade de agendamento de visitas 24 horas por dia também é essencial para os bombeiros e outros que trabalham em horários incomuns, disse o comissário do Corpo de Bombeiros de Nova York, Salvatore J. Cassano.
Como Burlingame e Fetchet, ele descreveu a loteria como uma maneira justa de distribuir uma oferta limitada de ingressos para a cerimônia de 15 de maio. "Eu não sei de qual outra forma isso seria possível", disse Cassano. "Conheço milhares de pessoas gostariam de estar lá".
Até sábado, cerca de 10,5 mil pessoas haviam se inscrito para uma visita antecipada, e mais da metade tinha entrado na loteria para participar da inauguração. Outras 20 mil compraram ingressos on-line, por US$ 24 (em torno de R$ 60) cada, para visitar o local nos próximos meses.
Os preparativos continuam no museu. As fotografias das vítimas foram instaladas há duas semanas. Nas próximas semanas, os restos mortais não identificados encontrados no local serão transferidos do instituto médico legal da cidade para um repositório no alicerce, que será acessível através do museu - uma decisão que gerou muita discórdia durante anos.
Charles G. Wolf, cuja esposa, Katherine, morreu no dia 11 de setembro, disse que algumas das famílias entraram em contato com o gabinete do prefeito para que haja "algum tipo de procissão" acompanhando o movimento dos restos mortais, como um sinal de respeito.
Cassano disse que visitou o museu dois meses atrás. Mesmo com muitas obras ainda em andamento, ele disse: "A visita foi extremamente emocionante para mim e para alguns da minha equipe".
"Tantas lembranças vão voltar", disse ele. "Você vai ver alguma coisa e ficará congelado. Você vai ficar preso lá por um tempo. Definitivamente, é muito mais do que um programa de um dia".
Tradutor: Deborah Weinberg

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