terça-feira, 1 de abril de 2014

Para californianos, dois terremotos provocam novos preparativos
Adam Nagourney - NYT 
Faz 20 anos que o sul da Califórnia sofreu um grande terremoto, um tremor poderoso de magnitude 6.7 que percorreu Northridge, matando 57 pessoas. Mas esse período de calmaria sísmica, embora bem-vindo, evidentemente, minou os esforços para obrigar Los Angeles a enfrentar o que as autoridades descrevem como deficiências potencialmente mortíferas nos preparativos contra terremotos.
Isso pode estar mudando. Depois de dois terremotos seguidos na noite de sexta-feira - um relativamente pequeno, de magnitude 3.6, seguido por um longo e extenso de 5.1 -, Los Angeles foi sacudida por quase 175 choques menores. É a primeira vez que essa área sofre um terremoto de magnitude superior a 5 desde 1997, e ele ocorre duas semanas depois de outro abalo, de 4.4, ter acordado os moradores.
Nenhum desses incidentes causou ferimentos ou danos maiores, além de canos de água arrebentados e algumas casas que foram declaradas temporariamente inabitáveis. Mas os geólogos os consideram o fim previsível de um ciclo: um retorno ao que pode ser uma normalidade desconfortável, em que terremotos de magnitude 5 se tornam rotineiros.
"Os últimos 17 anos foram os mais tranquilos que já vimos", disse Lucile M. Jones, uma sismóloga da Vigilância Geológica dos EUA. "Talvez estejamos começando a voltar a níveis mais normais."
O surto de atividade sísmica ocorre em um momento crítico para esta parte do país, enquanto Los Angeles enfrenta crescentes críticas de que não tomou as medidas necessárias para reduzir as baixas nos terremotos. Seu novo prefeito, Eric Garcetti, adotou isto como um tema importante. Ele indicou Jones como assessora especial para traçar um plano de preparativos contra terremotos, seguindo a liderança de San Francisco e outras cidades.
Garcetti e Jones disseram que o maior obstáculo para levar Los Angeles a adotar medidas cruciais - a mais importante é reforçar centenas de antigos prédios de concreto que correm o risco de desabar - foi a falta de uma sensação de urgência, resultante do longo período de dormência sísmica. "Quando os terremotos acontecem e são grandes o suficiente para sentirmos mas pequenos o suficiente para não causar grandes danos, eles nos ajudam a causar a conscientização de que precisamos no sul da Califórnia", disse Garcetti em uma entrevista no domingo. "Todo mundo está falando disso. O lugar está fervendo com o assunto. Vou aproveitar isso e usar para nossas iniciativas."
Vivo Teti, 73, um guarda de segurança que vive em Fullerton, disse que quando voltou do trabalho na sexta-feira sua casa parecia uma zona de guerra, com móveis derrubados, abajures quebrados e quadros que tinham caído das paredes.
"Se você é natural da Califórnia, o problema é que você se torna complacente", disse Teti. "Você ouve falar de terremotos no noticiário, mas é sempre em algum outro lugar."
Garcetti disse que está preparando um plano para lidar com o que Jones, figura conhecida na Califórnia como a Dama do Terremoto, identificou como as três principais falhas nos preparativos para terremotos da cidade. O primeiro desafio é reformar prédios não reforçados, que poderiam desmoronar em um grande abalo, questão que promete atiçar os debates sobre o risco aceitável e quem deveria pagar por essa iniciativa muito cara.
Os outros dois são planejar para desabamentos catastróficos em suprimento de água e comunicação básica, pois muitos aquedutos e cabos de internet que suprem Los Angeles cruzam a falha geológica de San Andreas.
A decisão de Garcetti de levar Jones à prefeitura em uma nomeação por um ano, com reuniões semanais dedicadas à apresentação de terremotos, surgiu em meio a constantes lembretes da vulnerabilidade da região. Cerca de três meses atrás, um programa ambicioso para reconstruir grandes partes de Hollywood, incluindo edifícios altos, foi suspenso depois que geólogos do estado descobriram que uma grande falha corta o centro da área de reurbanização.
A reação aos abalos recentes - uma combinação de humor mordaz, sangue frio e alarme - foi intensificada pela mídia social e a internet, que quase não existiam na época do terremoto de Northridge em 1994.
O Twitter explodiu na sexta-feira à noite com pessoas compartilhando relatos, imagens e links para mapas cheios de áreas pintadas em vermelho e laranja, indicando perigo.
Os terremotos começaram no condado de Orange, a cerca de 150 quilômetros de Los Angeles. O abalo foi sentido na maior parte da bacia de Los Angeles. Em comparação com o terremoto de dois anos atrás, que chegou com um grande estrondo, este produziu um ruído prolongado.
Jones disse que suspeita de que a falta de atividade geológica intensa desde o terremoto de Northridge e o abalo de Landers com magnitude de 7.3 que ocorreu no remoto deserto de Mojave dois anos antes, eram responsáveis pela calma.
"Foi um terremoto muito grande que mais ou menos relaxou toda a área de LA", disse ela. "Retirou a energia da crosta."
Jones disse que os terremotos recentes tornariam mais fácil obter apoio político para medidas como obrigar os proprietários a pagar para reabilitar edifícios mais antigos. "Quando você tem danos, é muito mais fácil falar com as pessoas sobre o que é necessário para evitá-los", disse ela.
"Há vidas reais em jogo", disse Jones. "Nós sabemos com certeza que alguns edifícios vão matar pessoas quando desabarem."
Robert Silvey, dono de uma empresa de limpeza de carpetes em Fullerton, disse que ficou chocado com o choque inicial do terremoto, mas mais preocupado com os abalos posteriores.
"Eles continuaram ocorrendo", disse ele. "Provavelmente houve cem, e sentimos algumas dezenas. Cada vez que as janelas tremem, pegamos o cachorro e vamos para fora. Estamos um pouco nervosos."
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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