Os antitudo e a eleição
José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
Partidários de Dilma Rousseff agarram-se a uma conta
aritmética para brandir otimismo sobre sua reeleição: a soma das
intenções de voto dos outros candidatos é uma fração do eleitorado da
presidente. Conclusão aparentemente óbvia, Dilma não teria para quem
perder. Mas há sempre a chance de perder para si mesma.
Na pesquisa Ibope de abril, Dilma, mesmo em queda, marcou 37%,
enquanto Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e os sete anões
somaram apenas 25%. É a expressão do desconhecimento dos candidatos
anti-Dilma, mas também da sua incapacidade até agora de despertar o
eleitor. Toda a oposição junta equivale ao contingente de
desesperançados da política, aos antitudo.
Um a cada quatro eleitores está declarando voto nulo ou branco. É uma
taxa excepcionalmente alta para padrões brasileiros. Parece mais uma
forma de o eleitor expressar sua insatisfação com o sistema político em
vigor do que um plano para outubro. Na solidão da urna, todos esses
brasileiros vão invalidar os votos?
Pelo retrospecto, é improvável. A média histórica de votos inválidos é
ao menos metade do que aparece hoje nas pesquisas: se considerarmos
todos os primeiros turnos presidenciais entre 1989 e 2010, dá 12%, mas
caindo. Nos três últimos, a taxa baixou para 9%. E foi ainda menor nos
segundos turnos: 6%.
Por que, então, o branco/nulo está tão alto? Porque grande quantidade
de brasileiros não está nem aí para o que vai acontecer nas urnas.
Responder que vai anular ou votar em branco é, também, um jeito menos
vexatório de dizer "não sei".
Três de quatro eleitores que estão hoje no branco/nulo dizem ter
nenhum ou pouco interesse no pleito de outubro. Já entre os eleitores de
Dilma, Aécio e Eduardo a maioria declara ter muito ou médio interesse
na eleição. Ou seja, quem já se decidiu é o eleitor mais politizado ou
que ainda acredita na política. Os demais só vão fazer sua opção quando
não tiverem outra saída.
A implicação desses números é que, mantida a tendência histórica, a
maioria dos eleitores que aparecem hoje na coluna do branco e nulo vai
migrar para algum dos candidatos a presidente no decorrer da campanha
eleitoral. Mas para qual?
Raramente para a incumbente. Na pesquisa Ibope de abril, 75% dos
eleitores que declararam que votariam em branco ou anulariam escolheram a
seguinte frase para descrever sua opinião sobre Dilma: "Não votaria
nela de jeito nenhum para presidente". Apenas 12% admitiram a
possibilidade de votar na petista. O resto não soube responder ou não a
conhece o suficiente.
Se não será majoritariamente para Dilma, para quem, então, migrarão
os eleitores insatisfeitos? Aécio Neves e Eduardo Campos têm chances
equivalentes entre si, mas não muito maiores do que a presidente: 63%
dos antitudo não votariam de jeito nenhum no tucano, e 61% dizem o mesmo
sobre o pernambucano.
O problema parece estar também na imagem dos candidatos de oposição,
ambos netos e herdeiros de políticos tradicionais. Mesmo mais conhecida
do que Eduardo e Aécio, Marina Silva teria, se candidata, menor rejeição
entre os insatisfeitos. Só 53% dos antitudo se dizem também
anti-Marina. Entre eles, ela vai melhor até do que Lula, que alcança 60%
de rejeição nesse grupo.
A rejeição maior a Dilma indica que alguém da oposição teria mais chances de conquistar o voto dos insatisfeitos. Mas não só.
CEO do Ibope Inteligência, Marcia Cavallari comparou o perfil dos
eleitores que declaram voto na presidente, na oposição e em ninguém. Da
geografia à escolaridade, passando por renda, cor e religião do eleitor,
quem diz que votaria nulo ou em branco é muito mais parecido com o
eleitor oposicionista do que com quem declara voto em Dilma. É o que
basta? Depende da presidente.
Se confiar apenas na aritmética e não conquistar parte dos antitudo, Dilma deve desocupar o Planalto antes do previsto.
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