Reinaldo Azevedo - VEJA
Na
sabatina de que participou na Confederação Nacional da Indústria, a
presidente Dilma Rousseff voltou a atacar o que chamou de “surtos de
pessimismo”, afirmando, para certo espanto geral, que uma das marcas de
sua gestão foi ter “resgatado a política industrial, superando
preconceito dos que, durante muito tempo, disseram que o Brasil não
precisava de política industrial”. Huuummm… Quais são exatamente as
medidas do governo Dilma que podem ser consideradas uma “política
industrial”? A rigor, com uma administração um pouquinho mais competente
das políticas monetária e cambial e com outras prioridades, nem seria
necessário ter uma “política industrial”.
A fala da
presidente Dilma indica que o governo perdeu a capacidade de enxergar o
que vem adiante. Administram-se dificuldades contingentes, com
incentivos aqui, desonerações ali… Não é, obviamente, política
industrial. Na verdade, não chega a ser nem política econômica.
A
presidente falou coisas que afrontam escandalosamente a verdade.
Referindo-se à crise de 2008, afirmou a nossa soberana: “Preparamos a
base para a retomada do crescimento. Não desorganizamos a economia, como
se fazia no passado. Não recorremos sistematicamente ao FMI”. Ah,
presidente! Esse tipo de conversa pode funcionar para outro público;
pode servir para a retórica palanqueira… Mas na CNI? O partido que votou
contra o Plano Real e recorreu ao STF contra a Lei de Responsabilidade
Fiscal vem dizer que “não desorganizamos a economia como no passado”? E
não custa lembrar: o país só recorreu ao FMI em 2002 por causa do risco
PT. O mercado levava o partido a sério e acreditava que ele iria fazer o
que prometia. Ou por outra: apostou que o PT fosse intelectualmente
honesto e praticasse o que pregava. Felizmente, os petistas não
acreditavam no seu próprio credo.
Num dado
momento de sua exposição, Dilma se atrapalhou toda: subtraiu 4 de 13 e
encontrou 7. Corrigiu-se em seguida e chegou a 9. Tentou falar do
furacão Katrina, mas se atrapalhou e se referiu “àquilo” — cujo nome não
se lembrava (era o tsunami) — que aconteceu, segundo ela, em Fugujima,
seja lá onde fique essa cidade. Ninguém entendeu nada. Mas, creiam, não
foi o momento mais confuso de sua exposição. Foi apenas o mais
engraçado.
Dilma
participava da sabatina no dia em que veio a público a informação de que
a economia americana cresceu acima da expectativa. No horizonte de
curto prazo, estão a elevação dos juros americanos e a possível fuga do
Brasil de investimentos de curto e de médio prazo. Nesta terça, o FMI
anteviu que essa é uma das precondições que podem jogar a economia
brasileira numa nova crise. Guido Mantega tentou desancar o FMI. Os
fatos pendem para o lado do Fundo. O que Dilma tem a dizer a respeito?
Na década
de 70, Caetano lançou a música “Qualquer Coisa”, em que se ouve: “Você
tá pra lá de Teerã”… Dilma está pra lá de “Fugujima”!!!
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