quarta-feira, 30 de julho de 2014

O petista Padilha quer punir os paulistas com racionamento para ver se escorrem votos das torneiras secas
Reinaldo Azevedo - VEJA
Há um fenômeno curioso em curso. Alguns setores não se conformam que não exista ainda racionamento de água em São Paulo. Exigem que as torneiras dos paulistas fiquem secas para que suas respectivas teses possam se cumprir.
A ação mais curiosa vem de setores do Ministério Público Federal, que, parece, se esqueceram de que não foram eleitos para governar: não são, afinal de contas, Poder Executivo — não que se saiba ao menos. Nesta segunda, eles recomendaram que a Sabesp apresente um projeto para a adoção imediata do racionamento de água nas regiões atendidas pelo Sistema Cantareira e ameaçam com a adoção de medidas judiciais caso não sejam atendidos. Os doutores dizem ter em mãos estudos que apontam o risco de o sistema secar inteiramente em 100 dias. Os estudos da Sabesp são outros e, por enquanto, descartam o racionamento.
Não é preciso ser muito bidu para constatar que o racionamento vai punir, é evidente, os mais pobres. As casas e condomínios com grandes reservatórios de água não sentirão muito os efeitos da medida. Já as residências pobres, das periferias… Mas sabem como é: há um esforço evidente para politizar a questão.
O candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, resolveu fazer uma ironia nesta terça e cobrou que o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, “tire o racionamento do armário”. E afirmou, afetando o que parecia ser um orgulho: “Nós fomos a candidatura que mostrou, pela primeira vez, a irresponsabilidade do governo do Estado de São Paulo de não ter feito nenhuma das obras que estavam listadas há dez anos e colocar São Paulo numa situação de risco real de falta d’água”.
Pois é… O PT disputa com candidato próprio o governo de São Paulo desde 1982. Procurem, nestes 32 anos, quando foi que o partido tocou no assunto. A resposta, obviamente, é “nunca” — pela simples e óbvia razão de que o problema não existia. São Paulo, em especial a região da Cantareira, enfrenta a maior seca de sua história — a mesma que pressiona parte do setor elétrico na Região Sudeste.
Há ainda outra coisa curiosa: a campanha em favor da economia, o bônus a clientes que reduzam o consumo e a diminuição da pressão estão se mostrando eficazes. O simples racionamento pode ser contraproducente porque o consumidor tende a estocar água quando volta o fornecimento.
Mais: a Sabesp tem como ações alternativas a transferência de vazões dos sistemas Alto Tietê, Guarapiranga e Rio Grande — para atender as regiões servidas pelo Cantareira — e o uso da “reserva técnica”, estupidamente chamada de “volume morto”.  Aliás, seria “morto”, de fato, se ficasse lá para ninguém, enquanto as torneiras estivessem esturricadas.
Seria muito bom que, numa frente, o Ministério Público deixasse as questões de governo para quem foi eleito para governar — tendo a humildade intelectual, que é sabedoria, de ouvir as explicações técnicas da Sabesp. Sempre lembrando que o racionamento provoca graves problemas de manutenção na rede de distribuição. E seria bom que os políticos parassem de contar com o sofrimento do povo para conquistar alguns votos.
É isto: o petista Padilha quer secas as torneiras dos paulistas para ver se, de lá, escorrem alguns votos. Afinal, o seu estoque eleitoral está mais minguado do que o sistema Cantareira.
O Brasil certamente será melhor quando os políticos tentarem transformar em voto a alegria, não a tristeza.

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