Reinaldo Azevedo - VEJA
Há
um fenômeno curioso em curso. Alguns setores não se conformam que não
exista ainda racionamento de água em São Paulo. Exigem que as torneiras
dos paulistas fiquem secas para que suas respectivas teses possam se
cumprir.
A ação
mais curiosa vem de setores do Ministério Público Federal, que, parece,
se esqueceram de que não foram eleitos para governar: não são, afinal de
contas, Poder Executivo — não que se saiba ao menos. Nesta segunda,
eles recomendaram que a Sabesp apresente um projeto para a adoção
imediata do racionamento de água nas regiões atendidas pelo Sistema
Cantareira e ameaçam com a adoção de medidas judiciais caso não sejam
atendidos. Os doutores dizem ter em mãos estudos que apontam o risco de o
sistema secar inteiramente em 100 dias. Os estudos da Sabesp são outros
e, por enquanto, descartam o racionamento.
Não é
preciso ser muito bidu para constatar que o racionamento vai punir, é
evidente, os mais pobres. As casas e condomínios com grandes
reservatórios de água não sentirão muito os efeitos da medida. Já as
residências pobres, das periferias… Mas sabem como é: há um esforço
evidente para politizar a questão.
O
candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, resolveu
fazer uma ironia nesta terça e cobrou que o governador Geraldo Alckmin,
do PSDB, “tire o racionamento do armário”. E afirmou, afetando o que
parecia ser um orgulho: “Nós fomos a candidatura que mostrou, pela
primeira vez, a irresponsabilidade do governo do Estado de São Paulo de
não ter feito nenhuma das obras que estavam listadas há dez anos e
colocar São Paulo numa situação de risco real de falta d’água”.
Pois é… O
PT disputa com candidato próprio o governo de São Paulo desde 1982.
Procurem, nestes 32 anos, quando foi que o partido tocou no assunto. A
resposta, obviamente, é “nunca” — pela simples e óbvia razão de que o
problema não existia. São Paulo, em especial a região da Cantareira,
enfrenta a maior seca de sua história — a mesma que pressiona parte do
setor elétrico na Região Sudeste.
Há ainda
outra coisa curiosa: a campanha em favor da economia, o bônus a clientes
que reduzam o consumo e a diminuição da pressão estão se mostrando
eficazes. O simples racionamento pode ser contraproducente porque o
consumidor tende a estocar água quando volta o fornecimento.
Mais: a
Sabesp tem como ações alternativas a transferência de vazões dos
sistemas Alto Tietê, Guarapiranga e Rio Grande — para atender as regiões
servidas pelo Cantareira — e o uso da “reserva técnica”, estupidamente
chamada de “volume morto”. Aliás, seria “morto”, de fato, se ficasse lá
para ninguém, enquanto as torneiras estivessem esturricadas.
Seria
muito bom que, numa frente, o Ministério Público deixasse as questões de
governo para quem foi eleito para governar — tendo a humildade
intelectual, que é sabedoria, de ouvir as explicações técnicas da
Sabesp. Sempre lembrando que o racionamento provoca graves problemas de
manutenção na rede de distribuição. E seria bom que os políticos
parassem de contar com o sofrimento do povo para conquistar alguns
votos.
É isto: o
petista Padilha quer secas as torneiras dos paulistas para ver se, de
lá, escorrem alguns votos. Afinal, o seu estoque eleitoral está mais
minguado do que o sistema Cantareira.
O Brasil certamente será melhor quando os políticos tentarem transformar em voto a alegria, não a tristeza.
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