Profecias e realidade
ELIANE CANTANHÊDE - FSP
BRASÍLIA
- Ou a presidente Dilma Rousseff deu azar, ou houve uma conspiração.
Enquanto ela dizia que a economia vai muito bem, obrigada, e fazia um
apelo na CNI para que empresários não se deixem levar por "profecias
pessimistas", novas notícias que minam esse discurso viravam manchetes
nos jornais online.
Logo ontem, quando Dilma, Aécio Neves e
Eduardo Campos faziam contorcionismos para impressionar bem o
empresariado, veio a informação de que a recuperação econômica dos EUA
está sendo mais forte do que previsto. A potência cresceu a uma taxa
anual de 4% no segundo trimestre, o que pode levar o crescimento a 2% no
ano. A expectativa para o Brasil é em torno de mísero 1%.
No
discurso de Dilma, o Brasil amarga esse pibinho por causa das potências,
das influências externas, da crise de 2008 e, afinal, gente, porque
todo mundo está crescendo pouquinho mesmo. A novidade dos EUA mostra que
não é bem assim. E isso, claro, embaralha os pretextos da presidente
candidata para os resultados pífios da economia. É preciso arranjar
outros pretextos rapidinho.
E foi justamente durante o discurso
de Dilma na CNI que o Tesouro Nacional --veja bem, que é do governo,
chefiado pela presidente-- deu uma outra má notícia, pior ainda para ela
e para o empresariado: o saldo entre receitas e despesas do governo
federal no primeiro semestre foi o pior dos últimos 14 anos. Ou seja,
com crescimento tão raquítico, a arrecadação cai; com o ano eleitoral, a
gastança pública sobe.
Daí que o governo promete, promete, mas
não tem como cumprir o compromisso de poupar R$ 80,8 bilhões em 2014,
simplesmente porque, na metade do ano, só conseguiu atingir 21% dessa
meta. E não porque seja bonzinho, porque sacrifique índices para
favorecer os pobres da nação, mas porque não está gerindo adequadamente a
economia, nem os gastos.
O empresário sabe distinguir "profecia pessimista" de constatação.
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