Reinaldo Azevedo - VEJA
Finalmente,
um pouco de bom senso contra a irracionalidade. O Ministério Público
Estadual entrou com uma ação civil pública contra a Prefeitura de São
Paulo, conforme anunciou que faria, para pôr fim aos privilégios de que
passou a gozar o tal MTST — Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto — na
distribuição de moradias na cidade. O dito movimento, comandado pelo
coxinha radical Guilherme Boulos, transformou-se numa espécie de gestor
informal dos programas de moradia da cidade. Pior: a Prefeitura mantém
em sigilo, contra a lei, o cadastro dos inscritos. A questão se
transformou num jogo de compadres. Boulos e seus comandados ajudaram a
fazer a campanha eleitoral do senhor Fernando Haddad, do PT, e Haddad,
como paga, talvez, fez deles sócios preferenciais de sua gestão. É
ilegal. É imoral. É discriminatório.
Como agem
Boulos e seus sequazes? Segundo a lógica da tropa de assalto ao poder e
ao Estado! Atropelam a administração e furam a fila dos inscritos. Na
prática, essa gente privatizou os programas de moradia. Afirma em sua
ação o promotor Mauricio Antônio Ribeiro Lopes: “Trata-se de privilegiar
o absurdo dos absurdos! Aceitar-se o descontrole em nome de política
rasa de privilégio a grupos em troca de votos ao invés de respeitar o
direito de milhares”. É isso mesmo! O promotor vai além: “O que pretende
na verdade o Movimento? Destinação privilegiada de áreas públicas ou
particulares para edificação de moradia para os seus associados ou
simpatizantes [...], com burla à lista de inscritos que esperam há anos
pelo almejado sonho da casa própria”.
Mais uma
vez, nada a corrigir. É exatamente isso o que está em curso. Boulos
também é colunista da Folha, como sou. Em seu mais recente texto, ele
decidiu me atacar e a meus leitores. Afirma que represento, imaginem
vocês, um perigo porque começo a “juntar adeptos, movidos por ódio,
preconceitos e mentiras”. Esse é o cara que comandou, por exemplo, uma
invasão no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Uma invasão, na verdade,
feita de barracas, não de pessoas. Ou por outra: os seus sem-teto eram
uma farsa. Trata-se, enfim, de uma especialista em ódio, preconceitos e
mentiras.
O promotor
aponta o óbvio: a concessão de privilégios aos comandadoos do senhor
Boulos agride o direito de terceiros e fere a Constituição. Escreve ele:
“O que se vê do duelo entre Administração Pública e as consequências da
luta política do MTST é a fragilização do direito de igualdade dos que
aguardam em condições ordeiras, há anos, ser chamados para obtenção de
financiamento habitacional”. Traduzindo: quem está tendo seus direitos
agravados não são os ricos, os poderosos, como tentam fazer crer Boulos e
seus apaniguados, mas os pobres. É preciso, em suma, não confundir uma
pessoa que não tem casa própria com um comandado do MTST. O primeiro é
um pobre de verdade; o segundo é um militante político, que usa a
pobreza para impor uma ideologia.
Numa
patética entrevista concedida à Folha desta quinta, afirma o prefeito
Fernando Haddad: “Cobra-se muito a revolução [em São Paulo] desde que
não se mexa em nada. Isso é impossível. Como eu estou disposto a mudar a
cidade, vou seguir a minha intuição de que existe uma chance de que a
cidade descubra um destino para o qual ela está vocacionada. Essa cidade
pode mais.”
É mesmo?
Em primeiro lugar, quem é que está a cobrar a revolução? Que revolução é
essa? Qual é seu conteúdo? Em segundo lugar, observo que essa historia
de cidades ou países terem um “destino” e uma “vocação” é papo de
políticos fascistoides, que se julgam ungidos pela história.
A conversa
de Haddad ilustra muito bem, enfim, por que sua gestão é rejeitada por
47% dos paulistanos e aprovada por apenas 15%. Sua entrevista deixa
entrever que há espaço para cair ainda mais.
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