Rodrigo Constantino - VEJA
Francisco Tosco, digo, Bosco, é realmente
uma figura! A cada novo artigo, a certeza de que vem muita porcaria,
ainda que embalada em um linguajar pseudo-erudito para dar um ar de
pensador profundo. Ah, como as mentes rasas e confusas se escondem atrás
de um simulacro de profundidade!
Mas vamos ao que interessa. Em sua coluna
de hoje, após muitos rodeios, o “grande pensador” de esquerda chega a
uma conclusão incrível: os paulistas votam em Alckmin porque nossa
televisão aberta é um lixo! Eis o que ele diz, com base em outra
pensadora que representa muito bem a tal esquerda caviar:
No livro
“Videologias”, um ensaio crítico sobre a televisão, Maria Rita Kehl
observa que o registro da imagem prescinde do pensamento. A imagem é
completa em si mesma e se oferece ao espectador como “um microfragmento
de gozo”. Ao contrário, o pensamento pertence ao registro da falta (o
simbólico pressupõe uma ausência), e por isso sua condição é a errância
permanente, as elaborações incessantes. Daí a letargia que o fluxo de
imagens produz no espectador: onde há a imagem, há completude. Situemos
essa afirmação no contexto de uma sociedade do espetáculo, e
vislumbraremos seu alcance.
Rita Kehl
observa que esse efeito independe do conteúdo das imagens. Verdade, mas é
preciso notar que a ausência sistemática de vazio no interior das
imagens televisivas, a ausência de reflexão crítica, de pausa para
elaboração, intensifica seus efeitos. Assim, a violência é tratada de
forma puramente imaginária (Datena, Wagner Montes etc.), sem jamais ser
remetida a causas estruturais, tendendo a produzir respostas violentas
no espectador; as ideologias e os preconceitos são reproduzidos de forma
naturalizada, e assim se perpetuam; a distração é o próprio conteúdo da
imagem, potencialmente distrativa por si mesma. Tudo somado, podemos
definir a televisão aberta brasileira como um fluxo permanente de
imagens imaginárias.
E depois não entendemos por que Alckmin pode ter 54% de intenções de votos.
Expressões como “microfragmento do gozo”
ou “errância permanente” servem apenas para causar a impressão de
pensamento profundo nos incautos, mas a tecla SAP aponta o que se quer
com essa lengalenga toda: culpar a televisão pela provável reeleição do
tucano.
A televisão serviria apenas para incutir
preconceitos nos telespectadores, e as imagens impediriam qualquer
raciocínio crítico. Uma massa de alienados ficaria eternamente distraída
diante da caixa mágica, incapaz de compreender coisa alguma. E isso,
claro, explica as intenções de votos em Geraldo Alckmim.
Explica também as intenções de votos em
Dilma, ou as eleições de Lula e da própria Dilma antes? Claro que não!
Não seja bobo, leitor! A televisão é instrumento de alienação somente
dos paulistas, que se recusam a enxergar no PSOL ou no PT caminhos
fantásticos para a prosperidade, aquela existente na Venezuela.
Se Alexandre Padilha não decola e
Gilberto Maringoni é um ilustre desconhecido do povo, isso é
responsabilidade da televisão maligna. Se Lula e Dilma são eleitos, isso
é prova de que o povo pensa e tem senso crítico, blindado contra as
maledicências televisivas e sem influência alguma de esmolas estatais.
Um completo bocó desses é o guru de muito
artista e “intelectual” da nossa esquerda, e tem coluna semanal no
jornal do grupo GLOBO, o mesmo da televisão manipuladora dos paulistas
“boçais”. E depois não entendemos por que Dilma pode ter 40% de intenção
de votos…
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