João Bosco Rabello - OESP
Quando percebeu que sua lista de eleitores parlamentares não tinha a confiabilidade que lhe atribuíra, Maluf recorreu ao instituto da fidelidade para cobrar o voto partidário, numa tentativa de vestir a camisa de força nos seus próprios aliados.
Com a derrota de Mário Andreazza, preferido dos militares como candidato oficial, Maluf ocupara esse espaço, mas sua rejeição na caserna mostrou que as negociações de bastidores conduzidas por Tancredo tornaria a fidelidade mera peça de ficção.
Maluf perdeu no Tribunal Superior Eleitoral seu apelo para enquadrar os infiéis que se bandeavam para a candidatura que gerava expectativa de vitória. Acrescente-se ao episódio a fragilidade institucional que ainda vigorava, e a insegurança a ela correspondente, e tem-se a consolidação do exercício político como valor maior que a regra formal.
A memória vem a propósito da luta do vice-presidente Michel Temer, reinvestido no cargo de presidente do PMDB, para enquadrar o candidato do partido, Paulo Skaf, que resiste a abrir seu palanque em São Paulo à presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT.
Temer cobra a Skaf apoio a Dilma em São Paulo, onde o índice de rejeição da presidente é de 50%, o que explica a objeção do candidato do PMDB. E o faz em circunstância que nem o aspecto legal o apoia: com a quebra da verticalização pelo Congresso, as alianças regionais não precisam estar alinhadas à nacional.
Resta, pois, o argumento político, que não está com o presidente do PMDB, mas com o candidato do partido. Segundo na disputa eleitoral, Skaf tem biografia e perfil ideológico que o tornam o adversário natural do PT, com o qual o eleitor se identificou na proporção das intenções de voto que lhes são computadas nas pesquisas.
A pressão do vice-presidente e do PT, portanto, é a de que Skaf reme contra a corrente para comprometer seus mais de 20% nas pesquisas abraçando quem tem o dobro desse percentual em rejeição, certamente eleitores que votarão, nele, Skaf, e no candidato do PSDB à reeleição, Geraldo Alckmin, com 45% das intenções de voto.
Para Alckmin seria ótimo a capitulação do presidente da Fiesp ao vice-presidente e ao PT, pois seria o beneficiário natural da transferência dos votos perdidos por Skaf no caso de ceder às pressões por Dilma.
Skaf hoje é uma terceira via bem sucedida, à frente do PT nas pesquisas, quebrando por ora a polarização histórica no Estado. Esse é o objetivo de sua candidatura e atender ao PT equivale a dele abdicar em favor de uma candidata que não gera expectativa de vitória no Estado, como também fica claro na dificuldade do candidato regional do PT, Alexandre Padilha, com 4% nas pesquisas, em decolar.
O cenário de São Paulo não é diferente do que se verifica em outros Estados, como Rio de Janeiro, Bahia, Ceará, para ficar nos mais notórios, em que a dissidência alta fez do PMDB parceiro regional do PSDB, com reflexos na campanha nacional.
E o fenômeno não se restringe ao partido de Temer. O PSD, aliado da reeleição de Dilma, está acertado com o PSDB e PSB em mais de uma dezena de Estados, em recorrente demonstração de prevalência da realidade política sobre os acordos de cúpula.
O diagnóstico é simples: a candidatura da presidente Dilma Rousseff não gera a mesma expectativa de 2010, o que até certo ponto segue a lógica dos desgastes inerentes a governos. No caso atual, agravado pela crise econômica, cuja maquiagem passou a ser o foco da gestão da área econômica.
Para Skaf, fidelidade a Temer significa infidelidade ao eleitor, escolha que ele parece já ter feito. Para o governo, a insistência pública amplia a percepção do eleitorado sobre o declínio do PT em São Paulo, no contexto da perda crescente de capital político pelo partido.
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