Política de subsídios não rende benefícios esperados
O programa de
incentivos à aviação comercial regional, necessária ao país, já nasceu
com dúvidas e críticas à sua eficácia por incluir rotas já existentes
O Globo
Um
país com dimensões continentais, com um agronegócio em franca ascensão,
precisa de fato dar mais atenção à aviação regional. Para isso, são
necessários investimentos na infraestrutura aeroportuária e estímulos
para que companhias aéreas constituam frotas apropriadas ao atendimento
das rotas que aproximem a cidades do interior dos grandes centros.
O
governo federal acaba de baixar uma medida provisória (de número 652)
com esse intuito, mas o programa já nasce com distorções. É que cem
rotas existentes, muitas das quais rentáveis, também serão alvo do
programa, e, nesse caso, o governo deverá subsidiar quem não precisa.
Incentivos
fiscais e proteção temporária a setores nascentes são políticas
admitidas nos acordos internacionais de livre comércio. Sem algum tipo
de estímulo fiscal, regiões pouco desenvolvidas têm dificuldades de
romper barreiras que as separam do progresso.
Mas a questão no
Brasil é que os subsídios se tornaram o principal instrumento do governo
federal para dar impulso a segmentos ou a empresas sem que os
benefícios para o conjunto da sociedade sejam visíveis.
Por
pressão da opinião pública e do próprio Congresso, o governo passou a
explicitar o custo fiscal de alguns programas. Nessas contas agora
aparecem a diferença entre os juros subsidiados de financiamentos do
BNDES e os rendimentos dos títulos do Tesouro que lastreiam essas
operações. Em face dessa diferença, o governo contraiu enorme dívida com
o banco estatal, que já anda na casa das centenas de bilhões.
As
chamadas desonerações tributárias também atingiram o patamar de dezenas
de bilhões. Setores e empresas foram favorecidas, e nem por isso a
indústria como todo e o conjunto da economia se tornaram mais
competitivas. Ao contrário, essa política de favorecimentos fez com a
dívida bruta do setor público voltasse a crescer, comprometendo um dos
fundamentos que vinham servindo de alicerce para recuperação da economia
brasileira.
Essa expansão da dívida bruta ampliou a necessidade
de maiores superávits primários nas finanças governamentais. Mas essas
ficaram debilitadas pelas políticas de desonerações e subsídios, que não
redundaram em crescimento da economia e da arrecadação tributária. Tal
dificuldade se refletiu nas expectativas dos mercados, antes positivas, e
que passaram a ser negativas em relação ao futuro próximo.
Por
essa razão, um programa necessário, como o da aviação comercial
regional, dá seus primeiros passos cercado de desconfianças. Se tivesse
havido um maior empenho em prol de uma reforma tributária mais ampla,
talvez essas questões não estivessem mais sendo discutidas.
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