sábado, 3 de janeiro de 2015

 Xenofobia e populismo na Europa
Merkel, Hollande e Napolitano chamam à responsabilidade classe política do continente, diante de sinais inquietantes causados pela difícil conjuntura econômica
O Globo
A persistência de indicadores econômicos preocupantes na zona do euro e a possibilidade de um novo período de turbulência na Grécia, que antecipou as eleições para dia 25, puseram em evidência novas manifestações de xenofobia e populismo na Europa. Esse cenário levou três importantes líderes do continente a criticar o preconceito e o repúdio aos imigrantes, e a advertir partidos nacionalistas, na extrema direita, mas também na extrema esquerda, a não tentar tirar vantagens da situação.
Em seu pronunciamento de Ano Novo, a chanceler alemã Angela Merkel, mais importante líder europeia, atacou os organizadores de protestos anti-islâmicos no país, acusando-os de terem os corações “cheios de preconceito e, até, de raiva”. Ela não se referiu pelo nome, Pegida, ao movimento que reuniu grandes multidões em Dresden e outras cidades alemãs, mas demonstrou claramente que era dele que falava ao dizer que tais protestos discriminam pessoas de diferentes etnias e religiões.
Já o presidente da França, François Hollande, mirou na líder da Frente Nacional (de extrema-direita), Marine Le Pen, ao prometer lutar contra o que chamou de “conservadorismo arraigado” e posições políticas “perigosas”. A Frente Nacional vem crescendo no ambiente de estagnação econômica no país, sobretudo diante da incompetência demonstrada pelos socialistas de Hollande para encontrar alternativas viáveis, o que se pode dizer também da centro-direita francesa, carente de líderes.
O terceiro líder europeu pronunciou-se com a autoridade moral que acompanha os presidentes italianos, figuras de grande experiência política e elevada reputação. Aos 89 anos, em seu segundo mandato (está no cargo desde 2006 e renunciará em breve, pela idade), Giorgio Napolitano focou na necessidade de combater o crime e a corrupção, mas também “os perigosos apelos populistas” para que a Itália, ainda em crise, abandone o euro.
Os três líderes fazem um chamamento à responsabilidade da classe política europeia, o que tem seu valor diante da conjuntura no continente, em que a economia custa a se recuperar. Recentemente, o Banco Central Europeu (BCE) informou que o crescimento da zona do euro no ano passado ficou em apenas 0,8%, ao mesmo tempo em que reduziu de 1,6% para 1% a projeção para 2015.
O apelo bem poderia valer também para os eleitores gregos, que dia 25 irão às urnas escolher um novo governo. Está à frente nas pesquisas o líder da oposição, Alexis Tsipras, do partido de extrema-esquerda Syriza, contrário ao programa de austeridade imposto à Grécia pelas autoridades internacionais para manter o país solvente e na zona do euro. Espera-se que, se for o vencedor, Tsipras não jogue a Grécia num turbilhão que abalaria a frágil construção do euro e retardaria ainda mais o início da recuperação europeia. Esse risco já ocorreu no passado.

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