Xenofobia e populismo na Europa
Merkel, Hollande e Napolitano chamam à
responsabilidade classe política do continente, diante de sinais
inquietantes causados pela difícil conjuntura econômica
O Globo
A persistência de indicadores econômicos preocupantes na zona do euro e
a possibilidade de um novo período de turbulência na Grécia, que
antecipou as eleições para dia 25, puseram em evidência novas
manifestações de xenofobia e populismo na Europa. Esse cenário levou
três importantes líderes do continente a criticar o preconceito e o
repúdio aos imigrantes, e a advertir partidos nacionalistas, na extrema
direita, mas também na extrema esquerda, a não tentar tirar vantagens da
situação.
Em seu pronunciamento de Ano Novo, a chanceler alemã Angela Merkel,
mais importante líder europeia, atacou os organizadores de protestos
anti-islâmicos no país, acusando-os de terem os corações “cheios de
preconceito e, até, de raiva”. Ela não se referiu pelo nome, Pegida, ao
movimento que reuniu grandes multidões em Dresden e outras cidades
alemãs, mas demonstrou claramente que era dele que falava ao dizer que
tais protestos discriminam pessoas de diferentes etnias e religiões.
Já o presidente da França, François Hollande, mirou na líder da
Frente Nacional (de extrema-direita), Marine Le Pen, ao prometer lutar
contra o que chamou de “conservadorismo arraigado” e posições políticas
“perigosas”. A Frente Nacional vem crescendo no ambiente de estagnação
econômica no país, sobretudo diante da incompetência demonstrada pelos
socialistas de Hollande para encontrar alternativas viáveis, o que se
pode dizer também da centro-direita francesa, carente de líderes.
O terceiro líder europeu pronunciou-se com a autoridade moral que
acompanha os presidentes italianos, figuras de grande experiência
política e elevada reputação. Aos 89 anos, em seu segundo mandato (está
no cargo desde 2006 e renunciará em breve, pela idade), Giorgio
Napolitano focou na necessidade de combater o crime e a corrupção, mas
também “os perigosos apelos populistas” para que a Itália, ainda em
crise, abandone o euro.
Os três líderes fazem um chamamento à responsabilidade da classe
política europeia, o que tem seu valor diante da conjuntura no
continente, em que a economia custa a se recuperar. Recentemente, o
Banco Central Europeu (BCE) informou que o crescimento da zona do euro
no ano passado ficou em apenas 0,8%, ao mesmo tempo em que reduziu de
1,6% para 1% a projeção para 2015.
O apelo bem poderia valer também para os eleitores gregos, que dia 25
irão às urnas escolher um novo governo. Está à frente nas pesquisas o
líder da oposição, Alexis Tsipras, do partido de extrema-esquerda
Syriza, contrário ao programa de austeridade imposto à Grécia pelas
autoridades internacionais para manter o país solvente e na zona do
euro. Espera-se que, se for o vencedor, Tsipras não jogue a Grécia num
turbilhão que abalaria a frágil construção do euro e retardaria ainda
mais o início da recuperação europeia. Esse risco já ocorreu no passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário