William Neuman - NYT
O presidente da Venezuela pede por cortes no orçamento à medida que a
alta queda nos preços do petróleo reduz a receita de exportação do país.
O Peru relaxou as regulações ambientais para abrir caminho para grandes
projetos de mineração, na esperança de aumentar a produção diante da
queda nos preços do cobre, ouro e outros metais. No Brasil, prejudicado
pela queda nos preços das exportações de minério de ferro e soja, um
novo ministério deverá reduzir gastos e eliminar os incentivos fiscais
para escorar as finanças do governo.
Por uma década, o
continente foi transformado pelo crescimento econômico sustentado e por
reduções históricas na pobreza, movidos por um boom nos preços dos
commodities abundantes da região, incluindo petróleo, gás natural,
cobre, ouro, ferro, soja e milho.
Mas agora que o boom acabou, os preços desses produtos estão caindo e uma questão paira sobre a região. Será que os bons tempos serão seguidos por tempos ruins, como aconteceu repetidamente ao longo de décadas? Será que os governos reagirão da mesma forma que antes, acumulando dívidas e ignorando os sinais de perigo?
Ou será que as coisas serão diferentes desta vez?
"Nós entramos em uma nova etapa", disse José Antonio Ocampo, ex-ministro das Finanças da Colômbia, que é professor da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade de Columbia, em Nova York. "Eu não acho que os governos perceberam plenamente que isso está ocorrendo e que precisam mudar suas políticas."
Mas há sinais, ele disse, que muitos países na região estão mais bem posicionados agora do que no passado para lidar com o desafio. "Nós já estamos em um período de menor crescimento econômico e a questão é, 'o que virá a seguir?'" disse Jorge Familiar, o vice-presidente para a América Latina e Caribe do Banco Mundial. "Há 10 ou 15 anos nós estaríamos falando sobre gestão de crise, mas agora estamos falando sobre estratégias de crescimento."
O Brasil, o gigante econômico do continente e a sétima maior economia do mundo, segundo o Banco Mundial, resume tanto os problemas quanto as promessas da região.
Após anos de crescimento constante e redução da pobreza, a economia do Brasil estagnou. Apesar de haver muitos problemas, incluindo corrupção e erros do governo, a situação é agravada pela queda dos preços de algumas de suas principais exportações, incluindo minério de ferro e soja.
A presidente Dilma Rousseff, uma esquerdista que foi reeleita para um segundo mandato em outubro, sinalizou que tornará o crescimento econômico uma prioridade de seu segundo mandato, escolhendo uma equipe econômica amplamente vista como sendo pró-negócios.
Ela tem uma chance de ser bem-sucedida, disse Ocampo, porque o Brasil desenvolveu um grande setor manufatureiro que pode se beneficiar com a nova realidade econômica da região. Quando os preços dos commodities estão altos, as moedas dos países exportadores tendem a se valorizar. Isso pode prejudicar outros setores da economia, como o manufatureiro, já que a moeda mais forte faz com que os bens manufaturados exportados se tornem mais caros para os compradores estrangeiros.
Esse ciclo agora está invertido, com as moedas do Brasil e de vários outros países latino-americanos perdendo valor. Apesar disso pode aumentar a inflação, como já acontece no Brasil, a longo prazo pode levar a um crescimento das exportações de manufaturados.
Os desafios são grandes para o Peru, que depende altamente das operações de mineração que alimentaram um crescimento de mais de 6% ao ano de 2002 a 2012. Com a queda dos preços dos metais, o banco central prevê que a economia crescerá apenas 3% neste ano.
Em resposta, o governo do presidente Ollanta Humala apresentou medidas de estímulo, que incluem mais gastos do governo e redução de impostos. Humala também buscou abrir caminho para mais projetos de mineração, petróleo e gás, na esperança de compensar a queda nos preços com maior produção de metais que permanecem lucrativos, apesar de menos.
Mas muitos desses projetos estão parados por preocupações ambientais e forte oposição das comunidades locais. Parte da nova estratégia do governo é simplificar ou reduzir as regulações ambientais, incluindo esforços para acelerar o processo de avaliação de impacto ambiental, estabelecendo penas para as autoridades que não cumprirem os prazos e revertendo os recentes aumentos de multas para muitas violações ambientais.
"Simplesmente ficou mais barato poluir", disse Ricardo Giesecke, um ex-ministro do Meio Ambiente que critica as mudanças. Alonso Segura, o ministro das Finanças do Peru, disse que as medidas devem ajudar o país a retomar o crescimento econômico dos últimos anos.
"Nós queremos sustentá-lo em 6% ou próximo disso a médio prazo", ele disse. Novos projetos de mineração entrarão em produção no ano que vem, enquanto outros deverão aumentar a produção, ele disse. Projetos de infraestrutura que serão iniciados, como novas linhas de trem em Lima e um gasoduto no sul do Peru, também gerarão empregos e atividade econômica.
Mas Francisco Rodriguez, um economista do Bank of America Merrill Lynch, em Nova York, disse que as projeções otimistas de novas minas e outros projetos já deixaram a desejar no passado, frequentemente devido à oposição local. Ele também apontou para a incapacidade do país até o momento de domar seu apetite por bens importados, um resquício dos anos de preços altos dos commodities.
"Eles não parecem ter aceitado que um crescimento de 6% não é um objetivo razoável para o Peru, o que significa que não aceitaram que o boom dos commodities acabou", ele disse. "Isso se chama negação."
Talvez nenhum país esteja mais em apuros, ou mais estreitamente ligado aos altos e baixos dos preços dos commodities, do que a Venezuela, que no ano passado recebeu mais de 95% de sua receita de exportações do petróleo. Mas os preços do petróleo despencaram desde meados do ano, com o preço referencial do West Texas Intermediate caindo de mais de US$ 100 (R$ 265,6) o barril, em julho, para US$ 60 (R$ 159,4) em dezembro. O presidente Nicolás Maduro disse recentemente que o colapso reduziu a receita de seu país em cerca de um terço, mas que o impacto deverá se tornar ainda mais agudo no ano que vem.
A economia venezuelana já estava em sérias dificuldades antes da queda dos preços do petróleo, com inflação de mais de 60%, a mais alta na região, e escassez crônica de bens de consumo --uma situação que, acertada ou erroneamente, a maioria dos venezuelanos culpa Maduro.
Maduro apenas aumentou os temores dos investidores ao atribuir os problemas do país a inimigos travando uma "guerra econômica" que visa derrubar seu governo socialista. Não está claro se ficaram mais tranquilizados quando Maduro disse em um discurso, neste mês, que em 2015 ele deixaria de lado a maioria de suas outras ocupações para se concentrar exclusivamente na economia.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Mas agora que o boom acabou, os preços desses produtos estão caindo e uma questão paira sobre a região. Será que os bons tempos serão seguidos por tempos ruins, como aconteceu repetidamente ao longo de décadas? Será que os governos reagirão da mesma forma que antes, acumulando dívidas e ignorando os sinais de perigo?
Ou será que as coisas serão diferentes desta vez?
"Nós entramos em uma nova etapa", disse José Antonio Ocampo, ex-ministro das Finanças da Colômbia, que é professor da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade de Columbia, em Nova York. "Eu não acho que os governos perceberam plenamente que isso está ocorrendo e que precisam mudar suas políticas."
Mas há sinais, ele disse, que muitos países na região estão mais bem posicionados agora do que no passado para lidar com o desafio. "Nós já estamos em um período de menor crescimento econômico e a questão é, 'o que virá a seguir?'" disse Jorge Familiar, o vice-presidente para a América Latina e Caribe do Banco Mundial. "Há 10 ou 15 anos nós estaríamos falando sobre gestão de crise, mas agora estamos falando sobre estratégias de crescimento."
O Brasil, o gigante econômico do continente e a sétima maior economia do mundo, segundo o Banco Mundial, resume tanto os problemas quanto as promessas da região.
Após anos de crescimento constante e redução da pobreza, a economia do Brasil estagnou. Apesar de haver muitos problemas, incluindo corrupção e erros do governo, a situação é agravada pela queda dos preços de algumas de suas principais exportações, incluindo minério de ferro e soja.
A presidente Dilma Rousseff, uma esquerdista que foi reeleita para um segundo mandato em outubro, sinalizou que tornará o crescimento econômico uma prioridade de seu segundo mandato, escolhendo uma equipe econômica amplamente vista como sendo pró-negócios.
Ela tem uma chance de ser bem-sucedida, disse Ocampo, porque o Brasil desenvolveu um grande setor manufatureiro que pode se beneficiar com a nova realidade econômica da região. Quando os preços dos commodities estão altos, as moedas dos países exportadores tendem a se valorizar. Isso pode prejudicar outros setores da economia, como o manufatureiro, já que a moeda mais forte faz com que os bens manufaturados exportados se tornem mais caros para os compradores estrangeiros.
Esse ciclo agora está invertido, com as moedas do Brasil e de vários outros países latino-americanos perdendo valor. Apesar disso pode aumentar a inflação, como já acontece no Brasil, a longo prazo pode levar a um crescimento das exportações de manufaturados.
Os desafios são grandes para o Peru, que depende altamente das operações de mineração que alimentaram um crescimento de mais de 6% ao ano de 2002 a 2012. Com a queda dos preços dos metais, o banco central prevê que a economia crescerá apenas 3% neste ano.
Em resposta, o governo do presidente Ollanta Humala apresentou medidas de estímulo, que incluem mais gastos do governo e redução de impostos. Humala também buscou abrir caminho para mais projetos de mineração, petróleo e gás, na esperança de compensar a queda nos preços com maior produção de metais que permanecem lucrativos, apesar de menos.
Mas muitos desses projetos estão parados por preocupações ambientais e forte oposição das comunidades locais. Parte da nova estratégia do governo é simplificar ou reduzir as regulações ambientais, incluindo esforços para acelerar o processo de avaliação de impacto ambiental, estabelecendo penas para as autoridades que não cumprirem os prazos e revertendo os recentes aumentos de multas para muitas violações ambientais.
"Simplesmente ficou mais barato poluir", disse Ricardo Giesecke, um ex-ministro do Meio Ambiente que critica as mudanças. Alonso Segura, o ministro das Finanças do Peru, disse que as medidas devem ajudar o país a retomar o crescimento econômico dos últimos anos.
"Nós queremos sustentá-lo em 6% ou próximo disso a médio prazo", ele disse. Novos projetos de mineração entrarão em produção no ano que vem, enquanto outros deverão aumentar a produção, ele disse. Projetos de infraestrutura que serão iniciados, como novas linhas de trem em Lima e um gasoduto no sul do Peru, também gerarão empregos e atividade econômica.
Mas Francisco Rodriguez, um economista do Bank of America Merrill Lynch, em Nova York, disse que as projeções otimistas de novas minas e outros projetos já deixaram a desejar no passado, frequentemente devido à oposição local. Ele também apontou para a incapacidade do país até o momento de domar seu apetite por bens importados, um resquício dos anos de preços altos dos commodities.
"Eles não parecem ter aceitado que um crescimento de 6% não é um objetivo razoável para o Peru, o que significa que não aceitaram que o boom dos commodities acabou", ele disse. "Isso se chama negação."
Talvez nenhum país esteja mais em apuros, ou mais estreitamente ligado aos altos e baixos dos preços dos commodities, do que a Venezuela, que no ano passado recebeu mais de 95% de sua receita de exportações do petróleo. Mas os preços do petróleo despencaram desde meados do ano, com o preço referencial do West Texas Intermediate caindo de mais de US$ 100 (R$ 265,6) o barril, em julho, para US$ 60 (R$ 159,4) em dezembro. O presidente Nicolás Maduro disse recentemente que o colapso reduziu a receita de seu país em cerca de um terço, mas que o impacto deverá se tornar ainda mais agudo no ano que vem.
A economia venezuelana já estava em sérias dificuldades antes da queda dos preços do petróleo, com inflação de mais de 60%, a mais alta na região, e escassez crônica de bens de consumo --uma situação que, acertada ou erroneamente, a maioria dos venezuelanos culpa Maduro.
Maduro apenas aumentou os temores dos investidores ao atribuir os problemas do país a inimigos travando uma "guerra econômica" que visa derrubar seu governo socialista. Não está claro se ficaram mais tranquilizados quando Maduro disse em um discurso, neste mês, que em 2015 ele deixaria de lado a maioria de suas outras ocupações para se concentrar exclusivamente na economia.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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