Passados mais de 50 anos, EUA anulam condenação de manifestantes negros
Richard Fausset - TNYTNS
Tracy Kimball/The Herald/AP
Clarence Graham fala com a imprensa
Clarence H. Graham é conhecido por muitos títulos em sua cidade natal: estudante de honra, veterano do Vietnã, assistente social, pai e criminoso, por um ato que agora é considerado heroico.
Mas em um tribunal, o Estado da Carolina do Sul deverá anular oficialmente a condenação por delito que impôs há mais de meio século a Graham, 72, e outros manifestantes negros de direitos civis, que foram arrastados pela polícia de um balcão de almoço segregado, condenados por invasão e sentenciados a 30 dias de trabalhos forçados em um presídio do condado. Essa condenação mudou a vida de Graham.
Os homens passaram a ser conhecidos como os 9 de Friendship, porque a maioria deles frequentava uma escola local, atualmente fechada, chamada Friendship Junior College. A recusa deles em pagar as multas e, em vez disso, cumprir penas de prisão foi reconhecida como um ato de coragem por outros ativistas na época, que copiaram as táticas deles e foram inspirados a promover uma escalada dos esforços para colocar um fim à segregação em restaurantes e outros lugares públicos no Sul.
Mas alguns dos vizinhos de Graham em Rock Hill demoraram mais para a ver a justiça de sua causa. Apesar de não saber ao certo, Graham suspeita que sua prisão foi a desculpa que alguns deles precisavam para lhe negar emprego, moradia e serviços nos anos que se seguiram.
"Bem, era hora", disse Graham, atualmente aposentado, em uma entrevista, acrescentando que o esforço para limpar seu nome teria sido mais útil se tivesse ocorrido quando a condenação estava sendo usada contra ele.
"Se tivesse acontecido em 1968", ele disse, "teria significado muito para mim".
A moção para limpar o nome dos 9 de Friendship, impetrada em um tribunal com apoio de Kevin Brackett, o promotor local, faz parte de um movimento mais amplo nas comunidades sulistas para conceder status de heróis locais aos ativistas de direitos civis que foram afastados, presos ou espancados.
Em muitas comunidades, a mudança é motivada pelo desejo de corrigir erros do passado e ao mesmo tempo enviar uma mensagem ao mundo –incluindo empresários que buscam construir novas fábricas ou sedes de empresas– de que as velhas posturas do Sul mudaram.
Esse é certamente o caso em Rock Hill, uma cidade de 69 mil habitantes a cerca de 40 quilômetros ao sul de Charlotte, Carolina do Norte. Rock Hill viu muitos de seus moinhos deixarem a cidade na virada do século 20, mas teve algum sucesso em se adaptar às realidades do século 21: uma ex-fábrica de algodão imensa no centro atualmente é sede da Williams & Fudge, uma empresa de cobrança de crédito estudantil.
"Sim, é uma questão econômica", disse Robert F. Youngblood, presidente da Câmara de Comércio Regional do Condado de York. "Mas nós esperamos também estar fazendo a coisa certa."
Graham era adolescente quando ele e um grupo de colegas de escola começaram a visar as locais segregados no centro com piquetes e protestos sentados. Com a ajuda de Thomas Gaither, um secretário de campo do Congresso pela Igualdade Racial, eles decidiram que se sentariam no balcão de almoço do McCrory's, um empório popular, na manhã de 31 de janeiro de 1961, e se recusariam a pagar as multas após sua prisão.
"Nós nos cansamos daquilo, para ser honesto", disse Graham. "Nós nos cansamos de ser tratados como cidadãos de segunda classe."
Graham lembrou de ter entrado na loja, de passar por muitos brancos zombeteiros, muitos dos quais ele conhecia muito bem. Ele se sentou, mas imediatamente foi jogado no chão e arrastado pelos policiais pela porta dos fundos, juntamente com nove outros.
Um dos homens, Charles Taylor, acabou pagando sua multa por temer perder sua bolsa de estudos universitária como jogador de futebol. Os demais foram enviados para o presídio agrícola do condado, onde passaram a extrair areia. Logo, mais quatro estudantes, incluindo a ativista de direitos civis Diane Nash, chegaram à cidade, iniciaram protestos sentados e também foram presos.
A intervenção da polícia na rua 12, predominantemente negra, provocou distúrbios em Detroit entre os dias 23 e 28 de julho de 1967. O Exército e a Guarda Nacional foram chamados para manter a ordem. Os confrontos mataram 43 pessoas e deixaram mais de 2.000 feridos. A agitação se espalhou por vários Estados, incluindo Illinois, Carolina do Norte, Tennessee e Maryland. Durante 1967, o balanço total da violência racial chegou a 83 mortos em 128 cidades do país Reprodução
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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