Liz Alderman - NYT
Uma multidão de turistas se amontoava diante do L'As du Fallafel, na
Rue des Rosiers, enfrentando o frio para comprar e levar os legendários
shawarma [ou "churrasco grego"] e bolinhos fritos de grão-de-bico. Ao
redor deles, pessoas lotavam a rua calçada de pedras, com cachecóis
coloridos, os braços carregados de sacolas de compras e câmeras.
Locais judaicos, mesquitas, hotéis, lojas de departamentos, teatros, museus e monumentos históricos estão com proteção reforçada, e um plano de segurança chamado Vigipirate foi implantado em muitos lugares, exigindo que os visitantes passem por revistas pessoais e verificação de sacolas antes de entrar. A vigilância também foi aumentada no metrô da cidade e em outras áreas de grande movimentação.
"Para os visitantes, Paris é tão segura quanto era antes", disse François Navarro, diretor-gerente da Câmara de Turismo da Região Parisiense. "Não vimos qualquer sinal de pânico ou cancelamento de visitantes, mas por enquanto temos de esperar e ser cautelosos."
Nem todo mundo ficou tranquilo. Janeiro é geralmente um mês lento para Paris, que hospedou 47 milhões de visitantes no ano passado. Mas as reservas nos hotéis de luxo de quatro e cinco estrelas caíram até 9% nos dias que se seguiram aos ataques, segundo a empresa de estudos de turismo MKG Hospitality.
"Os profissionais de turismo de Paris se preocupam há muito tempo com a possibilidade de um ataque terrorista à capital", disse em um comunicado Georges Panayotis, presidente do grupo MKG. "Diante da reação emocional, é natural que alguns visitantes tenham cancelado ou adiado a viagem." Com mais de 10 mil soldados e 5.000 policiais espalhados por toda a França, porém, Panayotis disse esperar que qualquer redução seja temporária.
De fato, muitos viajantes que tinham feito planos para visitar Paris pareceram mantê-los. "Eu não ficaria com medo", disse Joanne Negron, 51, que trabalha em uma companhia de eletricidade em Nova York e tinha acabado de chegar a Paris com sua filha, Siobahn Goodwin, 27, uma contadora na Booking.com. "Se vivêssemos com medo, não faríamos nada." Paradas diante da fachada de pedra de Notre Dame, onde mais guardas armados patrulhavam as calçadas, elas notaram que a segurança está "em toda parte", inclusive no hotel Marriott, perto da Ópera, onde estão hospedadas.
Ben Takai, 32, um epidemiologista de Washington, D.C., disse que não tinha problemas em visitar com a segurança reforçada. "Ver os soldados armados não é assustador, vimos isso nos EUA depois do 11 de Setembro", disse ele, enquanto guardas patrulhavam diante do restaurante judaico Chez Marianne, na Rue des Rosiers.
"Coisas acontecem em todo o mundo", disse Takai, citando os ataques do Boko Haram na Nigéria. "Mas você não pode permitir que esse tipo de medo afete suas decisões. O mundo não para de girar."
Diego Moreira, 33, professor de literatura do Brasil, tinha parado no memorial da Shoah, perto do rio Sena, onde cinco guardas armados protegiam a entrada. Parte de sua família é judia.
"Há violência em todo lugar", disse ele. "Eles estão chocados na França porque 17 pessoas foram mortas. Mas no Brasil você tem de sair de casa todos os dias com planos especiais para se manter seguro."
Os ataques também não mudaram o modo de pensar de turistas muçulmanos da Arábia Saudita, Malásia e Emirados Árabes Unidos, apesar das preocupações da comunidade muçulmana francesa com possíveis represálias, disse Bilal Domah, diretor da CM Media, uma companhia de organização de eventos sediada em Londres. Paris continua no topo da lista de desejos do turismo halal, que traz bilhões de euros por ano para a economia europeia, disse ele.
"A França tem pessoas de mentalidade aberta que compreendem que nem todos os muçulmanos são iguais", disse.
Os turistas também têm visitado o local dos atentados ao "Charlie Hebdo", onde foram erguidos santuários improvisados. A cerca de dez minutos de caminhada da Bastilha, perto da Rue Nicolas Appert, onde ficavam os escritórios da revista, Hisashi Kikushina, 28, de Hiroshima, Japão, disse que queria prestar uma homenagem às vítimas.
"Sinto-me comovido com o que aconteceu", disse ele. "Vim porque também é uma forma de defender a livre expressão."
Mais viajantes observavam as flores espalhadas diante do mercado Hyper Cacher, local do segundo ataque, em uma comunidade judaica perto da estação de metrô Saint-Mandé, no leste de Paris.
Navarro, da Câmara de Turismo, encoraja os turistas a apreciar não apenas os monumentos clássicos da cidade, mas a aventurar-se em locais que ficam em bairros etnicamente mistos, perto dos subúrbios, que, segundo ele, representam "duas faces da mesma moeda, que é Paris".
"Estamos aqui para receber o mundo", disse Navarro, "seja qual for sua religião ou nacionalidade".
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