Refutando as dez maiores impropriedades que ouvi e li sobre os atentados da França – Parte 4
9) “Nós (o malvado ocidente judaico – cristão) também temos nossos fundamentalistas!”
Sim, temos. E eles são uns chatos. Mas não metralham meninas em
escolas por quererem estudar, não pregam a decapitação de gente de
outras religiões não condenam ninguém à morte por apostasia (abandono da
religião) e não doutrinam seus filhos a se explodir por Deus. São,
quando muito, inconvenientes ou irritantes. Quando se excedem e cometem
alguma violência, são processados e presos, não considerados shahids
(mártires), mujahedins (guerreiros de Deus) ou coisa parecida. Atos
violentos cometidos em nome da religião dominante no ocidente são
tratados como baderna ou crime.
A Bíblia é cheia de violência, traição e estórias fantásticas como
todo texto mitológico ( e por mitológico não digo necessariamente
falso). Seu texto, por ser essencialmente narrativo, mítico, está
sujeito a profunda hermenêutica evolutiva. Hoje em dia em dia, depois de
muitos erros e atrocidades cometidas nos séculos passados, nenhum judeu
ou cristão comete os atos acima, ou apedreja mulheres por acusação de
adultério. Querer equiparar Edir Macedo ou os judeus ultraortodoxos (que
são irritantemente pacifistas, aliás) a Osama Bin Laden é uma absoluta
falta de senso de proporções.
10) “A culpa desses ataques é da CIA e do Mossad !”
Puxa vida, como você é esperto, meu caro “consciente”. Você é tão
bem informado, mas tão informado, que você só pode ser… um agente da CIA
ou no Mossad !
Sim, verdade. A culpa dos ataques jihadistas é da CIA e do Mossad. Da caspa, seborréia e da unha encravada também.
ENFIM: há uma avalanche de clichês bocós sobre o tema, o que é
normal. O que é anormal é que esses clichês sejam vomitados por pessoas
que gozam de algum prestígio intelectual ou alguma projeção, seja na
academia, seja no jornalismo, e que essas façam uso de seu prestígio
para opinarem sobre assuntos sobre o quais, via de regra, conhecem pouco
ou nada.
Outro ponto fundamental é a Síndrome de Estocolmo. Quanto mais
bárbaros os atentados contra nós, mais achamos que a culpa é nossa e
mais nos comprometemos a ficar “bonzinhos com eles”, para que eles
fiquem “bonzinhos conosco”. Sinto informar, mas não adianta. A lógica do
terrorismo é provocar… terror. Trata-se da aplicação literal da Sura 8,
versiculo 12 do Q-ran (Alcorão):
” E infundireis TERROR no coração dos descrentes. Separai-lhes a cabeça do pescoço (…)” .
A lógica é infundir medo extremo e através do medo extremo, tensões
sociais e sucessivas concessões até a capitulação e a submissão.
Então, amigo “consciente”, bonzinho e bacana. Os jihadistas não vão
achar você legal se você ficar ainda mais legal com eles, mais
anti-ocidente e mais jihadófilo, tá? Procure saber o que foi feito com
os esquerdistas, as feministas, os sindicalistas e os “muderninhos”
cabeça-boa, nos Estados Teocráticos do Afeganistão e do Irã…
EM SUMA: Não adianta tentar entender o jihadismo sob
a lógica ocidental, seja de esquerda à la Ilitch Ramirez Sanches: (“são
oprimidos, são revolucionários potenciais contra o imperialismo
ocidental opressor, estamos com eles ! “), seja de direita liberal à la
Bill Clinton/Acordos de Oslo (“vamos negociar, vamos ficar bonzinhos, o
que eles querem?”), seja a colonialista à la Ann Coulter: (“Invadam seus
países, matem seus líderes e convertam todos ao cristianismo!”) O
jihadismo é um fenômeno complexo e perigoso e o mundo ocidental terá que
aprender a lidar com ele. Sem histeria, sem fundamentalismos, sem
preconceitos. Mas sem devaneios acadêmico- ideológicos ou romantismos
“bom-mocistas” e suicidas.
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