domingo, 5 de julho de 2009
LOCKE
Se J. Locke estiver realmente certo (e ele está) o poder de um país reside no Legislativo.
Sendo assim, nós estamos em sérios apuros. No Brasil, o Legislativo foi rifado por uma quadrilha que há tempos tomou para si o patrimônio público como se fosse privado e o escândalo
cai no vácuo do cotidiano. O Executivo tem a faca e o queijo e o Judiciário finge-se de morto.
Até em Honduras as coisas são diferentes. Eles têm militares que ainda são homens e não apenas assalariados.
domingo, 28 de junho de 2009
O MITO DE SÍSIFO
Se é correto aquilo que A. Camus no seu ensaio sobre o suicídio, as pessoas morrem não porque sofrem de grande dor física. A capacidade de ser humano em suportar a dor física descarta essa hipótese. Ela se deixam morrer quando não há esperança. A esperança não é a última que morre. É a próprio pessoa, que sem esperanças, se retira desta vida por vontade própria.
A pressão e a cobrança de uma sociedade espúria sobre ela, a solidão no amor, sem ter com quem dividir a sua vida e os seus tesouros, o seu conhecimento, os seus prazeres, a incompreensão, isso o leva a tomar essa atitude final, que fecha um ciclo de uma vida que perdeu sentido.
domingo, 10 de maio de 2009
SANTA MARIA
De repente, vi-me enredado numa intriga entre três amigas.
Santa Maria ficou comigo durante 15 dias.
No início foi contrangedor, não sabia o que fazer com aquela menina-moça, branca, esguia, cheia de sardas no peito e cabelos da cor do ouro fazendo pendand com s seus olhos de esmeralda.
Dona do meu dinheiro (é a minha advogada), comprando e vendendo coisas minhas e eu perdido nesse carrossel de emoções.
Até que tudo se esclareceu. numa garrafa de beuajolais gelada na mão, colocou um cantor chamado Seal, e no embalo de uma música chamada "Crazy", os nossos corpos se encaixaram, como velhos conhecidos.
Seguiram-se outros dias e outras ocasiões memoráveis.
Mas a sua imagem, deitada na minha cama com os seus cabelos de trigo dourado e suas sardas a cobrir o seu corpo naão fogem da minha memória.
O seu corpo tem o gosto do sal mais puro, extraído das salinas que habitam as nossas fantasias mais eróticas.
A Páscoa traz o renascimento de sentimentos há muito tempo enterrados.
domingo, 12 de abril de 2009
SANTA MARIA, PINTA E NINA
GANHEI DE PRESENTE DE PÁSCOA UM BOX COM 07 CD'S DE MÚSICAS MINIMALISTAS.
AI, SÓ AS PESSOAS QUE SÃO REALMENTE PRÓXIMAS CONHECEM QUEM NÓS SOMOS NA NOSSA INTIMIDADE. NESTA REUNIÃO PARA CELEBRAR A RESSURREIÇÃO DO NOSSO SENHOR JESUS, TODO PODEROSO, FESTEJAMOS: FIZ BACALHAU DAS FORMAS MAIS INAUDITAS, DE VÁRIOS POVOS, UMA ABUNDÂNCIA DE COMIDA E CHOCOLATE.
A ÚNICA COISA QUE SUPLANTAVA ISSO TUDO ERA A NOSSA FÉ. EM MOMENTO ALGUM ESQUECEMOS DE JESUS.
AS MÚSICAS NOS REMETEM À "PASSAGEM".
A SANTA MARIA ACHO QUE SE APAIXONOU. POR MIM! FICARÁ MAIS UMA SEMANA!
É A VIDA, QUE NOS ATROPELA EM CADA MOMENTO, SEM DEIXAR ESPAÇO PARA OUTRAS CONSIDERAÇÕES.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
MÚSICA, MÚSICA & APRENDIZADO CONSTANTE
Eu tenho uma dádiva de Deus. Ele me deu três amigas que chamo de Santa Maria (Ana Luíza),
Pinta (Ana Paula) e Nina (Ana Clara). Sou perseguido pelas Anas. São advogadas em Sampa, ajudaram-me a fechar um negócio super. E sempre aprendo com elas. Viver é aprender. Um aprendizado constante, sem nenhum sentimento de superioridade. Todas as três foram minhas alunas. Tenho muito orgulho delas. Integram as minhas jóias da coroa. Junto com outras pessoas...
A Santa Maria veio para a Páscoa e trouxe um cd de um compositor chamado Arvo Pärt, estoniano. Já comprei doze cd's dele desde que o conheci. É muito bom. Recomendo para quem não gosta de pagode.
Comprei um para uma menina muito bacana, que eu espero, sinceramente, se tranforme numa grande mulher, seja lá a profissão que abraçar.
Viver é aprender.
Estou, sempre, humildemente, aprendendo com o que as pessoas mais jovens têm para me dizer.
sábado, 4 de abril de 2009
6 DE ABRIL - DIA MUNDIAL DO HUMANISMO.
Na minha opinião, o que nos difere dos animais, além da utilização da razão é a nossa capacidade quase insuportável de amar uma pessoa pelo resto da vida, mesmo que a outra ignore a sua existência. Alguns diriam: "Mas eu não sou sou assim!" Por isso eu comecei este breve texto dizendo: "o que nos difere dos animais..." Então, se te não enquadras no humanismo, vá lamber sabão!
No dia seis de abril de mil trezentos e vinte e sete, ocorreu na Igreja de Santa Clara, um encontro fatal: Francesco Petrarca (Arezzo, 1304/1374) conheceu o amor da sua vida, Laura Noves (1308/1348), casada com o marquês Hugo de Sade. Da paixão não correspondida, surgiram poemas belíssimos que se colocam em pé de igualdade com os do Mestre Dante Alighieri (Florença, 1264/Ravena, 1321) no que diz respeito à paixão do Mestre pela divina Beatriz.
Beatriz & Laura acabam se tornando paradigmas das mulheres dignas de serem amadas como foram pelos os seus poetas e eles, Dante & Petrarca, paradigmas dos homens que se consumiram na paixão voraz de um amor lindo e puro, nunca concretizado.
Segue abaixo o soneto deixado para nós, mortais, por Petrarca que retrata o dia em conheceu a sua amada Laura. Esse dia, para as pessoas bem educadas e formadas é chamado de Dia Mundial do Humanismo. É uma pena que para a maioria das pessoas, o 06/04/2009 não passará de uma reles segunda-feira.
SONETO CCXI
Vontade me estimula, Amor guia e habilita,
Prazer me arrasta, Usança me transporta,
Esperança me promete e reconforta
e a destra, ao coração fadiga incita;
e o infeliz a torna sem que reflita
na nossa cega e desleal escolta:
regemos o senso e a razão é morta;
de um vago desejo outro ressuscita.
Virtude, honra, beleza, ato gentil
doces palavras com o belo ramo conto
onde suavemente o coração seduz
Mil trezentos e vinte e sete, em ponto
Na primeira hora, o dia sexto de abril
num dédalo entrei, onde erro sem luz.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
POLÍTICA
Dando uma folga para a poesia, falo agora sobre os políticos de ontem e os arremedos de seres humanos de hoje.
Só estabeleço comparações de nomes, já que você sabe das coisas e da História melhor do que eu.
EUA
F. D. R X B. Obama
Inglaterra
Sir W. Churchill X Gordon Brown
França
C. De Gaulle X Anão narigudo com esposa boazuda (gostosa mesmo, com uma voz...)
Brasil
G. D. Vargas X Luizinaço
E depois vc quer que as coisas deêm certo. Estás brincando!
RÉQUIEM PARA UM SONHO QUE SE DESFEZ
És agora, o meu sonho decaído,
o sonho soçobrado em esperança
que jaz inerte no fundo
da minha alma vazia.
Voltei de ti como um náufrago
que chega aà praia de si mesmo.
Encharcado de desilusão e morte,
à deriva de todos os delírios.
Eras a miragem das idéias encarnadas,
o relicário mágico do desejo
em que, fiel devoto,
depositei meu mais secreto e místico beijo.
Mas um mar de silêncio salgou minha alma em profusão,
medrou os meus anseios,
saturou de amargura o doce caldo da sensação.
Mil vezes sannto foi teu nome em minha boca,
musa difusa e bela Menina,
imagem pura da perfeição singela,
em que depositei minha mais utópica quimera.
Mil vezes ceguei meus olhos na beleza dos teus olhos.
Mil vezes cego segui os teus passos na escuridão,
caminhos cruzados nos meus refolhos,
onde mil vezes cruzei-me com o teu não.
Outras mil vezes ignorei o verde que não via,
refúgio plácido e sem mistério,
onde, hoje,
minha alma em agonia,
busca asilo e refrigério
além das fronteiras do teu império.
quinta-feira, 26 de março de 2009
Por prudência,
para evitar a demência,
deixei a imaginação presa por cordas ao chão.
Busquei trabalho,
cansaços,
distração,
sexo.
Busquei na arte, o olvido e o nexo.
Ouvi de Bach prelúdios, fugas e tocatas,
li livros como ninguém,
toquei Mazurcas de Chopin,
soturnos noturnos,
e de Mozart, todas as sonatas,
e ainda, algumas de Beethoven,
aquelas que, até os surdos, ouvem,
buscando cobrir a emoção com mais emoção.
Tudo em vão.
Li, da caixa de correio,
a carta que não veio.
Colhi na roseira do quintal
a rosa que nunca floriu.
Colhi também, o silêncio ao telefone,
a nostalgia das horas do dia,
a correspondência sem a sua caligrafia,
a memória que não se esgota,
e a lágrima que nos olhos brota.
Colhi a poesia plena de agonia,
e também a morte como se fosse seu alfange e corte.
Na mente, apenas a lembrança recorrente.
A louca insurgência das idéias,
sob um comando rebelde unificado.
O assalto sem trégua do passado,
os detalhes,
os momentos de maior significado,
tudo a que estivesse ligado a quem me ignora,
à rosa que na mente mora,
imaterial,
idéia pura,
perfumada sepultura,
que a alma, dispersa em disperso ideal,
nunca esquece,
e com o seu pranto, sem descanso, umedece.
Rosa presente em tudo o que penso,
musa difusa entre espinhos florida,
flor do bem e do mal,
vida da minha vida,
de mim perdida
num impossível roseiral.
Não sei se poemas eu fiz ou se poemas me fizeram.
Houve um tempo em que os gerava como quem
desfolha flores ao vento.
Hoje eles surgem como um vento sem flores que
sopra em minha alma ressequida.
Já não faço versos.
Os versos é que me fazem.
Escrevo,
e enquanto escrevo a arte fica me olhando
por sobre os óculos
como uma velha que espera sentada à roca da vida,
sempre a fiar, ... e a fiar...
às vezes,
cansada de mim,
faz tricô com os ponteiros do relógio,
puxando um fio do tempo de um novelo a seus pés,
um emaranhado de memórias em que,
numa ponta perdida,
um menino galopa um corcel de sonhos.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Beijarei a tua lembrança até tu voltares.
Beijarei como a uma saudade sofrida,
um tédio dolorido desta vida
no desterro de minha alma dolente.
Beijarei tua imagem como um demente
que preludiou, na tua vinda,
a servidão que nunca finda,
que perfura a alma
e em vez de morte,
mais vida lhe dá ainda.
Quando tu voltares
deporei nos teus lábios de caminheira,
o beijo que te não dei a vida inteira.
Serás a primavera dos sonhos meus,
como o retorno babilônicos dos judeus,
o vício satisfeito que em minha alma mora,
do beijo doença, que, matando, revigora.
Quando tu voltares,
verás o anjo que aliena,
o último suspiro,
na convulsiva estrofe ao fim do meu poema.
E aos teus pés deporei o meu desejo,
como um beijo,
num penar tão doce,
como se, penar não fosse.
Quando tu voltares beijarei então a tua face,
e te mostrarei a Lua cheia dos meus temores,
e as noites mal dormidas que me destes,
com os suspiros todos que,
quando o sono arrefece,
como chama que inflama,
ao peito desce.
Beijarei, também, a beleza cristalina
que mora nos teus olhos de menina,
e, quando tu voltares,
bem ou mal,
saberás quanto te quero
num beijo em agonia,
que, a tanto, espero,
e que, pouco a pouco,
tornará real o anjo louco
que, dia e noite,
noite e dia,
faz do teu beijo mouco,
a minha fantasia.
Quer rir?
Ria. Que o amor é um carcereiro
De cujo cativeiro
não consigo escapulir.
Mas o fato
É que, deste fogo em que me mato,
Até o diabo quer fugir.
De novo...quer rir?
Pois ria que te faz bem à saúde,
Que a tristeza é um ataúde
Que evitei enquanto pude.
Mas é que me veio à lembrança,
Minha musa inda criança
Com certa magia no olhar.
Agora, desvanecida,
Anda meio esquecida,
E não quer mais me guiar.
Largou-me nesta descida,
Uma avenida larga e comprida,
Que não sei onde vai dar...
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
PIERRE DE RONSARD (1524/1585)
Sonetos para Helena - XLIII
Quando fores bem velha, à noite, à luz da vela,
Sentada ao pédo fogo, a fiar,
Admirada dirás, meus versos a cantar:
"Ronsard me celebrava ao tempo em que era bela."
E entre as servas não hás de ter, então, aquela,
Cansada do trabalho e meio a dormitar,
Que o meu nome ao ouvir não desperte, a abençoar
Teu nome que em meu verso imortal se revela.
Sob a terra estarei, fantasma silencioso,
E entre as sombras do mirto encontrarei repouso;
À lareira será uma velha encolhida,
Meu amor lastimando, e a tua altivez vã.
Vive, se crês em mim, não penses no amanhã.
E colhe, desde agora, as rosas desta vida.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
MADAME DE GIRARDIN (1804/1855)
A Noite
Eis a hora em que extingue a vela
Que o dia esconde os meus pernoites:
Meu coração à prima estrela
Se exibe como a flor das noites.
Ó noite de langor profundo,
Sabes juntar, precisa, a fé
Aos julgamentos onde o mundo
Em mim produz cegueira até.
Conheces bem o meu sonhar,
minha coragem e alegria;
Sabes que o meu filosofar
É desespero sem porfia.
Por ti me mudo sem reclamo;
Não mais mentiras vis, plurais;
Por ti eu vivo, eu sofro, eu amo,
Minha tristeza não ri mais.
Não mais coroa rosa e branca;
A face pálida e sem vez,
A minha fronte se desanca
Deixa cair minha altivez.
As minhas lágrimas contidas
Desfilam lentas nos meus dedos,
Tal fosse fontes não sabidas
Em ramos mortos de arvoredos.
Depois de um dia de tormento,
Um dia loudo de vaidade,
É bom langui sem fingimento
É bom sofrer em liberdade.
Sim, é amarga a alegria
De se jogar por um momento
Como uma presa que se cria
Por sobre as serras do tormento;
De esvaziar todos os prantos
Com um soluço derradeiro.
De ter levado sem encantos
Ao desespero o canto inteiro.
Então a dor já bem servida
Deixa um repouso vago e doce;
Não se pertence mais à vida,
Vosso ideal, vão, dissipou-se.
Nada-se e plana-se no espaço,
Reconduzido pela tarde;
Já não é mais sombra e passo,
Uma alma que não se retarde.
O clã do voo que se encerra
Vos emancipa como a morte;
Não há mais nome sobre a terra,
Pode-se em sonho ter sem corte.
De um mundo mau não resta um véu,
Nem elo e nem - lei e nem dor;
A alma, papílio em pleno céu,
Sem crime escolhe a sua flor,
Sob o domínio da incerteza
nâonos sentimos oprimidos
Assim se volta à natureza
Como o país de amores idos.
A minha noite luz e ensombra,
Encontro tudo na beldade
Reúnes tu estrela e sombra,
Todo mistério e verdade.
A brisa já gelou o alento
Da aurora, clama a ardentia;
Adeus, sincero pensamento;
Há que mentir... surgiu o dia.
THÉOPHILE GAUTIER (1811/18773)
Amor Do Ano Passado
(Fragmentos)
Um ano já passou em que toda a folia
Me fez apaixonado - Adeus, para a poesia!
Eu já não tinha o tempo em que tudo se joga
Para metrificar: - e dar-lhe o meu desvelo,
Enfeitá-la, admirar o seu doido cabelo,
Um mar negro onde a minha mão sempre se afoga;
Ouvi-la respirar, vê-la sorrir, viver,
Quando ela debochar, me embriagar e ler
Nos seus olhos de desejo: a fronte adormecida,
Seus sonhos espreitar, beber em sua boca
Seu hálito num beijo, eu fiz tal coisa louca
Em quatro noites desta vida."
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
JOACHIM DU BELLAY (1522/1560)
Arrependimentos
(Fragmentos)
Se a vida não é mais do que uma jornada
Para o eterno, que o ano faz a volta,
Os nossos dias caça, e muda à volta,
É perecível toda a coisa nada.
Que sonhas tu, minha alma aprisionada?
Por que te agrada o dia que não volta,
Se, para voar claro, é vã a escolta,
Tu tens no dorso uma asa bem plantada?
Lá, está todo o bem que o ser deseja,
Lá, está o repouso tal que o mundo almeja,
Lá, está o amor, lá, prazer imploro.
Lá, minha alma no céu está guiada
E poderás vê-la idealizada
Da beleza, no mundo, que eu adoro.
CHARLES BAUDELAIRE (1821/1867)
Um hemisfério em uma cabeleira
Teus cabelos contêm um sonho inteiro, cheio de velas e de mastros, contêm gendes mares cujos ventos me transportam para climas encantadores, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera é perfumada pelos frutos, pelas folhas e pela pele humana.
No oceanos dos teus cabelos, entrevejo um porto formigante de cantos melancólicos, de homens vigorosos de todas as nações e de navios de todas as formas recortando suas arquiteturas finas e complicadas dentro de um céu imenso em que se pavoneia o eterno calor.
CHARLES BAUDELAIRE (1821/1867)
A Dupla Câmara
(Fragmentos)
A alma toma um banho de preguiça, aromatizada pelo arrependimento e pelo desejo. É algo de crepuscular, de azulado e de róseo; um sonho de volúpia ao longo de um eclipse.
Um odor infinitesimal da mais esquisita escolha, a que se mistura ligeira umidade, nada nesta atmosfera, onde o espírito de inércia é acalentado por sensações de estufa quente.
A musselina se impõe abundantemente ante as janelas e ante o leito; ela se derrama como cascatas de neve. Neste leito está deitadas. É a imperadora dos sonhos. Como chegou até aqui? Quem a trouxe? Que mágico poder a instalou neste trono onírico e de volúpia? Isso que importa? Aí está ela. Eu a reconheço.
Eis então esses olhos cuja flama atravessa o crepúsculo; estas sutis e terríveis meninas, cuja espantosa malícia reconheço. Elas atraem, subjugam, devoram o olhar do imprudente que as contempla. Estudei-as muitas vezes essas estrelas negras que comandam a curiosidade e edmiração. . i is s flamas
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
ALPHONSUS DE GUIMARAENS
HÃO DE CHORAR POR ELA OS CINAMOMOS...
Hão de chorar por elas os cinamomos,
Murchando as flores ao tomber do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquelas que os colhia.
As estrelas dirão: - "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu, silente e fria..."
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim - "Por que não vieram juntos?"
ALFRED DE MUSSET (1810/1857)
TRISTESSE
(fragments)
J'ai perdu ma force et ma vie,
Et mes amis et ma gaité;
J'ai perdu jusqu'à la fierté
Qui faisait croire à mon génie.
TRISTEZA
(fragmentos)
Perdi a força e minha vida,
Os meus amigos e a alegria;
Perdi até a parceria
Que com meu gênio é dividida.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
FEDERICO GARCIA LORCA
Eu a vi passar por meus jardins
quando a aminha alma era luz da luz.
Eu a vi mirar o berço
onde a Luxúria morde as crinas.
Eu a vi rezar na penumbra
no altar dos sacros martírios,
azul e pálida como os lírio,
com a luz de meu peito que a ilumina.
Nunca mais a vereis, pois minha alma
já entrou no reino do prazer sombrio,
jardim sem lua, sem paixão, sem flores.
Murchou a flor; e acalmou-se
minha ilusão. Já longínquo o vozerio,
o coração penetrou nas dores.
EMILY DICKINSON
Para se ter uma campina
é preciso um trevo e uma abelha.
Um trevo, uma abelha
e fantasia.
Mas, em se faltando abelhas,
basta a fantasia.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
LORD BYRON, SEMPRE.
ESTÂNCIAS PARA A MÚSICA
Alegria não há que o mundo dê, como a que tira.
quando, do pensamento de antes, a paixão expira
Na triste decadência do sentir;
Não é na jovem face apenas o rubor
Que esmaia rápido, porém do pensamento a flor
Vai-se ante do que a própria juventude possa ir.
alguns cuja bóia no naufrágio da ventura
Aos escolhos da culpa ou mar do excesso são levados;
O imã da rota foi-se, ou só e em vão aponta a obscura
Praia que nunca atingirão os panos lacerados.
Então, o frio mortal da alma, como a noite desce;
Não sente a dor de outrem, nem a sua ousa sonhar;
Toda a fonte do pranto, o frio a veio enregelar;
Brilham ainda os olhos: é o gelo que aparece.
Dos lábios flutua o espírito, e a alegria o peito invada,
Na meia-noite já sem esperança de repouso:
É como a hera em torno de uma torre já arruinada,
Verde por fora, e fresca, mas por baixo cinza anoso.
Pudesse eu me sentir ou ser como em horas passadas,
Ou como outrora sobre cenas idas chorar tanto;
Parecem doces no deserto as fontes, se salgadas:
No ermo da vida assim seria para mim o pranto.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Na solidão
o meu desespero inconsolado explode.
Remexendo nos meus arquivos
encontrei os recadinhos
que tu me enviaste.
Deus! como tenho saudade tua!
Quantas palavras amorosas
chego a pensar que,
um dia chegaste realmente a
me amar.
Hoje, agonizo
tal como as raízes secas do poema de Eliot.
Acredito que a causa dessa
terrível agonia
é ter amado, quanto amar se pode
sem ter amado quanto amar devia.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
ALPHONSUS DE GUIMARAENS
"Como se moço e não bem velho eu fosse
Uma nova ilusão veio animar-me:
Na minh'alma floriu um novo carme,
O meu ser para o céu alcandorou-se.
Ouvi gritos em mim como um alarme,
E o meu olhar, outrora suave e doce,
Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se
Todo em raios que vinham desolar-me.
Vi-me no cimo eterno da montanha,
Tentando unir ao peito a luz dos círios
Que brilhavam na paz da noite estranha.
Acordei do áureo sonho em sobressalto:
Do céu tombei ao caos dos meus martírios,
Sem saber para que subi tão alto..."
Qualquer semelhança é mera coincidência...
NELSON RODRIGUES
"Quando o sujeito é uma besta e não é capaz de fazer nada, faz filhos."
C R U E L !
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
FERREIRA GULLAR
O AÇÚCAR
O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.
Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.
Este açúcar era cana
e veio de canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.
Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola
homens que não sabem ler e morrem
aos vinte e sete anos
plantam e colhem a cana
que viraria açúcar.
Em usinas escuras
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.
Este poema é uma das pérolas do mar de pérolas compostas por esse autor.
domingo, 18 de janeiro de 2009
e. e. cummings
possa meu peito sempre abrir-se aos pássaros
pequenos segredos da vida a cada passo
cantem lá o que for é melhor que saber
e quem não os ouve já se pôs a envelhecer
possa minha mente vagar com fome
e sem medo e sedenta e conforme
e mesmo domingo que eu possa esmorecer
pois quem tudo acerta jovem já deixou de ser
e possa eu mesmo fazer nada utilmente
e amar-te a ti tão mais que veramente
pois tal tolo nunca houve que incapaz disto:
pôr todo o céu nas costas com um só riso
e. e. cummings
Se você não pode comer você tem que
fumar e a gente não não tem
nada que fumar: deixa disso rapaz
melhor dormir
se você não pode fumar você tem que
Cantar e a gente não tem
nada que cantar;deixa disso rapaz
melhor dormir
se você não pode cantar você tem que
morrer e a gente não tem
Nada que morrer;deixa disso rapaz
melhor dormir
se você não pode morrer você tem que
sonhar e a gente não tem
nada que sonhar(deixa disso rapaz
Melhor dormir)
Não, o Paulo não ficou louco e errou na pontuação.
O poeta escrevia assim.
Vivendo e aprendendo, pois.
BRUNO TOLENTINO
O amor maldito é a interrupção do perecível,
puros parênteses no curso natural,
seara fora dos limites do real,
tudo segundo o interminável, o impossível.
Se o amor é o eco no mistério do invisível,
o amor sem fruto, o amor de estátua, é musical
como o acorde perdido nas folhagens de um mal:
o mal de amor no bosque branco indefinível...
Os teus dois colibris de nácar, esculpidos
como a dor faz a pérola, no fundo de um abismo,
caíram presos pela luz entre os sentidos,
e em tuas teias musicais de ilusionismo
foram ficando assim, Alexandria, unidos
como as estátuas ao seu belo imobilismo.
CECÍLIA MEIRELES
SEREIA
Linda é a mulher e o seu canto,
ambos guardados no luar.
Seus olhos doces de pranto
- quem os pudera enxugar
devagarinho com a boca,
ai!
com a boca, devagarinho...
Na sua voz transparente
giram sonhos de cristal.
Nem ar nem onda corrente
possuem suspiro igual,
nem os búzios nem as violas,
ai!
nem as violas e os búzios...
Tudo pudesse a beleza,
e, de encoberto país,
viria alguém, com certeza,
para fazê-la feliz,
contemplando-lhe alma e corpo,
ai!
alma e corpo contemplando-lhe...
Mas o mundo está dormindo
em travesseiros de luar.
A mulher do canto lindo
ajuda o mundo a sonhar,
com o canto que a vai matando,
ai!
E morrerá de cantar.
sábado, 17 de janeiro de 2009
CECÍLIA MEIRELES
EPIGRAMA Nº5
Gosto da gota d'água que se equilibra
na folha rasa, tremendo ao vento.
Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra:
e ela resiste ao isolamento.
Seu cristal simples reprime a forma, no instante incerto:
pronto a cair, pronto a ficar - límpido e exato.
E a folha é um pequeno deserto
para a imensidade do ato.
CECÍLIA MEIRELES
EPIGRAMA Nº 4
O choro vem perto dos olhos
para que a dor transborde e caia.
O choro vem quase chorando
como a onda que toca na praia.
Descem dos céus ordens augustas
e o mar chama a onda para o centro.
O choro foge sem vestígios,
mas levando NÁUFRAGOS dentro.
AS SEM RAZÕES DO AMOR
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é um estado de graça
e com amor não se paga.
O amor é dado de graça,
é semeado ao vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante o amor.
Na minha modesta opinião, este é um dos mais belos poemas de Carlos Drummond de Andrade, feito já na época da sua maturidade. O livro Corpo é de 1984.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
MANUEL BANDEIRA
TU QUE ME DESTE O O TEU CUIDADO...
Tu que me deste o teu carinho
e que me deste o teu cuidado,
Acolhe ao peito, como o ninho
Acolhe o pássaro cansado,
O meu desejo incontentado.
Há longos anos ele arqueja
Em aflitiva escuridão.
Sê compreensiva e benfazeja.
Dá-lhe o melhor que ele deseja:
- Teu grave e meigo coração.
Sê compassiva. Se algum dia
Te vier do pobre agravo e mágoa,
Atende à sua dor sombria:
Perdoa o mau que desvairia
E traz os olhos rasos de água.
Não te retires ofendida.
Pensa que nesse grito vem
O mal de toda a minha vida:
Ternura inquieta e malferida
Que, antes, não dei nunca a ninguém.
E foi melhor nunca ter dado:
Em te pungindo algum espinho,
Cinge-a ao teu seio angustiado.
E sentirás o meu carinho.
E sentirás o meu cuidado.
CESAR VALLEJO - fragmento
Lua! à força de voar e sempre em vão,
em opalas dispersas te holocaustas:
tu és talvez meu coração cigano
que vaga pelo azul chorando versos.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
DIDO & ENÉAS
DEPOIS QUE A EXTRAORDINÁRIA DIDO FUNDOU CARTAGO
SE UTILIZANDO DE TIRAS DE COURO DE BOI;
ENFRENTADO INIMIGOS;
TER HOSPEDADO ENÉAS (QUE FUGIA DA DESTRUIÇÃO DE TRÓIA);
TER UM TÓRRIDO ROMANCE COM ELE;
E ELE TÊ-LA ABANDONADO
(ATÉ O SEU GRANDE AMOR, PARA FUNDAR ROMA);
RESTAVA A ESSA MARAVILHOSA RAINHA
A SOLIDÃO/NUM CASAMENTO FORÇADO
OU ENTÃO MANDAR CONSTRUIR UMA PIRA
E COMETER SUICÍDIO.
PREFERIU O SUICÍDIO.
LEMINSKI
ALGO EM MIM SE ESVAI
COISA QUE ESCOA
SERIA A ÁGUA DA VIDA
SERIA OUTRA COISA BOA
TÃO BOA QUE NÃO TEM VIDA
EM QUE ESTA VIDA NÃO DOA....
HORA QUE A VOZ DO AMOR
COMO A VOZ DO AMOR NÃO ECOA...
LEMINSKI
SURPRESA
DE SER TÃO SOLTA
E TÃO PRESA
A NOITE DÁ MEIA VOLTA
E TORNA A SER A NOSSA
TODA A BELEZA
QUE POSSA.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Menina,
o medo a faz sussurrar
aquelas que seriam as doces
promessas de paixão,
mas que chegam a mim
como restos de um naufrágio
ou flores de um paraíso perdido
é tempo de despedidas.
Que encontres a alegria,
o segredo de viver
que ora prudente
ora enlouquecida,
procures a felicidade
no ardor do sol, nos banhos de lua
na grande paz azul
ou nas tempestades.
beijos amorosos
Paulo
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