terça-feira, 16 de março de 2010

La Petit Princesse des Tulipes II

Quase noite. Tomei três doses de dry martini, duas batidas de vodca e um conhaque. A tequila acabou na hora do almoço. Voltei para o apartamento. Fui até a caminhonete e peguei um cd player e uma pilha de cd's. Liguei o aparelho na tomada que servia para ligar o abajur no criado mudo. Comecei com Robin Trower tocando "Bridge of Sighs". Aí comecei a tocar todos os cd's, um por um. Pink Floyd tocando "Wish You Were Here", The Who, "Baba O'Riley", "Won't Get Fooled Again". Quando o cd do The Who terminou e eu me levantei da cama para colocar outro é que eu ouvi vozes na vandinha que havia na frente do meu quarto.
Abri a porta e dei de cara com uma manada de gente que estava curtindo as músicas que rolavam no cd player.
- E aí, old man! Só música boa! - Michelle falou.
- Antigas. As coisas mais antigas são as melhores. - respondi.
- Nunca tive um namorado mais velho do que eu.
- Estou falando de músicas.
- Ah! Parece que você gosta de tirar uma em mim.
- Você fala demais. Quem fala demais acaba dando bom dia a cavalo.
- Se você preferir ficar sozinho, nós vamos embora. Ou podemos ficar e fazer uma troca. Trouxemos "coisas". Mas o pessoal do hotel é careta. Queremos um lugar sossegado.
- Sem "brown sugar".
- A única coisa "brownish" sou eu e os meus olhos, querido.
- Tá ok, então. - falta só resolver a questão do seu namorado.
- Eu briguei com ele.
- No luau. - o resto da manada, que até agora não havia falado nada, se manifestou.
- Aliás, estou sem quarto. Ele me expulsou do dele. Espero que você me aceite como companhia.
- Isso implica em pagar os seus gastos no hotel, eu creio.
- Você não vai se arrepender. Imagine como se fosse um investimento.
- Ok. Traga as suas coisas para cá.
A manada fez uma cara de alívio.
Ficamos bebendo cerveja Skol e Heineken (que eles acharam muito amarga), um dos caras (Raul) trouxe um pequeno saco plástico com fumo e papelo para fazer nossos cigarros alternativos. Curtimos Joe Cocker cantando "With a little help from my friends" e nos animamos e cantamos também dos Beatles "Strawberry Fields Forever", aproveitei a deixa e toquei Siouxsie and the Banshees arrasando em "Christine - the strawberry girl" e "Happy house". As moças começaram a ficar "mais soltas". Com David Bowie veio a alucinação total: "Sweet Thing", "Alladin Sane", "All The Young Dudes" e "Rock'N'Roll Suicide". O niilismo tinha chegado ao topo. O som vinha, potente, da caminhonete, que levei até a porta do meu quarto.
Numa dessas horas entrei no banheiro o Raul (que trouxe o fumo) estava beijando um rapaz mais novo, chamado Murilo.
Michelle já estava muito doida. Levei-a para fora da varando, procurei a sombra cúmplice, longe de olhos e das luzes das lâmpadas da rua e a beijei. Subi minhas mãos
por debaixo e sua camiseta e seus pequenos seios empinados eram meus.
Após um tempo, ela pediu para dar uma entrada no quarto.
E isso se repetiu mais duas vezes. Levantei-me da lona que tinha improvisado para forrar o gramado e fui ver o que estava acontecendo: tinham colocado carreiras enfileiradas precariamente sobre o criado-mudo. Michelle estava cheirando uma.
- Sirva-se, querido. A mercadoria é da boa!
Cheirei uma, duas e voltei para a festa. Abri as garrafas de conhaque e levei uma comigo. O som que rolava era Jimi Hendrix: "Voodoo Chile", numa versão bem longa.
E eu me perdia entre solos de guitarra e o corpo de Michelle. Disse para mim mesmo: mantenha o ritmo. Morra, mas mantenha o ritmo!
Manti e não morri.
- Raul, põe pra tocar algo bem lisérgico, por favor!
- Tá Michelle, você e o seu namorado mandam hoje!
- Michelle. - falei.
- Diga querido!
- Quando o Raul falou em namorado, ele estava se referindo a mim... ou foi um mal entendido... - foi soltando as frases sem entonação.
A música começou e eu usei o nome dela para expressar a minha estranheza: "Feel Like a Stranger" - Grateful Dead.
- O meu universo é diferente do de vocês.
- Nem tanto. Somos alunos e você é professor. Habitamos o universo escolar. - respondeu entre risadas. Vamos entrar, que eu quero ver se ainda tem cerveja gelada. Se não tiver das nossas eu vou pegar uma Heineken. - disse.
Quando nós entramos no quarto, percebi que todos nós estávamos muito doidos.
Começou uma outra música do Grateful Dead, eles estavam nús, dançando. A Michelle foi até num amontoado de mochilas e tirou algo que não pude ver o que era. Levou a mão à boca e veio na minha direção e disse:
- Me beije agora, rápido, com a sua língua.
Beijei-a do jeito que ela pediu. Sua língua atrevida deixou colado no céu da minha buca um selo triangular. A música que tocava chamava-se "Dark Star" e durante a sua execução de vinte e cinco minutos, viajei. Good trip. Muitas cores, pessoas prateadas, o corpo de Michelle, prateado, se enroscava ao meu. Fazíamos sexo.
A Semana passou rápido. Rápido demais.
Os funcionários do hotel-fazenda ficaram cismados com aquele povo que ocupou os quatro últimos quartos daquela estrada, lonje da sede, lonje dos salões.
Alguns tomavam café da manhã, mas não apareciam para o almoço, enquanto que outros só apareciam para o jantar. - Deviam ser todos drogados! - pensavam.
Michelle já havia montado acampamento no meu quarto. Seus gastos eram debitados junto com os meus, para horror de algumas beatas.
Na hora da partida, eles me abraçaram. Menos Michelle. Ela tinha sumido.
Felipe, o ex- da Michelle já tinha ido embora faz tempo. A Carla, a Viviane e a Andréia procuraram Michele mas não ensontraram. Foram embora assim mesmo.
Acompnhei-os até à entrada do hotel-fazenda. Voltei já saudoso do meu jovem caso. Andando lentamente, tentando me acostumar novamente à minha sobra como única companheira, comecei a cantarolar "The End Of A Love Affair", e, como a voz rouca iria me fazer falta. Subi os degraus da escada até o quarto e quando entrei, Michelle estava lá, nua, sobre os lençois da cama.
Simplesmente ela disse:
- Resolvi viajar com você.
- Mas nós moramos em lugares opostos no estado!
- Resolvi morar com você, seu tolo.
- Michelle, você não sabe o ue está fazendo!
- Eu sei sim. Vem me dar um beijo de língua, rápido, porque eu tenho uma coisa para você.

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