domingo, 31 de agosto de 2014

EUA identificam americanos que vão à Síria combater para grupos rebeldes
Michael S. Schmidt, Eric Schmitt - The New York Times/O Estado de S.Paulo
Após avanço no Iraque, EI atraiu mais jihadistas estrangeiros, exigindo esforços extras de serviços de inteligência para conter fluxo
Os serviços de inteligência e as agências de segurança dos Estados Unidos identificaram mais de dez americanos que foram à Síria para combater ao lado do Estado Islâmico (EI). Segundo a Casa Branca, o grupo representa a maior ameaça aos EUA desde a Al-Qaeda antes dos ataques do 11 de Setembro.
Por ter conseguido controlar grandes extensões territoriais nos últimos meses, o EI passou a atrair um maior número de estrangeiros, exigindo mais esforços das agências de segurança americanas e europeias, que tentam barrar o fluxo de combatentes.
O EI tornou-se mais atraente para quem aspira a militância por governar os territórios que conquista segundo a estrita lei islâmica (sharia). "O EI pode se sustentar como a verdadeira jihad", disse um funcionário americano. "Ele afirma: 'Vejam o que estamos fazendo, o que estamos realizando. Somos a nova cara. Não ficamos apenas falando. Estamos fazendo'."
O EI atrai por sua reputação de brutalidade. Na quinta-feira, esta reputação piorou com a revelação de que o grupo usou simulação de afogamento com quatro reféns - incluindo o jornalista americano James Foley, que foi decapitado este mês.
Acima de tudo, funcionários da inteligência americana disseram que o número de americanos que ingressam nos grupos rebeldes na Síria - e não apenas no EI - quase dobrou em relação a janeiro. Eles calculam que mais de cem americanos combateram na Síria desde o início da guerra civil, há três anos.
As agências identificaram os americanos que combatem para o EI com base em informações colhidas em registros de viagens, com parentes, por meio de interceptação de comunicações eletrônicas e vigilância de americanos no exterior que haviam manifestado interesse de ir à Síria.
Os europeus que ingressaram na luta contra o presidente Bashar Assad são mais numerosos - mais de mil, segundo estimativas. Londres identificou cerca de 500 britânicos que partiram para a Síria. Metade deles regressou à Grã-Bretanha e um pequeno número morreu no campo de batalha.
Funcionários americanos admitem que está se tornando mais difícil seguir os passos dos americanos que viajaram para a Síria. Em muitos casos, as agências de inteligência dos EUA são informadas muito depois de eles terem chegado lá.
A tarefa é muito difícil. Na quinta-feira, o FBI tentou confirmar relatos de que mais dois americanos tinham sido mortos combatendo para o EI na Síria.
Desde o início do conflito sírio, em 2011, pelo menos quatro americanos morreram em combate, incluindo Douglas McArthur McCain, de 33 anos, morto há uma semana por um grupo rival do EI apoiado pelos EUA.
Outra dificuldade enfrentada pelas autoridades americanas é que os recrutas hoje são diferentes de épocas anteriores. O conflito atrai tanto homens quanto mulheres, incluindo alguns que foram educados como muçulmanos, e outros que eram cristãos e se converteram ao islamismo.
Nos últimos meses, as autoridades detectaram uma tendência: os recrutas americanos são cada vez mais jovens. Estão em sua maioria no fim da adolescência ou no início dos 20 anos.
As conquistas territoriais do EI, e sua tentativa de governar cidades no leste da Síria e no Iraque ocidental, obrigaram o grupo a recrutar estrangeiros e não apenas para lutar no campo de batalha. O EI tenta atrair médicos, trabalhadores do setor petrolífero, engenheiros para morar e ajudar a administrar o califado que o grupo radical declara ter estabelecido.
Especialistas em análise psicológica do FBI de Quantico, Virginia, estão cada vez mais monitorando as atividades de americanos que manifestaram pontos de vista radicais nas salas de bate-papo e nos sites jihadistas. O objetivo é tentar fazer uma projeção de sua radicalização, afirma a polícia.
Com isso, o EI e outros grupos radicais islâmicos violentos que atuam na Síria não conseguiram ser barrados pelos esforços americanos. Em Minneapolis, por exemplo, Abdirizak Bihi, diretor do Centro Somali de Educação e de Defesa Social, disse que jovens somalis foram recrutadas por grupos islamistas violentos para fornecer apoio a militantes sírios.
Segundo Bihi, várias famílias somalis da cidade "perderam suas filhas para a Síria". "Estamos frustrados, pois ninguém nos ajuda", disse. "Estamos perdendo tudo o que temos."

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