sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Presidente da Rússia elogia milícias separatistas na Ucrânia
Andrew Roth - NYT
Em um raro discurso direto aos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, o presidente Vladimir Putin saudou nesta sexta-feira (29) o sucesso de uma recente ofensiva rebelde e pediu que um corredor humanitário seja aberto, para permitir a retirada das unidades cercadas do exército ucraniano.
Em um discurso para a milícia Novorossiya, ou Nova Rússia, que foi postado no site do Kremlin às 1h10 da manhã, Putin disse que os rebeldes "conseguiram um grande sucesso ao interceptar a operação militar de Kiev", uma ofensiva que os governos ocidentais acusaram de ser liderada por militares russos.
Diante das crescentes tensões, o primeiro-ministro ucraniano, Arseniy P. Yatsenyuk, anunciou na sexta-feira que um projeto de lei foi apresentado ao Parlamento para cancelar o status da Ucrânia como país não alinhado e "restaurar suas aspirações de se tornar membro da Otan".
"Essa lei também reafirma a principal meta política da Ucrânia –se tornar membro da União Europeia", disse Yatsenyuk em sua página no Facebook, que é usada como espaço para anúncios públicos. "Essa lei proibirá o Estado ucraniano de se tornar parte de quaisquer outras alianças econômicas, políticas ou militares que atrapalhem a meta principal de ingresso na UE."
A lei proibiria a entrada da Ucrânia na União Eurasiana, um bloco econômico liderado pela Rússia que inclui o Cazaquistão e Belarus e é promovido por Putin como uma resposta à União Europeia.
A decisão em dezembro do ex-presidente Viktor Yanukovych de descartar o acordo de associação à UE em prol de laços mais fortes com a Rússia provocou os protestos na praça Maidan, em Kiev, que acabaram levando à queda de Yanukovych.
Em sua mensagem aos separatistas, Putin disse: "Eu peço às milícias que abram um corredor humanitário para os militares ucranianos que foram cercados, para evitar qualquer perda desnecessária de vidas, lhes dando a oportunidade de deixaram a área de combate desimpedidos e voltarem às suas famílias, voltarem às suas mães, mulheres e filhos, e que forneçam rapidamente assistência médica aos feridos durante a operação militar". 
Arte/UOL
As cidades afetadas pelo movimento separatista na Ucrânia
Alexander Zakharchenko, o líder rebelde que disse na quinta-feira (28) que mais de 3.000 russos, incluindo soldados ativos em licença, lutaram ao lado dos separatistas, concordou rapidamente com a proposta de Putin.
"Com todo o respeito a Vladimir Vladimirovich Putin, o presidente do país, que tem nos ajudado muito com apoio moral, nós estamos prontos a conceder os corredores humanitários às divisões ucranianas cercadas nesses bolsões", disse Zakharchenko.
As condições incluem a entrega de todo o armamento pesado e munição. 
A contraofensiva separatista, que teve início na quarta-feira, abriu uma nova frente militar ao longo do Mar de Azov e colocou os rebeldes a uma distância de ataque a Mariupol, uma cidade portuária que é a segunda maior no sudeste da Ucrânia. Os líderes separatistas também disseram que cercaram 7.000 tropas ucranianas regulares e irregulares, que foram isoladas devido ao rápido avanço dos tanques e artilharia rebeldes.
A ofensiva provocou novas críticas do Ocidente, e a chancelar da Alemanha, Angela Merkel, disse na quinta-feira que a possibilidade de imposição de novas sanções contra a Rússia seria discutida em uma cúpula da União Europeia em Bruxelas, no sábado. Como preparação para esse encontro, os ministros das Relações Exteriores da UE se reuniram em Milão, na sexta-feira, para discutir a posição do bloco a respeito da crise.
Na sexta-feira, o secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, ofereceu o apoio da aliança a Kiev e condenou o que chamou de "escalada séria da agressão militar da Rússia à Ucrânia". Ele falou após os embaixadores dos 28 países da aliança terem se reunido em seu quartel-general em Bruxelas, primeiro para discutir a crise da Ucrânia entre eles e depois conversar com os representantes do governo em Kiev.
"Apesar das negações vazias de Moscou, agora está claro que tropas e equipamento russos cruzaram ilegalmente a fronteira para o leste e sudeste da Ucrânia", disse Rasmussen em uma declaração. "Não se trata de uma ação isolada, mas parte de um padrão perigoso ao longo de muitos meses para desestabilizar a Ucrânia como nação soberana."
"As forças russas estão envolvidas em operações militares diretas dentro da Ucrânia", ele acrescentou. "A Rússia continua fornecendo tanques, blindados, artilharia e lançadores de foguetes aos separatistas. A Rússia disparou contra a Ucrânia tanto de território russo quanto de dentro da própria Ucrânia."
Os líderes da Otan se reunirão no País de Gales na semana que vem, e Rasmussen disse que a aliança asseguraria ao presidente ucraniano, Petro Poroshenko, "o apoio resoluto (da Otan) à Ucrânia".
A Otan tem uma parceria formal com a Ucrânia baseada em acordos em 1997 e 2009, disseram representantes da aliança, mas os ucranianos buscaram o que Rasmussen chamou de política de "não aliança". Na sexta-feira, o chefe da Otan disse que a aliança respeitaria os desejos da Ucrânia se decidisse mudar a política, como Yatsenyuk sugeriu.
Em 2008, disse Rasmussen, a Otan decidiu que "a Ucrânia se tornará membro da Otan desde que, é claro, a Ucrânia assim deseje e desde que a Ucrânia cumpra os critérios necessários". A ideia sempre enfrentou oposição veemente da Rússia.
"Enquanto isso, a Ucrânia decidiu buscar uma chamada política de não aliança. Nós respeitamos plenamente isso", disse Rasmussen. "Nós respeitamos plenamente se o Parlamento ucraniano decidir mudar essa política, porque seguimos o princípio de que cada nação tem o direito de decidir por conta própria, sem interferência externa, e esperamos que outras nações sigam o mesmo princípio."

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