Jean Michel Bezat - Le Monde
Carlos Barria/AP- 20.mai.2014
O
presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da China, Xi
Jinping, apertam as mãos depois de assinar acordo bilateral no salão de
visitas oficiais do governo chinês, em Xangai
O contraste é notável. Em Pequim, o Estado acaba de anunciar um afrouxamento de seu controle sobre as grandes empresas públicas; já em Moscou, o Estado-patrão nunca teve tanta influência como agora sobre os grupos que operam setores estratégicos como a energia, os transportes, os bancos e os eletrônicos. Enquanto o presidente chinês decidiu que os 111 conglomerados do país agora deveriam entrar em uma dinâmica de mercado, seu colega russo retomou o controle das coisas colocando amigos e comparsas, empresários, ministros e oficiais de alto escalão nos conselhos das sociedades estatais. Xi Jinping tem buscado melhorar a performance do setor público, enquanto Vladimir Putin tenta aumentar seu controle sobre setores inteiros da economia. O que vale para um lado do rio Amur não vale para o outro...
A reforma chinesa anunciada no dia 13 de setembro está sendo tímida, mas ela traduz a linha estabelecida em novembro de 2013 pelos dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC) em prol de um papel maior das forças do mercado para sustentar a segunda maior economia do mundo. Nos setores do petróleo, do gás, dos bancos, das telecomunicações, da siderurgia e da construção ferroviária, as empresas deverão ser "criativas e capazes de enfrentar a concorrência internacional" até 2020, afirmou a agência oficial de notícias "Xinhua". Gigantes como a China Mobile, a Sinopec (petróleo) ou o Banco Industrial e Comercial (ICBC), muitas vezes saturados de fundos públicos, poderão se abrir para capitais privados (em uma proporção bem minoritária) e contratar administradores mais competentes que seus atuais executivos.
É claro, qualquer tipo de privatização está
descartada, a maior parte das 155 mil empresas públicas sob controle das
autoridades locais não será afetada e as cerca de cem que serão
permanecerão sob o controle do aparelho estatal, ainda que a
interferência das agências governamentais em sua gestão seja "proibida".
No entanto, o anúncio dessas medidas, precedido de longos meses de
negociações, marca uma etapa importante na abertura da economia, da qual
parte dos problemas atuais pode ser atribuída às performances pífias de
alguns de seus "paquidermes".O contraste é notável. Em Pequim, o Estado acaba de anunciar um afrouxamento de seu controle sobre as grandes empresas públicas; já em Moscou, o Estado-patrão nunca teve tanta influência como agora sobre os grupos que operam setores estratégicos como a energia, os transportes, os bancos e os eletrônicos. Enquanto o presidente chinês decidiu que os 111 conglomerados do país agora deveriam entrar em uma dinâmica de mercado, seu colega russo retomou o controle das coisas colocando amigos e comparsas, empresários, ministros e oficiais de alto escalão nos conselhos das sociedades estatais. Xi Jinping tem buscado melhorar a performance do setor público, enquanto Vladimir Putin tenta aumentar seu controle sobre setores inteiros da economia. O que vale para um lado do rio Amur não vale para o outro...
A reforma chinesa anunciada no dia 13 de setembro está sendo tímida, mas ela traduz a linha estabelecida em novembro de 2013 pelos dirigentes do Partido Comunista Chinês (PCC) em prol de um papel maior das forças do mercado para sustentar a segunda maior economia do mundo. Nos setores do petróleo, do gás, dos bancos, das telecomunicações, da siderurgia e da construção ferroviária, as empresas deverão ser "criativas e capazes de enfrentar a concorrência internacional" até 2020, afirmou a agência oficial de notícias "Xinhua". Gigantes como a China Mobile, a Sinopec (petróleo) ou o Banco Industrial e Comercial (ICBC), muitas vezes saturados de fundos públicos, poderão se abrir para capitais privados (em uma proporção bem minoritária) e contratar administradores mais competentes que seus atuais executivos.
Já em Moscou assiste-se a uma movimentação inversa, na qual vem se fechando um tímido e curto parêntese liberal. Em 2011, o presidente russo havia suscitado uma pequena esperança. Dmitri Medvedev havia pedido aos oficiais, ministros e vice-ministros do governo que abandonassem seus postos nos conselhos de empresas públicas, movimento destinado a acompanhar a abertura de seu capital e melhorar o clima de negócios. Mais independência, mais transparência! Em junho de 2012, a eleição do blogueiro anticorrupção e anti-Putin, Alexei Navalny, ao conselho dos diretores da Aeroflot, havia causado surpresa. Mas ela não se deu devido a uma repentina generosidade de Putin que acabara de ser reeleito, e o defensor da boa governança foi descartado já no ano seguinte.
Não demorou muito para se entender que a velha guarda intervencionista encarnada por Putin não deixaria espaço para a guarda dos liberais que deveria ser conduzida por Medvedev. O número de administradores independentes culminou em setembro de 2013 e depois recuou, observa Mikhail Korostikov, pesquisador do Kryshtanovskaya Lab, centro moscovita de sociologia, em um artigo publicado pelo Instituto Francês de Relações Internacionais (Russie. Nei. Visions, número 87, agosto). Assim que Putin voltou ao Kremlin, começaram a surgir sinais de retomada, assim como pressões sobre determinados oligarcas para que eles cedessem ativos a empresas estatais.
As sanções internacionais
O próprio Medvedev oficializou essa mudança no final de 2014. "Levando em conta a situação econômica atual", anunciou o chefe do governo, "acredito que essa seja a hora certa para voltar para a questão da representação dos funcionários públicos nos conselhos das empresas". Os empresários russos e os estrangeiros antes disso já sabiam que um "oficial" próximo de Putin em seu quadro de diretoria – ex-agente da KGB, ex-colega na prefeitura de São Petersburgo, presidente de um outro conglomerado público, parceiro de judô – seria o mais precioso trunfo para obter autorizações e mais rapidamente, analisa Korostikov, que acredita que a esperança de colocar o capitalismo de Estado nas vias do mercado virou um "fiasco".Se o mestre do Kremlin nunca realmente afrouxou seu controle, ele o aumentou com as sanções internacionais infligidas à Rússia devido à anexação da Crimeia e seu apoio aos separatistas na Ucrânia. Em uma Rússia onde muitos cidadãos têm a impressão de estarem vivendo em uma cidadela sitiada pelo Ocidente, a voz dos partidários de um maior controle do estado sobre a atividade econômica tem grande alcance. É possível encontrar de tudo nas diretorias: desde oficiais de alto escalão da agência de participações do Estado até colaboradores da administração presidencial, executivos ligados a Putin. Algumas personalidades estão voltando, próximas dele em grande parte: Igor Setchin, presidente da petroleira Rosneft, Serguei Chemezov, presidente do conglomerado da defesa Rostek, Nikolai Tokarev, que administra a rede de oleodutos Transneft, Matthias Warnig, ex-agente da Stasi da Alemanha Oriental... eles formam uma rede estreita, e suas empresas podem financiar, assim como a Gazprom, grandes projetos caros ao Kremlin (Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, cúpula Ásia-Pacífico...)
Korostikov sugere que, ao reintroduzir oficiais no comando de grupos públicos, Putin tem uma intenção mais prosaica: compensá-los pelos prejuízos que as sanções ocidentais estão ocasionando a essa elite que investiu suas riquezas longe de seu imprevisível país.
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