quinta-feira, 23 de junho de 2016

Paulo Bernardo: low profile e a 'cabeça' de esquema milionário de propina
Laryssa Borges - VEJA
O ex-ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, é escoltado por policiais federais em avião, para transferência de Brasília para São Paulo - 23/06/2016O ex-ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, é escoltado por policiais federais em avião, para transferência de Brasília para São Paulo - 23/06/2016(Adriano Machado/Reuters)
Egresso do sindicalismo, onde liderou greves e ascendeu à vida política, o ex-ministro Paulo Bernardo Silva, preso hoje por ordem do juiz Paulo Bueno de Azevedo, sempre foi considerado um petista low profile. De perfil debochado, era publicamente conhecido como um político sem radicalismos ou arroubos de retórica. No submundo dos contratos com a administração pública, porém, o Ministério Público atribui a ele o papel de "encabeçar" e recolher com desenvoltura milhões de reais em propina para si e para sua "Loura", apelido utilizado pela presidente afastada Dilma Rousseff para se referir à senadora Gleisi Hoffmann, com quem ele é casado há quase 20 anos.
Entre as hostes petistas, no entanto, já era amplamente conhecida a atuação do casal Gleisi-Paulo Bernardo no propinoduto instalado na Petrobras. O deputado cassado André Vargas (ex-PT-PR), que operava para a dupla e se autointitulava "um homem muito influente no partido", sempre ameaçou, desde que foi escanteado pela própria legenda, detalhar como Bernardo se beneficiava do esquema de corrupção. Além da atuação da quadrilha alojada no Ministério do Planejamento - operação que rendeu mais de 100 milhões de reais em propina, conforme levantamento dos investigadores da Operação Custo Brasil -, petistas apontam que Bernardo e Gleisi tinham tentáculos também na Itaipu Binacional. O ex-ministro preso hoje foi descrito pelo senador cassado Delcídio do Amaral como um dos "melhores captadores de recursos" para os cofres do partido. E para sua Loura, investigada na Operação Lava Jato por ter embolsado 1 milhão de reais do nebuloso doleiro Alberto Youssef.
O ex-líder do governo Dilma, que até há pouco dividia bancada com Gleisi Hoffmann, disse como delator da Lava Jato que era de "notório conhecimento" a relação da senadora com a Consist, empresa que atuava em fraudes de prestação de serviços de informática para gestão de empréstimos consignados e recolhia milhões em propina para políticos. Pelos cálculos preliminares dos investigadores, o esquema capitaneado pelo ex-vereador do PT Alexandre Romano, conhecido como Chambinho, repassou pelo menos 5,6 milhões de reais em propina a Bernardo por meio de contratos fictícios. A Consist, disse Delcídio, era o "braço financeiro" do casal.
Ainda segundo o ex-senador do PT, o modus operandi de Paulo Bernardo e da Consist remonta ao início dos anos 2000, quando ele ocupou a secretaria estadual de Fazenda do Mato Grosso do Sul, à época comandada por Zeca do PT, e Gleisi, a secretaria de Reestruturação Administrativa. A atuação da dupla Gleisi-Paulo Bernardo em operações suspeitas inclui ainda, de acordo com Delcídio do Amaral, a gestão da senadora paranaense à frente da Casa Civil em concessões do Porto de Santos e como diretora financeira de Itaipu. As investigações do petrolão, aliás, barraram a indicação de Bernardo para a Itaipu.
Sem foro privilegiado, o ex-chefe do Planejamento e das Comunicações se livrou de cair nas mãos do juiz Sergio Moro depois de o Supremo Tribunal Federal ter considerado que o esquema Consist não está incluindo no bilionário escândalo do petrolão. Ainda assim, a justiça considerou hoje que, no caso de Paulo Bernardo, "o risco de realização de novos esquema de lavagem é expressivo". E a sociedade mais uma vez vítima de corruptos, sejam eles petistas low profile ou não. "A corrupção de quantias expressivas representa um perigo invisível para a sociedade, que acaba se tornando vítima sem o saber", resumiu o juiz Paulo Bueno de Azevedo ao mandar o ex-ministro de Lula e Dilma para atrás das grades.

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