O Terrorismo e a Sociedade dos Ursinhos de Pelúcia
Theodore Dalrymple: [*]
O único homem que eu conheci cuja ambição era ser um homem bomba era
um prisioneiro na prisão britânica onde trabalhei como médico nos anos
90 e 2000. Ele era um criminoso de carreira com propensões para
crueldade cujo pai era árabe e a mãe inglesa. Ele chegou aos seus 30, a
idade em que os criminosos usualmente se afastam do crime em favor de
algo melhor — nesse caso o assassinato de tantos infiéis quanto
possíveis, juntamente com ele mesmo.
Aproximar-se da religião é uma razão, ou pretexto, para abandonar o
crime. Na prisão havia muito mais evangelismo islâmico do que cristão.
Eu encontrava Alcorões e panfletos islâmicos em gavetas, colocados lá
por não se sabe quem, mas nunca Bíblias ou panfletos cristãos.
Eu interpretava a religião como o meio pelo qual prisioneiros
racionalizam o abandono do crime e, ao mesmo tempo, não sentem que foram
derrotados ou se rederam à sociedade ao seu redor – pois sabem que a
conversão para o Islã faz essa sociedade estremecer.
O problema para os serviços de segurança, no entanto, é que não
existe um perfil invariável, social ou psicológico, do terrorista
muçulmano. Nem há uma espécie de alavanca econômica que possa ser puxada
para que, com melhores perspectivas materiais, os jovens muçulmanos
sejam menos atraídos pelo terrorismo. Há, de fato, vagabundos entre os
terroristas, mas há também estudantes de medicina e médicos. Não havia
nada (exceto ele próprio) impedindo o recente homem bomba de Manchester
de ter uma carreira normal e até mesmo bem-sucedida.
Como corretamente disse a primeira-ministra Theresa May, depois das
mais recentes atrocidades em Londres, o que os terroristas têm em comum é
uma ideologia. Ela, com razão, a chamou de maligna, mas também é
estúpida: faz com que o grupo Baader-Meinhof [**] se pareça com
Aristóteles.
Uma ideologia, no entanto, por mais estúpida que seja, não é fácil de
se destruir; crer em seis coisas impossíveis antes do café da manhã é
quase inerente à experiência do ser humano. Uma coisa óbvia a se fazer
seria estrangular o financiamento estrangeiro de tanta atividade
islamista na Grã-Bretanha. Isso é, sem dúvida, complicado por muitas
razões, mas nenhum governo britânico, desejoso de relações comerciais,
sequer ousou tentar.
A economia britânica é precária e é difícil ser forte quando sua
economia é fraca. Em vez disso, fomos para o que o meu amigo holandês
chama de “apaziguamento criativo”. As autoridades fazem concessões,
suspeita-se, até mesmo antes de haver alguma demanda por elas. Assim,
uma biblioteca pública em Birmingham, uma das maiores que conheço,
instalou mesas exclusivas para mulheres, um eufemismo para “mulheres
muçulmanas apenas”. Se já houve um pedido ou demanda de assentos
segregados por sexo de muçulmanos, trata-se de algo desconhecido; a
verdade raramente emerge por meio das autoridades públicas. Mas a
justificativa certamente seria que, sem essas mesas, as mulheres
muçulmanas não poderiam usar a biblioteca.
O aeroporto de Birmingham colocou um quarto para wudu, as
abluções muçulmanas feitas antes da oração. Nenhuma outra religião é
atendida desta forma (nem deve ser, na minha opinião), de modo que a
impressão é, inevitavelmente, que o Islã é de alguma forma favorecido ou
privilegiado. Mais uma vez, seria difícil descobrir se pedidos ou
demandas foram feitas para tal sala ou se as autoridades apenas se
adiantaram; em ambos os casos, a fraqueza é anunciada.
Este não é um problema apenas local. Muitos aeroportos europeus agora
reservam uma sala para a “meditação”. O ícone usado para indicá-lo
quase sempre traz mais uma conotação islâmica do que qualquer outra. Um
amigo me contou que, quando ela entrou em um desses lugares, um
muçulmano lhe pediu que tirasse os sapatos — o ecumenismo, obviamente, é
uma rua de mão única.
Minhas pacientes muçulmanas que cresceram na Grã-Bretanha me disseram
que os inspetores da escola nunca interviam quando seus pais as
impediam de frequentar a escola, muitas vezes por anos. Por outro lado,
os pais brancos da classe trabalhadora foram intimidados por esses
inspetores quando suas filhas teimosas de 15 anos se recusavam a ir.
Alguns anos atrás, descobriu-se que a polícia de Rotherham havia, de
forma sistemática, fechado os olhos por completo ao abuso sexual em
massa de crianças – pelo menos 1.400 vítimas – por homens muçulmanos.
Este tipo de negligência voluntária pelas autoridades não me surpreende.
Pelo contrário, é justamente o que eu esperava.
Essas coisas certamente dão aos terroristas uma boa margem de
conforto. Dá-lhes a impressão de viver numa sociedade fraca, que será
fácil de destruir, de modo que seus atos não são, pelo menos, niilistas
ou inúteis, como é frequentemente reivindicado. Eles nos enxergam como
uma sociedade de ursos de pelúcia e velas (ainda que, misteriosamente,
dotada de proezas tecnológicas): nós matamos, você acende velas. No
outro dia passei por uma loja de ursinhos, isto é, uma loja que não
vende nada além de ursinhos de pelúcia. Tenho certeza de que o
terrorismo é bom para as vendas, mas ursos de pelúcia tranquilizam mais
os terroristas do que aqueles que os compram para colocar no lugar da
última infâmia.
Outra fonte de conforto para os terroristas é que, após cada nova
atrocidade, a polícia é capaz de prender vários cúmplices suspeitos.
Isso sugere que a polícia conhecesse as identidades dos atacantes com
antecedência, mas não faz nada — em outras palavras, sinal de que a
maior parte do tempo os terroristas podem agir com impunidade, mesmo que
sejam conhecidos. Está é, então, mais uma evidência de uma sociedade
que não se defenderá de foram séria. Este não é apenas um problema
britânico. O assassinato de um policial em abril, nos Champs Elysées em
Paris, foi cometido por um homem que já havia tentado matar três
policiais, que se tornara fanático e que foi encontrado com armas em sua
casa. As autoridades esperaram pacientemente até que ele agiu.
Tradução: Guilherme Pradi Adam
Revisão: Hugo Silver
[*]Theodore Dalrymple. “Terror and the Teddy Bear Society“. The Wall Street Journal, 5 de junho de 2017.
[**] NOTA DO TRADUTOR: grupo terrorista alemão de extrema esquerda da década de 70.
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