O principal
CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Na estratégia do biquíni, que mostra tudo, mas esconde o
principal, o governo vai seguir dizendo que apresentou excelentes
resultados na administração das contas públicas de 2013: um superávit
primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 1,9% do PIB,
lição de casa que poucos países vêm entregando. Essa avaliação oficial
não deixa de ter sua parcela de verdade.
O governo entregou um superávit primário de apenas 1,9% do PIB. A
promessa feita no início do ano foi de cumprir 3,1% do PIB. Depois,
revisou a meta para baixo, a 2,3% do PIB, mas o final de jogo foi mais
baixo.
Outro modo de ver as coisas é o de que esses resultados estão
baixando ano a ano, com a agravante de que, no ano passado, contou com
arrecadações excepcionais, que não se repetirão. Como está no gráfico ao
lado, quando se incluem as despesas com juros o resultado não é mais o
primário; é o nominal e não há saldo positivo; há rombo, de 3,3% do PIB.
E esse rombo tende a crescer não só porque os juros da dívida
aumentaram em relação aos que eram praticados nos anos anteriores, mas,
também, porque seguirão aumentando.
O governo diz que faz tudo o que pode. A questão mais importante é
que o sacrifício desse novilho aos deuses pode não ser suficiente para
evitar a fúria dos elementos. O momento é delicado nas duas frentes:
interna e externa. A política econômica não passa confiança, o
crescimento econômico medíocre compromete a arrecadação, as despesas
públicas seguem crescendo mais que as receitas, a inflação está alta
demais e o País dá sinais de desarranjo também nas contas externas, que
são liquidadas em dólares.
Enquanto a economia mundial desfrutou de abundância nunca vista de
moeda e de disponibilidade de crédito, as grandes distorções da economia
brasileira passaram despercebidas. Mas o jogo está virando, os tempos
prometem escassez de recursos e a dose dos ajustes empregados pela
política econômica do governo brasileiro mostra-se insuficiente para
enfrentar as turbulências anunciadas nas telas de radar. O discurso
oficial recorrente, de que a economia brasileira é altamente resistente a
tormentas assim, não bate com a insistência com que o governo culpa a
crise externa pelas mazelas que nos afligem.
Desde abril do ano passado, o Banco Central passou a restringir a
oferta interna de moeda (alta dos juros) para combater a inflação. Mas
falta mais disciplina nas contas públicas para melhorar a qualidade do
ajuste da economia.
Na semana passada, a presidente Dilma deu a entender que reforçará os
cortes orçamentários para melhorar as contas públicas e, assim, não
deixar todo o serviço a cargo do Banco Central. É um passo que contraria
os interesses imediatos dos políticos que em anos normais adoram
gastar, mas que, em anos de eleições, querem gastar compulsivamente. A
presidente Dilma deve estar agora avaliando qual a resposta de maior
custo político: a da leniência com as contas públicas ou a austeridade
fiscal.
Não basta prometer um superávit primário mais alto; é preciso
acompanhar a promissória com garantias reais que afastem o risco de não
cumprimento.
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