Espancamento de adolescente cigano expõe tensões na classe baixa francesa
Dan Bilefsky e Maïa De La Baume - NYT
Denis Charlet/AFP
1º.out.2013 - Famílias ciganas fazem check-in no aeroporto de Lille, norte da França. Eles participam de um programa de retorno voluntário à Romênia
1º.out.2013 - Famílias ciganas fazem check-in no aeroporto de Lille, norte da França. Eles participam de um programa de retorno voluntário à Romênia
Com seus tristes prédios de apartamentos de concreto e seus bandos de
jovens desempregados e entediados, o projeto habitacional Cité des
Poètes desafia seu nome idílico.
Foi aqui neste subúrbio pobre
de maioria de imigrantes no norte de Paris que, neste mês, um cigano de
17 anos, Gheorghe, conhecido como Darius, foi espancado até ficar
inconsciente por uma gangue de até 20 jovens empunhando bastões de
madeira e metal, de acordo com os promotores. Seu corpo flácido foi
jogado em um carrinho de supermercado, com o rosto inchado congelado em
uma máscara de dor. Darius, um cidadão romeno, continua em coma
em condição crítica. Quase duas semanas depois do ataque, nenhuma
prisão foi feita em um crime cuja brutalidade chocou a França e foi
condenado pelo presidente François Hollande, que considerou o ato "além
das palavras e injustificável". Promotores e testemunhas dizem
que o ataque foi perpetrado em retaliação pela suspeita de que o menino
ter roubado o projeto habitacional próximo. Embora não tenham
caracterizado o ataque como um crime de motivação racial, os promotores
dizem que não foi um crime comum, mas um verdadeiro linchamento na
periferia de Paris, em meio a um clima cada vez mais inóspito para os
grupos minoritários, aqui e em toda a Europa, principalmente para os
ciganos. Por último, ele enfatizou as tensões existentes na
classe baixa da França. Os ciganos, que montaram acampamentos nas
periferias pobres das cidades francesas, estão em conflito com
imigrantes residentes de longa data que têm dificuldades para se
integrar e vivem na pobreza há décadas nos subúrbios que cercam Paris e
outras cidades, conhecidos como banlieues. No caso de Darius,
cujo nome completo não foi revelado pelas autoridades pelo fato de ser
um menor, a fúria por viver na classe baixa nas periferias da capital
francesa parece ter colocado os miseráveis contra os desesperados.
"Aqueles que moram aqui são perdedores, a maioria não trabalha, e então
essas pessoas ousam se assentar aqui perto", disse Aka, 45, que como a
maioria dos moradores se recusou a dar seu sobrenome por medo de
retaliação de outros moradores. Enquanto um grupo de ciganos vasculhava o
lixo em busca de pedaços de metal perto de seu conjunto habitacional,
ele disse: "São os pobres atormentando os pobres. Eles entram em nossas
casas e destroem, roubam e vandalizam. É um absurdo". Dias
depois que os ciganos montaram um acampamento improvisado no mês passado
próximo de um conjunto habitacional do outro lado de uma rodovia, os
moradores dizem que acordaram e encontraram carros sem os bancos. Joias,
televisões e aparelhos de som desapareceram, disseram. Mas ninguém
chamou a polícia, em uma demonstração da profunda desconfiança em
relação às autoridades, compartilhada tanto pelos ciganos quanto pelos
moradores do local. Governo condena ataque
Apesar de Hollande ter condenado o ataque, seu governo socialista acelerou a destruição dos acampamentos dos ciganos, e alguns críticos culpam-no por legitimar um clima de ódio contra os ciganos, inflamado pela extrema-direita. Seu primeiro-ministro recentemente nomeado, Manuel Valls, disse no ano passado que apenas uma minoria de ciganos podem se integrar, sugerindo que os demais deveriam ir embora. Em maio, o partido de extrema-direita de Marine Le Pen, a Frente Nacional, ficou em primeiro lugar nas eleições para o Parlamento Europeu, fazendo uma campanha anti-imigração que ressoou fortemente na economia paralisada da França. O partido alertou que o país corria o risco de ser inundado de ciganos, e no ano passado, seu fundador, Jean-Marie Le Pen, chamou a população cigana de Nice de "malcheirosa" e "causadora de urticária". Darius havia fugido de um hospital psiquiátrico na Romênia antes de ir para a França, disseram as autoridades, e ele parece se encaixar no padrão de muitos jovens ciganos que vivem no país. Os defensores dos ciganos dizem que depois de fugir da Romênia, ele se juntou à sua mãe e avó na França. Seu pai continua na Romênia. Darius não frequentou a escola e foi preso por suspeita de roubo pelo menos uma vez, sem ter sido acusado, disseram os promotores. Sua mãe está desempregada. Manon Fillonneau, um monitora de direitos humanos para o Centro Europeu de Direitos dos Ciganos em Paris, disse que a violência e a intimidação contra os ciganos tem se intensificado, incluindo relatos de um ataque de ácido no centro de Paris e coquetéis Molotov lançados contra trailers de ciganos perto de Lille, no norte da França. Crianças como Darius estão sendo evitadas pelas escolas públicas que temem legitimar os acampamentos ciganos onde elas vivem, disse ela. "Estamos perdendo uma geração de crianças", disse ela. Em Cité des Poètes, os jovens também disseram que se sentem abandonados pelo Estado francês. Cerca de 900 projetos de moradia foram construídos dos anos 70 aos 90 com a intenção de abrigar as populações de imigrantes da classe trabalhadora, muitos da África subsaariana e do norte da África. O desemprego nos projetos habitacionais chega a 30%, diz Benoît Ménard, do gabinete da prefeitura em Pierrefitte-sur-Seine. Um terço da população nasceu fora da França, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas. A Cité des Poètes está passando por uma extensa reforma, com a instalação de varandas modernistas cor-de-laranja em alguns prédios e jardins. Mas os moradores dizem que as reformas são apenas maquiagem. "Não há cinema, piscina, quadra de futebol", disse o estudante Bader, sentado ao lado de seus amigos. "As pessoas não têm emprego nem dinheiro, então roubam ou vendem drogas. Elas não procuram fazer nada mais. Aqui não temos nada."
Tradutor: Eloise De Vylder
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