Estudar para que?
João Bosco Leal
O
Brasil é, realmente, um país diferente, pois em todo o mundo, o que
mais vemos são pessoas, grupos empresariais e governos investindo
sistematicamente - e cada vez mais -, em educação e nas mais diversas
especializações da área, enquanto aqui isso parece não ser necessário.
A
Coréia do Sul é um bom exemplo de país que, nos últimos cinquenta anos,
optou por realizar investimentos pesados em educação, o que a
transformou, nesse curto espaço de tempo, em uma potência industrial na
produção de veículos, tecnologias de informação e telecomunicação, além
de aparelhos eletrônicos das mais diversas áreas. Foi o que a tornou tão
diferente, mais rica, progressista e culta que sua antiga irmã Coréia
do Norte.
Enquanto
isso, em nosso país, continuamos com o sistema patriarcal do Estado que
provê os analfabetos ou menos instruídos, dando-lhes o pão e o circo,
em troca de votos para os coronéis no poder. O local onde quanto pior
melhor, pois assim, em períodos de eleições, os políticos podem prometer
melhorias na saúde, educação e outras, para convencer o eleitor.
Aqui,
os políticos que se dizem de origens pobres, que passaram fome em sua
infância e juventude, comovem e ganham os votos dos que vivem ou viveram
na mesma situação, mas depois de eleitos passam a sequer tomar
conhecimento dessa grande parcela da população, que só voltará a ter
importância no período que antecederá as próximas eleições.
Entre
essas duas eleições, sua única preocupação passa a ser exclusivamente
de como "lucrar" mais. Seus filhos normalmente são enviados para estudar
fora do país e, apesar de seus salários serem elevados para os padrões
do país, jamais conseguiriam explicar sua capacidade de multiplicação de
seu patrimônio pessoal, dos filhos, genros, noras ou dos amigos,
conhecidos como "laranjas".
Os
ternos e vestidos caríssimos, feitos sobre medida pelos maiores
costureiros do país ou do exterior, os cabeleireiros e maquiadores
prediletos que levam em suas viagens, os charutos, alimentos e bebidas
importadas, além das suítes dos hotéis mais caros do mundo, passam a
fazer parte do cotidiano desses antigos "miseráveis".
Filhos
antes subempregados, imediatamente tornam-se sócios das principais
empresas do país, nas mais diversas áreas, sem nenhuma explicação lógica
para essa "genialidade comercial"
e nenhum dos outros Poderes legalmente constituídos - geralmente também
participando do mesmo esquema -, toma qualquer tipo de atitude para
impedir que isso continue ocorrendo.
A "competência"
desses políticos é tão elevada que quando acabam seus mandatos podem
dar aulas - saem pelo mundo dando palestras - de como conseguiram tornar
este país uma maravilha e de como tiraram milhões da zona de pobreza
extrema.
Com o dinheiro público fazem inúmeras "benesses",
como construir portos, usinas hidrelétricas e rodovias em outros
países, enquanto internamente continuam deixando a população morrendo
nas filas de hospitais, sem escolas e sem infraestrutura necessária para
escoar o que aqui produzimos.
A lei 12.663, de 05 de Junho de 2012, que ficou conhecida lei Geral da Copa, mostra outra dessas "caridades"
feitas com o dinheiro público. Em seu artigo 37, além da aposentadoria
vitalícia pelo teto máximo do INSS, ela concede um prêmio de R$
100.000,00 (cem mil reais) a todos os jogadores, titulares ou reservas,
das seleções brasileiras campeãs das copas mundiais masculinas da FIFA
nos anos de 1958, 1962 e 1970.
Como
podemos esperar um país melhor para nossos filhos e netos com atitudes e
exemplos como esses? Esses jovens certamente questionarão:
Estudar para que, se podemos ser políticos corruptos ou jogadores de futebol?
João Bosco Leal* www.joaoboscoleal.com.br
*Jornalista, escritor e empresário
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