Opinião: Lei fica em segundo plano na Cisjordânia, onde jovens foram mortos
Roger Cohen - NYTMorte de jovens reacende conflito Israel-palestinos
1°.jul.2014 - Avi e Rachel Fraenkel, pais de Naftali Frenkel, um dos três jovens israelenses sequestrados em junho, participam de seu funeral no assentamento de Nof Ayalon, região central de Israel. Os corpos de Gilad Shaer, 16, Naftali Frenkel, 16, e Eyal Ifrach, 19, foram encontrados nesta segunda-feira (30). Israel responsabiliza o Hamas pelo sequestro e pela morte dos jovens e diz que haverá retaliação. Shaer, Frenkel and Ifrach serão velados e sepultados em cerimônia conjunta em Modiín, região central de Israel. Tomer Appelbaum/AP
1°.jul.2014 - Avi e Rachel Fraenkel, pais de Naftali Frenkel, um dos três jovens israelenses sequestrados em junho, participam de seu funeral no assentamento de Nof Ayalon, região central de Israel. Os corpos de Gilad Shaer, 16, Naftali Frenkel, 16, e Eyal Ifrach, 19, foram encontrados nesta segunda-feira (30). Israel responsabiliza o Hamas pelo sequestro e pela morte dos jovens e diz que haverá retaliação. Shaer, Frenkel and Ifrach serão velados e sepultados em cerimônia conjunta em Modiín, região central de Israel. Tomer Appelbaum/AP
"Israel é um Estado de direito e todos estão obrigados a agir de acordo
com a lei", disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu,
após o rapto e assassinato de um adolescente palestino, morto em um
aparente ataque por vingança pelo assassinato no mês passado de três
adolescentes israelenses na Cisjordânia.
Ele chamou o assassinato de Muhammad Abu Khdeir em Jerusalém Oriental de "abominável". O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, condenou o assassinato dos três israelenses, um deles também um cidadão americano, nos termos mais fortes.
Como entender este surto mais recente na rixa de sangue de árabes e judeus na Terra Santa, além da repulsa pela perda sem sentido da vida de quatro adolescentes? Como entender as lamentações dos mesmos líderes que optaram por jogar no lixo nove meses de tentativas americanas de mediação diplomática e agora colhem os frutos de sua irresponsabilidade?
Às vezes palavras, quaisquer palavras, parecem impróprias, porque os perpetradores do conflito desfrutam da atenção que recebem –todas as contorções verbais dos supostos pacificadores que insistem, em sua perseverança peculiar, que a razão pode triunfar sobre a vingança e a revelação bíblica.
Além disso, é preciso ser dito que Israel, um Estado de direito dentro das fronteiras pré-1967, não é um Estado de direito além delas na Cisjordânia ocupada, onde o domínio israelense sobre milhões de palestinos, há quase meio século, envolve coerção, humilhação e abusos quase rotineiros, aos quais a maioria dos israelenses se torna cada vez mais alheia.
O que acontece além da há muito esquecida Linha Verde tende apenas a invadir a consciência israelense quando estoura violência. Caso contrário, está acontecendo além do muro ou barreira (escolha a palavra que melhor se encaixa em sua política), em lugares onde é melhor não estender o assunto.
Mas aqueles lugares voltam para assombrar os israelenses, como os assassinatos vis de Eyal Yifrach, Naftali Fraenkel e Gilad Shaar demonstram. Netanyahu, sem apresentar evidência, culpou o Hamas pelos assassinatos. A vasta resposta israelense na Cisjordânia já resultou em seis palestinos mortos, cerca de 400 palestinos presos e grande parte do território em confinamento. As represálias se estenderam a Gaza. Os militantes palestinos dali dispararam foguetes e morteiros contra o sul de Israel em resposta.
Não é isso o que acontece em um Estado de direito. Além da Linha Verde se encontra um empreendimento israelense sem lei profundamente corrosivo, com o passar do tempo, ao nobre sonho sionista de uma democracia governada pela lei.
Todas as quatro mortes ocorreram em território ocupado ou anexado por Israel desde 1967. Ali, a lei fica em segundo plano diante das alegações messiânicas dos nacionalistas religiosos, que acreditam que os judeus têm o direito dado por Deus a todas as terras entre o Mediterrâneo e o Rio Jordão. A visão deles é a que domina, apesar de não ser a visão da maioria dos israelenses.
Nenhuma democracia pode permanecer imune à manutenção de um sistema não democrático de opressão em um território sob seu controle. Ter cidadãos de um lado de uma linha invisível e vassalos sem direitos do outro lado da linha não funciona. Uma democracia precisa de fronteiras; Israel impõe um governo militar aos palestinos nas áreas ocupadas, onde não há consentimento dos governados.
Quanto à (suposta) Autoridade Palestina, ela é fraca, e o movimento nacional palestino ainda é dilacerado por divisões sob um "governo de unidade", que não consegue nem mesmo pagar salários em Gaza.
Esta situação pode ser sustentável porque o poder está principalmente em Israel. Mas é sustentável apenas ao preço da violência que agora ocorre. Este é o futuro. Fora um acordo de paz entre dois Estados, a vingança sobrepujará a lei. A violência não é uma aberração. É a consequência lógica de uma ordem aberrativa suscetível a turbas de linchamento, sejam árabes ou judias.
A maioria dos israelenses e palestinos quer paz. Eles não querem que seus filhos morram assim. Mas seus líderes são figuras pequenas, que buscam apenas ganhos táticos de curto prazo.
Um amigo francês me encaminhou o boletim informativo recente de uma violinista francesa, Mathilde Vittu, que ensina música na Cisjordânia. Ela escreve sobre ver as crianças palestinas saindo de suas aulas, com os violinos nas costas, sendo cercadas por soldados israelenses tentando provocá-las. Ela vai a Gaza e observa o "duplo aprisionamento" imposto por Israel e pelas "regras do Hamas".
Em um conservatório improvisado, parcialmente destruído, atingido por cortes de luz no meio de solos de piano de Bach, ela fala sobre sua "emoção indescritível" com o concerto final mágico, onde ela recebeu o agradecimento "por nos libertar por uma noite por meio da música".
Um violinista muito talentoso, de 14 anos, diz a ela que planeja parar de tocar após sua prova para se tornar um "mártir", devido à morte de seu melhor amigo na Cisjordânia. Ela fica profundamente perturbada; então os moradores locais lhe dizem que muitas crianças em Gaza têm essa ambição aos 14 anos, mas depois pensam melhor a respeito.
Yifrach, Khdeir, Fraenkel, Shaar: será que a morte deles servirá a algum propósito? Eu duvido.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Ele chamou o assassinato de Muhammad Abu Khdeir em Jerusalém Oriental de "abominável". O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, condenou o assassinato dos três israelenses, um deles também um cidadão americano, nos termos mais fortes.
Como entender este surto mais recente na rixa de sangue de árabes e judeus na Terra Santa, além da repulsa pela perda sem sentido da vida de quatro adolescentes? Como entender as lamentações dos mesmos líderes que optaram por jogar no lixo nove meses de tentativas americanas de mediação diplomática e agora colhem os frutos de sua irresponsabilidade?
Às vezes palavras, quaisquer palavras, parecem impróprias, porque os perpetradores do conflito desfrutam da atenção que recebem –todas as contorções verbais dos supostos pacificadores que insistem, em sua perseverança peculiar, que a razão pode triunfar sobre a vingança e a revelação bíblica.
Além disso, é preciso ser dito que Israel, um Estado de direito dentro das fronteiras pré-1967, não é um Estado de direito além delas na Cisjordânia ocupada, onde o domínio israelense sobre milhões de palestinos, há quase meio século, envolve coerção, humilhação e abusos quase rotineiros, aos quais a maioria dos israelenses se torna cada vez mais alheia.
O que acontece além da há muito esquecida Linha Verde tende apenas a invadir a consciência israelense quando estoura violência. Caso contrário, está acontecendo além do muro ou barreira (escolha a palavra que melhor se encaixa em sua política), em lugares onde é melhor não estender o assunto.
Mas aqueles lugares voltam para assombrar os israelenses, como os assassinatos vis de Eyal Yifrach, Naftali Fraenkel e Gilad Shaar demonstram. Netanyahu, sem apresentar evidência, culpou o Hamas pelos assassinatos. A vasta resposta israelense na Cisjordânia já resultou em seis palestinos mortos, cerca de 400 palestinos presos e grande parte do território em confinamento. As represálias se estenderam a Gaza. Os militantes palestinos dali dispararam foguetes e morteiros contra o sul de Israel em resposta.
Não é isso o que acontece em um Estado de direito. Além da Linha Verde se encontra um empreendimento israelense sem lei profundamente corrosivo, com o passar do tempo, ao nobre sonho sionista de uma democracia governada pela lei.
Todas as quatro mortes ocorreram em território ocupado ou anexado por Israel desde 1967. Ali, a lei fica em segundo plano diante das alegações messiânicas dos nacionalistas religiosos, que acreditam que os judeus têm o direito dado por Deus a todas as terras entre o Mediterrâneo e o Rio Jordão. A visão deles é a que domina, apesar de não ser a visão da maioria dos israelenses.
Nenhuma democracia pode permanecer imune à manutenção de um sistema não democrático de opressão em um território sob seu controle. Ter cidadãos de um lado de uma linha invisível e vassalos sem direitos do outro lado da linha não funciona. Uma democracia precisa de fronteiras; Israel impõe um governo militar aos palestinos nas áreas ocupadas, onde não há consentimento dos governados.
Quanto à (suposta) Autoridade Palestina, ela é fraca, e o movimento nacional palestino ainda é dilacerado por divisões sob um "governo de unidade", que não consegue nem mesmo pagar salários em Gaza.
Esta situação pode ser sustentável porque o poder está principalmente em Israel. Mas é sustentável apenas ao preço da violência que agora ocorre. Este é o futuro. Fora um acordo de paz entre dois Estados, a vingança sobrepujará a lei. A violência não é uma aberração. É a consequência lógica de uma ordem aberrativa suscetível a turbas de linchamento, sejam árabes ou judias.
A maioria dos israelenses e palestinos quer paz. Eles não querem que seus filhos morram assim. Mas seus líderes são figuras pequenas, que buscam apenas ganhos táticos de curto prazo.
Um amigo francês me encaminhou o boletim informativo recente de uma violinista francesa, Mathilde Vittu, que ensina música na Cisjordânia. Ela escreve sobre ver as crianças palestinas saindo de suas aulas, com os violinos nas costas, sendo cercadas por soldados israelenses tentando provocá-las. Ela vai a Gaza e observa o "duplo aprisionamento" imposto por Israel e pelas "regras do Hamas".
Em um conservatório improvisado, parcialmente destruído, atingido por cortes de luz no meio de solos de piano de Bach, ela fala sobre sua "emoção indescritível" com o concerto final mágico, onde ela recebeu o agradecimento "por nos libertar por uma noite por meio da música".
Um violinista muito talentoso, de 14 anos, diz a ela que planeja parar de tocar após sua prova para se tornar um "mártir", devido à morte de seu melhor amigo na Cisjordânia. Ela fica profundamente perturbada; então os moradores locais lhe dizem que muitas crianças em Gaza têm essa ambição aos 14 anos, mas depois pensam melhor a respeito.
Yifrach, Khdeir, Fraenkel, Shaar: será que a morte deles servirá a algum propósito? Eu duvido.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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