quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Talibã e aliados são ameaça à civilização
Quando se requer uma frente unida internacional contra grupos de fanáticos, o Brasil destoa com uma diplomacia que insiste no diálogo com facínoras
O Globo 
Há muitas famílias de luto no Paquistão. Num dos mais brutais atentados de que se tem notícia, um comando do grupo fundamentalista islâmico Talibã do Paquistão atacou o Colégio Público Militar em Peshawar, onde estudam 2.500 alunos, muitos filhos de militares. Mais de 130 crianças foram covardemente assassinadas e o número total supera os 145, se incluídos professores e funcionários.
O complexo Paquistão é frequentemente sacudido por atentados. O Talibã paquistanês, uma coalizão de cerca de 30 grupos militantes e aliado da al-Qaeda, opera a partir das áreas tribais na fronteira com o Afeganistão. É uma filial do Talibã que governou o Afeganistão de 1996 a 2001 e fez o país retroceder alguns séculos ao pôr em prática uma interpretação obscurantista do Islã. O atentado em Peshawar foi justificado como retaliação às operações que o Exército do Paquistão tem realizado nas áreas de fronteira com o Afeganistão e que teriam resultado na morte de 1.800 militantes.
O fundador do Talibã paquistanês foi o jihadista Baitullah Mehsud, morto por um drone americano em 2009. O número de graves atentados cometidos pelo grupo no país é grande demais para listar. Suspeita-se, por exemplo, que ele esteve por trás do ataque suicida que matou a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, em 2007. Em 2012, um membro do grupo atirou na cabeça de Malala Yousafzai, uma estudante paquistanesa militante pelos direitos das jovens no país. Malala sobreviveu e se tornou símbolo da luta contra o mundo de trevas a que o grupo condena as mulheres. Aos 17 anos, ela se tornou, na semana passada, a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz.
Com a ação em Peshawar, o Talibã se ombreia às mais sanguinárias organizações terroristas, como o Estado Islâmico (EI). Grupos como esses são as mais graves ameaças à civilização desde o fim da Guerra Fria. É imperioso que a comunidade internacional os combata, sem deixar de fazer uso dos instrumentos multilaterais da ONU.
Mais este covarde ataque terrorista — uma redundância — serve de lição à diplomacia companheira que domina o Itamaraty há 12 anos, seguidora de princípios toscos, como a de considerar do “bem” toda força política antiamericanista. Daí a vergonhosa omissão — mais uma — da diplomacia brasileira quando entrou na pauta da ONU o problema da milícia sectária e ultraviolenta do EI. Em prol da ilusória possibilidade de conversações com sectários decapitadores, o Brasil foi contra o aval da organização a ataques ao grupo. 
Pois os talibãs que atacaram a escola no Paquistão fazem parte da mesma cepa sectária do EI. E também são inimigos dos EUA. O Itamaraty encaminhará alguma moção a Islamabad na defesa de entendimentos diplomáticos com os assassinos de crianças?

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