Talibã e aliados são ameaça à civilização
Quando se requer uma frente unida
internacional contra grupos de fanáticos, o Brasil destoa com uma
diplomacia que insiste no diálogo com facínoras
O Globo
Há muitas famílias de luto no Paquistão. Num dos mais brutais atentados
de que se tem notícia, um comando do grupo fundamentalista islâmico
Talibã do Paquistão atacou o Colégio Público Militar em Peshawar, onde
estudam 2.500 alunos, muitos filhos de militares. Mais de 130 crianças
foram covardemente assassinadas e o número total supera os 145, se
incluídos professores e funcionários.
O complexo Paquistão é frequentemente sacudido por atentados. O
Talibã paquistanês, uma coalizão de cerca de 30 grupos militantes e
aliado da al-Qaeda, opera a partir das áreas tribais na fronteira com o
Afeganistão. É uma filial do Talibã que governou o Afeganistão de 1996 a
2001 e fez o país retroceder alguns séculos ao pôr em prática uma
interpretação obscurantista do Islã. O atentado em Peshawar foi
justificado como retaliação às operações que o Exército do Paquistão tem
realizado nas áreas de fronteira com o Afeganistão e que teriam
resultado na morte de 1.800 militantes.
O fundador do Talibã paquistanês foi o jihadista Baitullah Mehsud,
morto por um drone americano em 2009. O número de graves atentados
cometidos pelo grupo no país é grande demais para listar. Suspeita-se,
por exemplo, que ele esteve por trás do ataque suicida que matou a
ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, em 2007. Em 2012, um membro do
grupo atirou na cabeça de Malala Yousafzai, uma estudante paquistanesa
militante pelos direitos das jovens no país. Malala sobreviveu e se
tornou símbolo da luta contra o mundo de trevas a que o grupo condena as
mulheres. Aos 17 anos, ela se tornou, na semana passada, a mais jovem
ganhadora do Prêmio Nobel da Paz.
Com a ação em Peshawar, o Talibã se ombreia às mais sanguinárias
organizações terroristas, como o Estado Islâmico (EI). Grupos como esses
são as mais graves ameaças à civilização desde o fim da Guerra Fria. É
imperioso que a comunidade internacional os combata, sem deixar de fazer
uso dos instrumentos multilaterais da ONU.
Mais este covarde ataque terrorista — uma redundância — serve de
lição à diplomacia companheira que domina o Itamaraty há 12 anos,
seguidora de princípios toscos, como a de considerar do “bem” toda força
política antiamericanista. Daí a vergonhosa omissão — mais uma — da
diplomacia brasileira quando entrou na pauta da ONU o problema da
milícia sectária e ultraviolenta do EI. Em prol da ilusória
possibilidade de conversações com sectários decapitadores, o Brasil foi
contra o aval da organização a ataques ao grupo.
Pois os talibãs que atacaram a escola no Paquistão fazem parte da
mesma cepa sectária do EI. E também são inimigos dos EUA. O Itamaraty
encaminhará alguma moção a Islamabad na defesa de entendimentos
diplomáticos com os assassinos de crianças?
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