Caso Nisman invade as eleições presidenciais da Argentina
Francisco Peregil - El País
AP
Mirando pleito, Massa, Macri e Scioli não querem apoiar a tese de suicídio do promotor
A bala que matou Alberto Nisman se incrustou na corrida eleitoral para a Casa Rosada com consequências imprevisíveis. Seja suicídio ou assassinato, o caso do promotor argentino que morreu quatro dias depois de acusar a presidente pôs em destaque as operações obscuras da SI (Secretaria de Inteligência).
Enquanto os três candidatos
favoritos para as eleições presidenciais de 25 de outubro criticam o
órgão, a presidente Cristina Kirchner foi além. Longe de assumir a
responsabilidade pelas operações do órgão, a chefe do Executivo se colocou como vítima de seu próprio serviço de inteligência.A bala que matou Alberto Nisman se incrustou na corrida eleitoral para a Casa Rosada com consequências imprevisíveis. Seja suicídio ou assassinato, o caso do promotor argentino que morreu quatro dias depois de acusar a presidente pôs em destaque as operações obscuras da SI (Secretaria de Inteligência).
Na segunda-feira (26), declarou que desde 2013, quando assinou um acordo com o Irã para resolver o atentado contra a Amia (Associação Mutual Israelita da Argentina), foi objeto de muitas denúncias e deu a entender que foram forjadas na SI, com a cumplicidade de promotores, juízes e jornalistas.
A oposição criticou a decisão de Kirchner como improvisada e oportunista. Depois de quase oito anos no governo e faltando dez meses para que termine seu mandato, a presidente parece ter chegado à conclusão de que a reforma do serviço secreto era uma dívida inadiável que a democracia argentina tinha desde 1983.
Na segunda-feira à noite, anunciou um projeto para dissolver a SI e transformá-la em uma Agência Federal de Inteligência. Diferenças, fora o nome? Para ela, todas: seus dois responsáveis máximos serão escolhidos pelo Executivo, como agora, mas referendados pelo Senado, onde o kirchnerismo possui maioria absoluta; permanecerão quatro anos no cargo e o sistema de escutas telefônicas não dependerá mais do Executivo, e sim da promotoria.
Na oposição, afirma-se que só muda o nome do órgão porque tanto a promotoria geral como o Senado respondem às ordens da presidente. A única coisa que Kirchner pretende, segundo vários deputados de oposição, é impor ao presidente que a suceder um diretor do serviço secreto escolhido por ela.
Os candidatos
Daniel Scioli, governador peronista da província de Buenos Aires; Sergio Massa, deputado da Frente Renovadora, e Mauricio Macri, chefe de governo da cidade de Buenos Aires, são os políticos com mais probabilidades de suceder a Kirchner, segundo as pesquisas.A morte de Nisman obrigou os três a reformularem suas agendas. Scioli já declarou, na semana passada, que é preciso "repensar as estruturas, o funcionamento" do serviço secreto. Massa, um kirchnerista que decidiu passar à oposição há um ano para concorrer às presidenciais com partido próprio, anunciou ontem que se apresentaria como litigante da causa, para que "a sociedade se sinta representada".
A resposta da Casa Rosada foi peremptória. O secretário da Presidência, Aníbal Fernández, tuitou: "Sergio Massa: você é muito grosso e mau caráter. Deveria saber que só os particulares prejudicados podem ser parte litigante ou... associações por crimes de lesa-humanidade. Você não tem recato nem respeito pelas 85 vítimas e mais de 200 feridos".
Colaboradores de Massa informaram depois que a situação foi ocasionada por um "erro de comunicação" e que o que ele pretende é se apresentar como querelante na causa que investiga a presidente por suposto encobrimento de terroristas.
Macri, candidato do opositor PRO, é o que critica mais abertamente o serviço secreto, embora ele mesmo esteja sendo processado em um caso de escutas ilegais: "O serviço de inteligência", declarou há poucos dias, "tem de estar a serviço dos interesses da nação, e não de um partido nem contra outros dirigentes, como me coube sofrer esse sistema na causa das escutas".
Quanto à reforma anunciada pela presidente, Macri disse que a SI não se transformará com uma mudança de nome, senão de política. Macri pediu que se continue investigando a denúncia de Nisman contra Kirchner, embora juristas de prestígio prevejam que não avançará, porque não identificam crime nas acusações.
Morte
A atenção da mídia se concentra nas circunstâncias da morte do promotor. Os candidatos presidenciais deverão se pronunciar sobre isso conforme a investigação avançar.Embora os primeiros relatos da autópsia indiquem suicídio, nenhum candidato quer apoiar essa tese.
As pesquisas revelam que a maioria dos cidadãos não acredita no suicídio de Nisman. E nenhum candidato à presidência quer contradizer a opinião pública.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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