sábado, 3 de janeiro de 2015

François Hollande e a arte do boxe
Gérard Courtois - Le Monde
"Intenso e difícil": foi assim que o presidente da República definiu, na noite de 31 de dezembro de 2013, o ano que chegava ao fim. Passado um ano, que adjetivos ele escolherá para resumir 2014 em seu discurso de fim de ano para os franceses? Inextricável e deprimente, ou duro e desastroso? O difícil será escolher, pois tantas coisas não se passaram como ele esperava.
É verdade que o pacto de responsabilidade, proposto então às empresas, foi moldado e aprovado pelo Parlamento, e deverá começar a produzir seus efeitos benéficos.
É verdade que a lei sobre a transição energética fincou as bases de uma sociedade mais contida na emissão de carbono e até mesmo em melhores condições para o combate ao aquecimento climático. Por fim, a "nova lei de descentralização", também anunciada um ano atrás, ao menos levou à reforma do mapa da França, ainda à espera do esclarecimento das novas jurisdições.
Mas, quanto ao resto, o voluntarismo de François Hollande se deparou com a dura realidade. A urgente "luta pelo emprego" terminou com um aumento de 181 mil pessoas à procura de emprego sem nenhuma atividade nos onze primeiros meses do ano, levando o número de desempregados da categoria A na França metropolitana para quase 3,5 milhões.
E a redução dos gastos públicos, também elevada a causa nacional? Apesar dos esforços proclamados, e para desgosto de nossos parceiros europeus, o governo não conseguiu reduzir nem o déficit público (4,4% do PIB esperado em 2014, ante 4,3% em 2013) nem a dívida pública, que ultrapassou a marca astronômica de 2 trilhões de euros no outono.
O balanço foi igualmente negativo no campo político. O chefe do Estado esperava conter os danos nas eleições municipais de março, mas elas foram desastrosas para a esquerda e obrigaram o presidente a trocar de primeiro-ministro. Da mesma forma, ele esperava que as eleições europeias de maio fossem a oportunidade para refutar "aqueles que negam o futuro da Europa, querem voltar às antigas fronteiras e abandonar o euro".
Todos sabem o que aconteceu: a Frente Nacional se exibindo com 25% e um Partido Socialista arrasado. Em setembro, a periclitante maioria senatorial de esquerda virou oposição. Por fim, a ação do governo foi constantemente contestada pela revolta de alguns pelotões de deputados socialistas, convictos de que a política econômica atual é ineficaz e nociva.

O chefe do Estado "apanha"

O próprio François Hollande pagou caro por sua incapacidade de iniciar a recuperação do país prometida em 2012. Nunca um presidente havia passado por tamanho descrédito: grosso modo, apesar de uma ligeira melhora nos últimos dois meses, quatro entre cada cinco franceses não confiam mais nele.
Ele queria uma República "exemplar", mas em 2014 ele foi obrigado a afastar dois de seus conselheiros e dois ministros inescrupulosos. Ele pretendia encarnar um presidente "normal", mas sua vida privada foi escancarada por revistas sensacionalistas e pelos testemunhos comprometedores de sua ex-companheira.
Enfim, há um ano o chefe do Estado vem "apanhando". Mas ele o faz com aparente serenidade, o que diz muito sobre sua combatividade. Como um boxeador mais técnico do que golpeador, ele tem certeza de que, mesmo acuado nas cordas do ringue, cambaleante e prestes a ser nocauteado, sempre é possível tomar a "iniciativa", "avançar" e "ganhar", segundo o vocabulário pugilístico empregado durante sua breve passagem por Saint-Pierre-et-Miquelon, na semana passada.
Essa é evidentemente sua intenção para 2015. Protegido pelas instituições, ele quer aproveitar toda oportunidade possível para mostrar que não perdeu nada de sua vivacidade e de sua habilidade, assim como ele fez invariavelmente nas últimas semanas com seus diversos encontros, visitas-surpresa e gestos simbólicos. Em suma, quer recuperar o sentido "da conquista, da dinâmica, do movimento". Aquele que especular sobre seu cansaço e sua possível desistência de se recandidatar em 2017 sairá decepcionado.
No entanto, não faltarão desafios. Políticos, primeiramente. Todas as previsões apontam para uma nova derrota da esquerda em março nas eleições departamentais, ainda mais brutal pelo fato de que, pela primeira vez, os conselhos gerais não serão renovados pela metade, mas sim integralmente. Após a erosão da base municipal em 2014, é a poderosa rede dos domínios departamentais da esquerda que corre o risco de ser desmantelada.
Como as mesmas causas produzem os mesmos efeitos, ou até efeitos cumulativos, a eleição regional de dezembro promete ser igualmente devastadora. E, para piorar as coisas, o Partido Socialista marcou seu próximo congresso para junho: mais ainda do que durante as escaramuças dos últimos meses, a solidez da maioria será então submetida a fortes turbulências, caso os rebeldes consigam se juntar para contestar a orientação econômica estabelecida pelo chefe do Estado.
Em segundo lugar, os desafios econômicos. É verdade que a análise de conjuntura do Insee permite que se espere uma melhora. A queda do preço do petróleo (que alivia os gastos com energia), a queda do euro (que favorece as exportações), uma taxa de juros excepcionalmente baixa (que estabiliza o montante da dívida), os primeiros efeitos significativos do crédito de imposto para a competitividade e o emprego e do pacto de responsabilidade, tudo isso contribui para dar credibilidade à previsão de 1% de crescimento em 2015, após três anos de quase estagnação. Mas isso não bastará para conter nem o aumento do desemprego, nem o do endividamento.
Ora, os franceses julgam o chefe do Estado pelo primeiro, e Bruxelas pelo segundo. Então será preciso que essas previsões sejam confirmadas no próximo ano e sejam amplificadas em 2016, para que ele possa esperar se recandidatar com um balanço razoavelmente convincente.
Por fim, François Hollande não está sozinho no ringue. Independentemente do que digam ou pensem, seus principais adversários estão longe de estar com a partida ganha. Por enquanto, a volta de Nicolas Sarkozy à liderança da UMP não desencadeou a dinâmica irresistível esperada pelo ex-presidente, muito menos o trabalho de reforma radical da direita, indispensável após dois anos de turbulências.
Quanto à presidente da Frente Nacional, nem seus sucessos eleitorais, nem sua presença local, nem as adesões heterogêneas que ela registra bastam para mostrar que ela seria capaz de governar o país futuramente. É o suficiente para convencer o chefe do Estado de que as coisas ainda podem melhorar em 2015 e além. 

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